Esta história junta o “génio” de uma dupla: Nuno Prego Ramos e Paula Videira, estudante/ professora, a excelência da investigação da Universidade NOVA de Lisboa e a expertise da sociedade de advogados Morais Leitão no bem-sucedido negócio internacional. É um exemplo de como fazer. Como transferir conhecimento da academia para a sociedade e ajudar Portugal a projetar-se no caminho do desenvolvimento que se quer para o futuro.

O acordo da CellmAbs com a biotecnológica alemã BioNTech, anunciado há cerca de 15 dias, inclui tecnologia patenteada que teve origem na Faculdade de Ciências e Tecnologia da NOVA (NOVA FCT), desenvolvida em colaboração com o Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO) e o Helmholtz-Zentrum Dresden-Rossendorf (HZDR) na Alemanha e que pode dar origem ao primeiro medicamento oncológico com ADN português. O feito traduz-se também no primeiro negócio em Portugal na área das ciências da vida que pode vir a ultrapassar a barreira dos mil milhões de euros, considerando a expectativa de receitas comerciais.

Nada disto teria sido possível se não existisse uma patente inicial, que protegesse a invenção. “Pensa-se, por vezes, que as patentes não servem para nada, mas esta história mostra-nos que são fundamentais”, diz-nos Isabel Rocha, vice-reitora da Universidade NOVA que tutela as áreas das investigação e inovação. “É importante que as universidades estejam atentas àquilo que se desenvolve na sua investigação e que protejam com patentes aquilo que poderá vir a ser um negócio”, alerta. Sobretudo nesta área das Ciências da Vida em que o investimento atinge ordens de grandeza mirabolantes e ninguém arrisca se não tiver pelo menos um vislumbre de retorno futuro.

Luís Roquette Geraldes, coordenador da Team Genesis da Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados (MLGTS), esteve ao lema da equipa – uma dúzia de advogados de várias áreas de especialização, entre os quais os prestigiados Segismundo Pinto Basto e Vasco Stilwell d’Andrade – que conduziu as negociações. “O processo foi longuíssimo e de grande complexidade”, conta-nos, explicando que não só o número de entidades e pessoas envolvidas era grande, mas a empresa nunca tinha comprado um ativo em Portugal e, claro, o ativo era complexo: uma tecnologia que decorre de uma patente que vem de uma Universidade, mas que a CellmAbs tem a capacidade de explorar, e que não é a única patente… Enfim, pintura abstrata para o cidadão comum.

Nesta maratona negocial, a Morais Leitão representou todos as partes portuguesas: Nuno Prego Ramos e Paula Videira, fundadores e sócios da CellmAbs, a Portugal Ventures, empresa pública de capital de risco, e a Bionova Capital, braço de investimento da Hovione, e até os beneficiários das chamados stock options.

Nos nossos dias, mais de metade dos novos medicamentos que chegam ao mercado percorrem o caminho deste de ADN português. Têm berço na universidade, são depois desenvolvidos por startups e, só mais tarde, chegam às mãos da potente indústria farmacêutica. Luís Roquette Geraldes acredita que a investigação que se faz em Portugal em ciências da vida poderá vir a dar-nos outras boas notícias. Também acreditamos.

Isabel Rocha, que trabalha diariamente para ajudar a cimentar esse caminho, destaca a natureza da corrida – uma maratona debaixo de sol. E diz que para que o exemplo da CellmAbs se replique é necessário que todo o ecossistema de inovação português se prepara para isso. Evolua. “Se queremos criar impacto na sociedade não podemos só fazer a patente e criar condições de investigação, temos que garantir que acompanhamos o projeto nas fases seguintes e que fazemos parte da solução”. Vamos a isso!