A ineficiência da operação do aeroporto Humberto Delgado chegou ao limite, alertou o presidente executivo da TAP, Antonoaldo Neves, realçando que, desta vez, a TAP corre o risco de parar de crescer por não ter condições para aumentar a sua operação em Lisboa, nem garantias de eficiência da infraestrutura aeroportuária que permitam assumir novos compromissos com mais aviões e com a contratação de tripulações para operar esses novos aviões. “A TAP não é a pior companhia de aviação porque a TAP funciona bem, mas o aeroporto de Lisboa é certamente um dos piores que existem”, queixou-se Antonoaldo Neves durante a apresentação de resultados da empresa.
Trata-se de um problema que parece não ter solução a curto prazo, atendendo a que a TAP terá de abrir mão de 1.500 voos que já não conseguirá realizar no próximo verão, por incapacidade operacional do aeroporto de Lisboa, impossibilitado de atribuir novos slots aos aviões da TAP. Mesmo perante a hipótese de solução mais favorável à TAP, se este problema fosse hoje mesmo resolvido a contento da transportadora aérea – e não com base nas obras que a ANA pretende fazer no aeroporto Humberto Delgado.
Antonoaldo Neves, explicou ao Jornal Económico que essas obras “não resolvem nada à TAP”, sublinhando que “se hoje mesmo o Governo autorizasse a realização das obras que a TAP precisa para o aeroporto Humberto Delgado, os problemas que a companhia aérea enfrenta atualmente continuariam a penalizar a sua atividade” por mais dois anos, porque as obras em causa demoram tempo e não se conseguem concretizar da noite para o dia.
“A TAP tem mantido o diálogo com todas as partes relacionadas com os projetos de infraestruturas que prevêem alterações no aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa. Temos mantido diálogo com a concessionária Vinci-ANA, com a NAV, e com o Ministério das Infraestruturas. Ou seja, temos promovido o diálogo”, comentou ao JEo CEO da TAP. Embora várias declarações públicas sobre este assunto tenham vindo a subir de tom, Antonoaldo Neves desvaloriza esse “detalhe”, admitindo que “todos os envolvidos querem resolver os problemas de forma razoável”. “São só declarações. Na realidade as equipas trabalham juntas, há diálogo e este estudo da consultora PASSUR – que custou 500 mil dólares à TAP – solicitado por nós, nem sequer poderia ter sido feito sem diálogo. Agora, o que falta é uma decisão. Isso é diferente”, diz Antonoaldo Neves. “Ou seja, não conhecemos uma decisão sobre as obras das alterações a realizar nas pistas do aeroporto da Portela. E eu preciso de datas para saber quando começam e acabam essas obras, para poder organizar a atividade dos aviões da TAP no aeroporto Humberto Delgado”, afirma o CEO da TAP.
“Com datas, eu consigo trabalhar. Quando se diz que a TAP vai ter mais slots, eu só pergunto ‘quando’? Preciso de saber isso para poder trabalhar. A TAP precisava de ter tido as obras prontas há dois anos atrás, porque os aviões levam tempo a chegar e nós esperámos que nos fossem comunicadas datas o mais rapidamente possível”, adianta.
“São informações simples: quando aumentam os slots na Portela?; quando pretendem iniciar a saída rápida da pista da Portela, mas feita com obras que realmente permitam que essa saída rápida funcione e seja utilizada com eficácia pelos aviões, para podermos aumentar os slots; também preciso de saber a data em que estas obras possam estar concluídas; e a data em que vão fazer a extensão do taxiway que viabilize o aumento dos slots?; tal como a data de quando vamos ter prontas as obras dos estacionamentos para podermos parquear os aviões. É tudo simples. Nada complexo. Pode ser que existam as datas que refiro, mas eu não conheço essas datas. Pode ser que existam, mas eu não as tenho”, refere Antonoaldo Neves.
Constrangimento de dois anos
Agora, o problema incontornável que a TAP está a enfrentar é que nenhuma dessas obras se faz em quatro ou cinco meses. “Isso é um programa de obras no aeroporto que implica um cronograma com várias etapas. Pela experiência que tenho como engenheiro civil – e trabalhei muito em aeroportos – admito que isto seja um programa para dois anos de obras. Isso, se as obras começarem hoje”, sublinha o CEO da TAP.
Ou seja, a TAP vai enfrentar sempre um constrangimento mínimo de dois anos na viabilidade de investir e fazer crescer a sua operação, com mais aviões, mais pessoal de bordo, mais slots no aeroporto Humberto Delgado e mais passageiros transportados de novas rotas. É isso? “Sim, a TAP vai ter sempre um constrangimento de dois anos, o que é uma pena para Portugal e para o investimento concretizado no desenvolvimento do país”, confirma ao JE.
Esta semana a TAP voltou a apresentar prejuízos, relativos ao exercício de 2019, com o grupo a atingir os 105,6 milhões de euros negativos – entre os quais se destacam os prejuízos da TAP S.A., que ascenderam a 95,6 milhões de euros negativos.
Isto faz com que a empresa gerida por Antonoaldo Neves se tenha aproximando-se novamente dos prejuízos de 118 milhões de euros que marcaram o desempenho da companhia em 2018.
O ano de 2019 foi marcado pelo investimento acrescido da TAP no respetivo processo de renovação da frota de aviões, que ultrapassou os 1,5 mil milhões de euros com a entrada de 30 novos aparelhos.
A favor da gestão de Antonoaldo Neves está o esforço de investimento que a TAP realizou em 2019 para receber 30 novos aviões, renovando cerca de 70% da frota de longo curso num período de 12 meses, o que permitiu à TAP concluir 2019 com uma das frotas mais jovens entre as principais companhias concorrentes, inaugurando onze rotas que mantém em operação, com mais 900 trabalhadores para dar resposta às solicitações dos clientes acrescidos.
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