O mundo foi colocado em teletrabalho no passado mês de março e desde então que também o período escolar regressou, sendo realizado através da Telescola para os alunos entre o primeiro e o nono ano de escolaridade, e de outras plataformas tecnológicas para os alunos do 10º ao 12º ano de escolaridade.
Com o planeta cada vez mais tecnológico, também a educação e a formação podem ser dadas à distância de um clique, com o recurso às plataformas que viram o número de assinantes e utilizadores aumentar em mais de 500%, como é o exemplo do Zoom e do Teams criado pela Microsoft.
O ensino à distância já é uma realidade para alguns alunos que não conseguem marcar presença nas aulas presenciais, como é o exemplo de alguns que desistiram e mais tarde retomaram a escolaridade para obter melhores oportunidades de emprego. A Universidade Aberta é, até à data, a única universidade portuguesa que dispõem de cursos lecionados à distância.
Devido à pandemia da Covid-19, as plataformas de ligação viram um crescimento exponencial com as aulas à distância. Desde março que o Zoom registou um aumento de dois mil por cento em termos de utilização, enquanto o Teams cresceu 37% até meio de março. Com o sucesso destas plataformas colaborativas – e apesar das alegações de roubo de informação – a Google e o Facebook decidiram criar os seus próprios sistemas de reunião. A Google melhorou o Meet, sendo que o Facebook apostou Messenger Rooms para reuniões e conversas em vídeo para os amigos e colegas.
Sandra Martinho, diretora de Educação e Filantropia da Microsoft Portugal, sustenta que a tecnologia se tornou um veículo para a democratização da educação, uma vez que com a Internet existe um “acesso ilimitado à informação”. Por sua vez, o diretor-executivo da Codevision, Marco Coelho, aponta que o setor da educação tem estado a tirar cada vez mais partido da tecnologia, com os professores e alunos a adaptarem-se a uma realidade que se foi tornando real nas últimas semanas.
Uma das grandes críticas que este ensino à distância tem gerado é que nem todos os alunos portugueses têm acesso a material tecnológico, onde consigam acompanhar as aulas e fazer todos os trabalhos que necessitam para a sua formação. Mais de 200 mil alunos portugueses não têm acesso a meios digitais e estão a ser prejudicados pela pandemia de Covid-19 não estando em pé de igualdade perante os seus colegas. Por tal ainda acontecer, em pleno século XXI, algumas autarquias e municipios estão a distribuir equipamento tecnológico aos alunos que não dispõem do mesmo, ajudando-os a enfrentar a pandemia com a tecnologia atual.
Entre as (des)vantagens
O Jornal Económico falou com alguns alunos da Escola Secundária D. Dinis, em Lisboa, que atualmente se encontram na última fase do ensino secundário e estão a ter aulas à distância enquanto se preparam para os exames nacionais pelo mesmo método.
Os alunos que frequentam o curso de Humanidades apontam vantagens e desvantagens neste método de ensino. “Existe uma facilidade de utilização de áudio e imagem nas videoconferências”, confidencia um aluno, enquanto uma colega aponta que este método de ensino corta o diálogo devido à Internet apresentar falhas de ligação.
“Existem muitas distrações. Se nas aulas não podemos ter os telemóveis, à distância já é diferente. Muitas vezes, por estarmos ao telemóvel, não percebemos o que o professor está a explicar”, refere uma aluna da mesma turma do 12º ano, sustentando ainda o facto da avaliação ser bastante diferente, uma vez que não existem testes e que as avaliações “são feitas à base dos trabalhos entregues nas plataformas da escola”.
Também os alunos das universidades acusam as desvantagens e desvantagens que as aulas à distância apresentam. Filipe Marques, aluno de Engenharia Química da Universidade de Aveiro, adianta ao JE que este modelo de ensino permite que nas cadeiras teóricas exista maior interação entre docente e alunos, permitindo a maior organização entre o tempo pessoal e de ensino, além de um acréscimo na preocupação de responder e ver os emails. O aluno de Engenharia Química considera ainda a avaliação “mais difícil” e “injusta”, e que existe um “excesso de exigência por parte dos professores por não conseguirem ver o trabalho contínuo”.
Para um aluno do Instituto Técnico que prefere não ser identificado, o ensino à distância “é uma boa ferramenta de apoio para colmatar a ausência de aulas presencias” e que lhe permite “acompanhar melhor as aulas porque ao mesmo tempo que está a ser lecionada, posso pesquisar qualquer conteúdo que não esteja completamente claro”, além de que existe a alternativa de gravar as aulas para retirar dúvidas ou rever a matéria.
Inês Duarte Gaiola, aluna do ISCTE, diz ao JE que “as aulas online têm vantagens por motivos relacionados com a falta de tempo e acessibilidade”, uma vez que se torna mais fácil de aceder e não existe o “problema relacionado com a deslocação nem os custos a este inerentes”. Ainda assim, a aluna admite ainda a existência de desvantagens relacionadas com o modelo de ensino, dos quais destaca “os níveis de concentração e atenção que acabam por ser comprometidos”, bem como “a falta da interação aluno/professor que se sente nas aulas presenciais”.
Rita de Oliveira, da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, defende que existe uma maior flexibilidade de horário e que existe a “possibilidade de trabalhar em qualquer lado” mas que existe um aumento da carga de trabalhos a apresentar, pagando-se o mesmo valor de propinas e não se tem acesso a todos os serviços, como a biblioteca.
Ensino pós-Covid
A incerteza ainda se manifesta nos espaços de ensino, com as incertezas e abertura e de como se vão realizar os exames. Para Nuno Azinheira, coordenador da formação técnica de jornalismo na ETIC, o futuro deve combinar um modelo misto, onde a aprendizagem passa pelo método à distância e a prática pode ser realizada em pequenos grupos, de forma a avaliar o risco de infeção.
A ETIC, escola de formação, tem utilizado as plataformas Zoom e Teams para dar as aulas à distância e Nuno Azinheira destaca, ao fim de quase dois meses, uma “boa adaptação à realidade”. Ainda assim, nas aulas práticas, o ex-jornalista admite que foi preciso criar uma adaptação, atrasando-as ou tornando o processo, com convidados, numa aula diferente, gerando conversas de aprendizagem.
Para Nuno Martins Cavaco, subdiretor de Empreendedorismo e Transferência da Tecnologia da FTC Nova, destaca um ensino mais digital, “que gera novas oportunidades, estimula a inovação e melhora o student journey, sustentando o longo caminho que tem de ser percorrido para uma “realidade tecnológica imersiva”.
Já Nelson Ribeiro, diretor da FCH da Universidade Católica Portuguesa, sublinha a necessidade de “adequar toda a pedagogia das aulas” para garantir “uma forte componente relacional entre professores e alunos”.
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