Ficou claro durante a mesa redonda que teve lugar no âmbito da Future Summit – uma organização da AEP, AIMMAP e CEIIA – que a indústria nacional tem, nesta fase de regresso da importância do setor da Defesa, uma oportunidade única. Não apenas de desenvolvimento, mas principalmente de desenvolvimento pelo lado ‘bom’: pelo aumento do VAB, pela participação em cadeias de abastecimento e industrialização eficazes, e pela aposta na inovação concorrencial, através da junção da universidade e dos centros tecnológicos.
Isabel Furtado, presidente do Conselho de Administração do CEIIA, chamou a atenção para que, “esperando que ninguém caia no erro de ficarmos focados no preço”, “temos de ter em vista a soberania”. “Vamos ser realistas: se a Europa quer mesmo abastecer a sua defesa pela reindustrialização, há uma espécie de revolução que é necessário fazer.”
Chamando a atenção para o facto de “não termos um exército europeu, mas sim 27 exércitos locais, precisamos de uma plataforma global e, nesse quadro, Portugal pode ganhar massa crítica”, Furtado enfatizou que “temos que nos aliar aos melhores, criar valor acrescentado e integrar as universidades aos centros tecnológicos”.
Já Paulo Rios Oliveira, administrador da AICEP, defendeu que “ou entramos na velha postura e não vamos a jogo, ou aceitamos que temos vantagens competitivas. Temos grande capacidade de inovação e somos concorrenciais quando a inovação é mais necessária.” Mas deixou uma nota fundamental: “É evidente que isto não é para corredores solitários. É para ser feito em conjunto” – e, nesse contexto, “há uma importância acrescida das associações e dos clusters que importa envolver” no setor da Defesa.
Rios Oliveira salientou que “compete ao Estado ter uma estratégia clara”. Aliás, “a maior responsabilidade é do Estado: ajudar a gerar eficácia, eliminando custos de contexto”, num quadro em que “a posição geoestratégica de Portugal é também essencial”. “Há uma oportunidade para Portugal: somos criativos e não temos medo de inovar e de concorrer.” “Há uma conjugação de vontade para a criação de parcerias. A parte pública deve fazer a sua parte: tem de ajudar as empresas a não tropeçar nas próprias regras. Há uma urgência que transfere oportunidades para as empresas portuguesas.”
Rafael Campos Pereira, vice-presidente executivo da AIMMAP, considerou que “a metalurgia fez ao longo dos anos algumas revoluções silenciosas, que fizeram triplicar as exportações no espaço de 15 anos. São referências para o automóvel, para a energia, etc. E já estamos na área da Defesa; temos alguns licenciados pelas forças armadas francesas, mas também pela própria NATO.” Exemplificou: “Não fazemos munições, mas fazemos componentes de mísseis. O mais exigente que existe em termos mundiais, estamos lá.”
Campos Pereira chamou a atenção para a burocracia europeia: “Temos de trabalhar de forma coesa e articulada para chegarmos a centros de decisão importantes, como por exemplo no caso da NATO”, sendo essencial que “o Estado ajude a desbloquear os custos de contexto”. Para todos os efeitos, concluiu, há no setor da Defesa “oportunidades de negócio muito grandes”.
Finalmente, Fernando Sousa, CEO da CEI/Zipor, referiu que “a metalomecânica e o têxtil já estão ligados à defesa. O melhor exemplo é perceber as dezenas de empresas que já estão no setor.” “Todos temos de nos preocupar com este tema”, que já está a ser seguido por várias organizações de feiras e certames. E lembrou: “Temos de ouvir os clientes, que são os militares.” Uma nota final: “Temos que nos preocupar em produzir na Europa – já não é capital estrangeiro vindo para a Europa. Tem de ser capital europeu.” Como também, evidentemente, com empresas europeias.
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