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Forall Phones vendida a investidor privado português com ligações à China

Empresa alavancou o negócio dos recondicionados, em Portugal, em menos de cinco anos. Startup estimulou a entrada de empresas como a Worten e Fnac no mercado dos aparelhos semi-novos. Em 2019, volume de negócios ascendia aos oito milhões. Para resistir à concorrência, Forall Phones precisava de mais investimento. Fundador, de apenas 24 anos, vendeu agora empresa a investidor privado.
  • Fundador da Forall Phones e da imobiliária Relive, José Costa Rodrigues
16 Dezembro 2020, 08h17

O fundador e até agora líder da Forall Phones, José Costa Rodrigues vendeu a empresa de equipamentos recondicionados da marca Apple, criada em 2015, a um investidor privado português com ligações à China. A operação foi anunciada na terça-feira e contempla também a venda da participação do sócio Manuel Castel-Branco. Devido aos termos de confidencialidade do negócio, o nome do investidor ou o montante da transação não são ainda conhecidos.

“Assinei oficialmente a venda da Forall Phones. Hoje, com o sentimento de missão cumprida, despeço-me de um projeto muito querido, que iniciei aos 19 anos”, escreveu o jovem empresário de 24 anos nas redes sociais.

A Forall Phones foi criada há cerca de cinco anos, quando “não existia um negócio de revenda de tecnologia usada, em Portugal”. Desde então a empresa não parou de crescer e tornou-se num símbolo do mercado de recondicionados, em Portugal, segundo contou Costa Rodrigues ao Jornal Económico. Em 2019, volume de negócios ascendia s oito milhões de euros. E, desde 2015, as vendas da Foral Phones totalizam “cerca de 20,5 milhões de euros”. Foi, precisamente, o crescimento contínuo da empresa que ditou a necessidade da sua venda.

Costa Rodrigues defende que até à criação criação da empresa de equipamentos recondicionados da marca Apple, o mercado de venda de iPhones ou iPads em segunda mão exista apenas num plano “secundário, em plataformas como a OLX”, sem marcas de referência, legislação ou controlo de qualidade dos produtos.

“Quando nós aparecemos, o mercado foi tomando forma e criámos uma marca forte”, disse. Resultado? “A empresa cresceu muito, rápido e chegou muito depressa ao primeiro milhão nas vendas”. Esse crescimento fez com que o empresário sub-30 tivesse de encontrar um gestor “com experiência no ramo das telecomunicações e em gestão, que pudesse ajudar no dia a dia” e orientar a empresa na sua rápida trajetória de crescimento.

“Conseguimos contratar um gestor e, depois, controlamos o negócio, com margens e rentabilidade. Entretanto todos quiseram um pedaço dos recondicionados – Worten, Fnac, a Phone House, a Rádio Popular etc.”, contou. Ou seja, o mercado dos recondicionados consolidou-se e a pequena empresa, criada a partir de Ourém (concelho do distrito de Santarém) e que “a certa altura já contava com 70 ou 80 pessoas”, começou a enfrentar a concorrência dos grandes players nacionais da distribuição tecnológica. Isto em menos de cinco anos.

“Todos eles falaram comigo antes de entrarem neste mercado”, revelou o empresário. No decorrer do ano de 2019, a Worten e a Fnac compraram empresas especializadas em reparação de equipamentos eletrónicos – a iServices e a PC Clinic, respetivamente. “Obviamente, o mercado estava a crescer e a Forall, para continuar a ter uma palavra a dizer e continuar como a líder dos recondicionados, em Portugal, precisava também de se consolidar para ter força e batalhar”. Assim, perante a o aumento da competitividade neste mercado, José Costa Rodrigues percebeu que o próximo passo passava por encontrar alguém com maior capacidade de investimento, para ajudar a empresa a enfrentar a concorrência de companhias de dimensão superior.

O investidor pretendido poderia ter chegado em março, deste ano, dias antes da pandemia da Covid-19 se instalar em Portugal. “No final de 2019, tivemos uma empresa portuguesa muito grande, cotada em bolsa, em conversas bastante aprofundadas para adquirir a Forall”, revelou o jovem empresário. O comprador iria incorporar a Forall Phones, tornado-a “complementar” ao seu core business.

“Estávamos a dar lucro – só em dezembro vendemos 1,5 milhões de euros – e fomos abordados. O negócio já estava em fase de avaliação da empresa e de ofertas, em março. Mas o negócio foi interrompido”, acrescentou.

Tardou, mas o fundador fechou esta semana a venda da primeira empresa que criou. Costa Rodrigues e o seu sócio Manuel Castel-Branco venderam a Forall Phones a “um investidor privado português com muitos anos no ramo das telecomunicações e da distribuição de equipamentos eletrónicos [sourcing, produção e distribuição] nas grandes superfícies, que faz o negócio como parceiro local chinês.

O comprador traz para a Forall Phones conhecimento do mercado, “mas também muito capital”. “E é isso que a Forall precisa para lutar com os concorrentes”, salientou o jovem gestor. Com exceção das saídas dos empresários José Costa Rodrigues e Manuel Castel-Branco, o novo dono da empresa “vai manter a equipa de gestão e a marca”. “Não vão existir mudanças estruturais visíveis”, disse.

José Costa Rodrigues criou  a Forall Phones com 19 anos, tendo liderado a empresa até ao verão de 2019. Manteve-se até agora como acionista e membro da administração. Atualmente, a Forall Phones conta com cerca de 50 trabalhadores, operando em seis espaços físicos.

Futuro de jovens empresários passa pelo imobiliário e mobilidade
“A história da Forall foi bonita e será agora bonita com o novo investidor, mas temos de olhar para a frente e agora a minha história é com a Relive”, escreveu Costa Rodrigues nas redes sociais.

Questionado pelo futuro enquanto empresário, José Costa Rodrigues disse que vai focar-se na Relive, a imobiliária digital que fundou este verão.

“A Uber transformou a mobilidade, a Revolut transformou a banca, o Airbnb transformou o alojamento. Mas no imobiliário continua tudo igual. Acho que há oportunidade, tal como se faz nos EUA ou em França, tornar a experiência de compra, venda ou arrendamento mais digital. Obviamente que para comprar uma casa temos de ir vê-la, mas há uma série de processos e burocracias que podem ser feitos online. Estamos a surfar um bocadinho essa onda”, contou.

Já o jovem gestor Manuel Castel-Branco, que era sócio e administrador financeiro da Forall Phones e que também sai da empresa, vai ingressar na Bolt, operador de mobilidade presente em Portugal desde janeiro de 2018.

“Agradeço muito a toda a incrível equipa de Forall que tornou isto possível. Em especial ao meu sócio José Costa Rodrigues por me ter trazido para esta aventura. Para mim, será agora o início de um novo desafio na Bolt”, escreveu nas redes sociais.

[Informação atualizada com o post de Manuel Castel-Branco]

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