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Aquecimento global pode ser combatido por 300 mil milhões de dólares, estima ONU

Em termos práticos esse montante é o equivalente à riqueza de três dos maiores multimilionários atualmente. O valor não seria usado para financiar tecnologias verdes ou financiar uma solução instantânea para interromper as emissões, mas sim para realocar milhões de toneladas de carbono num recurso esquecido e altamente explorado: o solo.
  • DR Getty Images
5 Janeiro 2020, 13h13

300 mil milhões de dólares (cerca de 268 mil milhões de euros). É o valor necessário para acabar com o aumento das emissões dos gases de efeitos (GEE) estufa e comprar até 20 anos para desacelarar o aquecimento global, de acordo com os cientistas climáticos das Nações Unidas, citados pela Bloomberg.

Em termos práticos, esse montante é o equivalente à riqueza de três dos maiores milionários atualmente: o CEO da Amazon, Jeff Bezos (131 mil milhões de dólares), o dono da Microsoft, Bill Gates (96 mil milhões de dólares) e o investidor Warren Buffet (82 mil milhões de dólares). Só em 2019, 500 das personalidades mais ricas acumularam 1,2 biliões de dólares, impulsionando o seu património liquido em 25%, cerca de 5,9 biliões de dólares, estima a Bloomberg.

O valor não seria usado para financiar tecnologias verdes ou uma nova solução para interromper as emissões, mas sim para por em prática medidas simples e antigas de realocar milhões de toneladas de carbono num recurso esquecido e altamente explorado: o solo.

“Perdemos a função biológica dos solos. Temos que reverter isso ”, disse Barron J. Orr, cientista principal da Convenção da ONU para combater a desertificação. “Se fizermos isso, fazemos da terra um grande player no combate às alterações climáticas”, continuou.

René Castro Salazar, diretor-geral adjunto da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, explica que dos dois mil milhões de hectares de solo em todo o mundo (que foram degradados devido ao uso indevido, excesso de pastoreio, desflorestações e outros fatores principalmente de origem humana), 900 milhões de hectares poderiam ser restaurados.

Ao transformar essas terras viáveis para pastagens, culturas alimentares ou árvores, estas converteriam carbono suficiente em biomassa para estabilizar as emissões de CO2, o maior gás de efeito estufa, durante 15 a 20 anos, dando tempo suficiente ao planeta de adotar tecnologias neutras em carbono.

“Com vontade política e investimento de cerca de 300 biliões de dólares, é possível”, concluiu Castro Salazar. Estaríamos a “usar as opções de menor custo que temos, enquanto esperamos que as tecnologias em energia e transporte amadureçam e estejam totalmente disponíveis no mercado. Estabilizariamos as alterações atmosféricas, a luta contra as alterações climáticas, por 15 a 20 anos. Nós precisamos muito disso”.

“A ideia é alocar mais carbono no solo”, prosseguiu Orr. “Isso não será algo simples por causa das condições naturais. Mas manter o carbono no solo e fazer com que a vegetação natural, as pastagens prosperem novamente – essa é a chave”, finalizou.

Em novembro, durante uma conferência da ONU sobre a desertificação em Nova Délhi, 196 países e a União Europeia concordaram com uma declaração de que cada país adotaria as medidas necessárias para restaurar as terras pouco produtivas até 2030. A equipa da ONU usou imagens de satélite e outros dados para identificar o 900 milhões de hectares de terras degradadas que poderiam ser realisticamente restauradas. Em muitos casos, as áreas revitalizadas podem beneficiar a comunidade local e o país anfitrião através do aumento da oferta de alimentos, turismo e outros usos comerciais.

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