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Apenas 9% dos trabalhadores pode desempenhar em pleno as funções em teletrabalho, estima ex-Secretário de Estado

Potencial do teletrabalho é de 63% em trabalhadores que recebem mais de dois mil euros, contra 18% naqueles que recebem o salário mínimo, segundo Pedro Martins, ex-Secretário de Estado do Emprego. Ao JE, o economista diz que duração prolongada das medidas de contenção terá impacto “não só no desemprego como também no aumento da desigualdade”.
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30 Março 2020, 08h05

Apenas 9% dos trabalhadores do setor privado pode desempenhar de forma plena as funções em teletrabalho, contra 26% que o poderão fazer de forma significativa, segundo uma estimativa de Pedro Martins, antigo Secretário de Estado do Emprego no e professor na Queen Mary University of London. Ao Jornal Económico, o economista salienta ainda a relação positiva entre o potencial de teletrabalho e o nível de qualificação das profissões.

Numa análise sobre o potencial do teletrabalho entre as 200 profissões que representam o maior número dos empregados no setor privado no país, excluindo assim a função pública, Pedro Martins conclui que 54,4% dos trabalhadores tem um potencial de teletrabalho muito baixo, 10% tem um potencial baixo, 26,4% tem um potencial significativo e 9% tem um potencial elevado.

O economista criou quatro categorias para esta análise baseadas no entendimento “que havia uma perspetiva forte de a profissão ser desempenhada com autonomia fora da empresa classifiquei com o valor máximo; quando entendi que era praticamente impossível desempenhar a profissão nesse contexto classifiquei com o valor mínimo; utilizei ainda duas categorias intermédias”, explica ao JE.

A classificação das categorias divide-se entre profissões com potencial de teletrabalho “muito baixo” – as principais cinco profissões nesta categoria, em termos do número de trabalhadores que as desempenham, são trabalhadores de limpeza, empregado de mesa, vendedor em loja, empregado de armazém, e motorista de veículos pesados; profissões com potencial de teletrabalho “baixo” (operador de máquinas de costura, padeiros, empregado de serviços de apoio à produção, outros trabalhadores de montagem, e diretor e gerente de restauração; profissões com potencial de teletrabalho “significativo” – empregado de escritório, outros trabalhadores relacionados com vendas, diretor e gerente de outros serviços, diretor geral e gestor executivo, diretores e gerentes do comércio; e profissões com potencial de teletrabalho “elevado” – contabilista, técnicos administrativos de contabilidade, secretário administrativo e executivo, operador de serviços financeiros, analista em gestão e organização.

Potencial do teletrabalho é maior em profissões com salários mais elevados

No retrato sobre o potencial do teletrabalho em Portugal, o ex-Secretário de Estado do Governo de Pedro Passos Coelho também sublinha, ao JE, “a relação positiva entre o potencial de teletrabalho e o nível de qualificação/sofisticação da profissão, sem prejuízo de várias exceções importantes”.

Segundo estima, 18% dos trabalhadores com salário mínimo ou inferior (trabalho a tempo parcial ou aprendizes) desempenham funções com potencial de teletrabalho, face a 63% para trabalhadores com dois mil euros ou mais por mês de remuneração base.

“É uma relação preocupante no contexto atual do Covid19. Se viermos a ter as medidas atuais de distanciamento social/físico por muito tempo, o impacto pode ser muito grande não só no desemprego como também no aumento da desigualdade”, assinala.

É também neste sentido que destaca, na análise que divulgou, “uma relação positiva muito forte entre o nível de escolaridade e o potencial de teletrabalho: apenas 17% para os trabalhadores com o ensino básico desempenham profissões com potencial de teletrabalho. Esta percentagem aumenta para 61% entre os trabalhadores com ensino superior”.

Questionado sobre a produtividade da empresa do trabalhador e o potencial de teletrabalho, o economista diz que “a relação é positiva mas não muito acentuada, talvez por causa da diversidade de profissões dentro de cada empresa”.

No entanto, é do ponto de vista dos setores de atividade que identifica mais discrepância. “Por exemplo, as atividades de informação e de comunicação apresentam um indicador de potencial de teletrabalho de 88%, enquanto que o alojamento e a restauração, a agricultura, e os transportes apresentam valores abaixo de 20%”, exemplifica, no estudo, acrescentando que o valor mais baixo, de 10%, se encontra no caso do alojamento e restauração, que representa mais de 250 mil empregados.

Identifica ainda que “os trabalhadores de nacionalidade portuguesa ou com contratos permanentes tendem a estar em profissões com maior potencial de teletrabalho que trabalhadores de nacionalidade estrangeira ou com contratos a termo, respetivamente”.

Já num retrato sobre as faixas etárias, assinala que “o potencial de teletrabalho tende a ser mais baixo tanto entre os mais jovens como entre os mais velhos, atingindo o seu valor mais elevado para aqueles com entre 30 e 40 anos de idade”, num cenário que considera estar “relacionado com a dificuldade dos jovens, apesar de em geral terem mais escolaridade, em desempenharem profissões mais qualificadas. Grande parte das profissões de entrada no mercado de trabalho são ainda menos qualificadas e, nessa medida, têm menor perspetivas de teletrabalho”.

Relativamente aos géneros, considera que “o potencial de teletrabalho é ligeiramente mais elevado entre as mulheres que os homens”.

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