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Argentina tenta relançar petróleo da Patagónia, animada pelo Brent acima dos 30 dólares por barril

As reservas de petróleo de “shale” existentes da zona de Vaca Muerta, na Patagónia argentina são consideradas pelos economistas locais como o maior balão de oxigénio a que o Governo de Buenos Aires poderá recorrer para contrariar a crise agravada pela pandemia da Covid-19. Com os contratos de futuros de petróleo para entrega em junho de WTI nos 24,62 dólares por barril e os de Brent nos 30,88 dólares, a Argentina faz contas à forma de relançar a produção do seu petróleo “criollo”, sabendo que só é rentável com cotações internacionais acima dos 45 dólares por barril.
  • Buenos Aires, Argentina: 2.3 dólares
11 Maio 2020, 07h25

O presidente da Argentina, Alberto Fernández – peronista de centro-esquerda –, sabe que as reservas de petróleo da Patagónia, na zona de xistos designada por Vaca Muerta, são superiores às que estão identificadas nos EUA, o que leva a que muitos economistas locais considerem que esse será o maior balão de oxigénio a que os argentinos se poderão agarrar para contrariarem a sua crise, agora agravada pela pandemia da Covid-19. Quando as cotações internacionais do petróleo texano WTI, em Nova Iorque, e do Brent do Mar do Norte, em Londres, caíram para mínimos históricos – e no caso do WTI, os respetivos contratos de futuros chegaram a valores negativos próximos dos 40 dólares por barril –, nessa altura os argentinos suspenderam a atividade petrolífera em Vaca Muerta, na bacia de Neuquén, encaixada nos Andes. Mas as cotações já voltaram a subir, com os futuros do WTI e do Brent, para entrega em junho, a rondarem, respetivamente, os 25 e os 30 dólares por barril. Por isso, as autoridades argentinas já avaliam a possibilidade de relançarem a produção do seu petróleo criollo leve, designado Medanito, sabendo que este só é rentável com cotações internacionais em torno dos 45 dólares por barril, segundo referiram ao Jornal Económico fontes do sector petrolífero.

Trata-se de uma oportunidade que a Argentina não pode deixar de agarrar, e que surge numa altura em que o país tem mantido intensas negociações com credores para tentar reestruturar uma dívida externa que se situa em cerca de 65 mil milhões de dólares (cerca de 59,9 mil milhões de euros). O presidente Alberto Fernández, juntamente com o ministro da Economia argentino, Martín Guzmán, têm mantido com os credores o que consideram ser um “diálogo de boa fé” para chegarem a um “acordo aceitável”, na perspetiva da Argentina. Contudo, sabe-se que o prazo inicial das negociações expirava na sexta-feira, 8 de maio. Agora, contam que as negociações sejam prolongadas até hoje, segunda-feira, 11 de maio.

Tal como Diego Armando Maradona Franco contou com a mão de Deus num dos momentos mais decisivos da sua carreira de futebolista, também os líderes políticos argentinos contam atualmente com uma “espécie de aval” – na terminologia utilizada por alguns economistas – do FMI, aguardando, do lado financeiro, que os credores aceitem um corte de 62% na taxa de juro aplicada à dívida; que apliquem um período de três anos de carência; e que reduzam o capital em cerca de 5,4%.

45 dólares por cada barril de Medanito?

Do lado dos mercados petrolíferos, a Argentina está entre os países que mais aguardam a recuperação das cotações internacionais do petróleo – o que já começou a acontecer na semana passada –, bem como o relançamento gradual do consumo de combustíveis, a que o mundo deverá assistir a partir desta segunda-feira, 11 de maio. É por isso que a equipa de assessores económicos de Alberto Fernández acredita na possibilidade de sustentar preços de 45 dólares pelo barril criollo do petróleo Medanito para relançar a perfuração, fratura e produção do subsolo de Vaca Muerta – inicialmente promovida em 2010 pela YPF, quando ainda pertencia à Repsol –, sendo certo que sem um incentivo semelhante nenhuma empresa investiria na região, a fundo perdido.

O valor de 45 dólares por barril constitui um ponto de equilíbrio entre os custos de exploração e extração nos poços de petróleo existentes da Argentina. Mas também corresponde ao dobro da atual cotação dos contratos de futuros para entrega em junho do WTI e a quase mais 40% que a atual cotação do contratos similares do Brent, sem haver grande confiança na sustentabilidade destas cotações até ao fim do próximo verão.

Ou seja: será difícil subsidiar a produção de shale oil argentino a 45 dólares por barril quando não haverá operadores a comprarem o petróleo a esse preço, sabendo-se igualmente que terão custos acrescidos para armazenar esse petróleo de shale porque os tanques existentes na Argentina já não têm capacidade disponível – a alternativa será utilizar navios petroleiros para esse efeito. Em 2018/2019 a Argentina produziu cerca de 560 mil barris criollos por dia, exportando cerca de 63 mil barris do leve petróleo Medanito.

Por outro lado, se a Argentina não incentivar a produção de Vaca Muerta, terá de importar mais petróleo e atrasará a capacidade de resposta das unidades locais de petróleo de shale, que vão precisar de ter investimentos, trabalhos de perfuração e injeção de fluidos a elevada pressão nas unidades de extração para poderem estar a produzir Medanito a um nível aceitável, daqui a um ano, explicam especialistas do sector.

A estratégia da Argentina praticar uma espécie de valor fixo para o barril de petróleo de shale extraído da Patagónia atrairá, pelo menos, três majors: duas norte-americanas, a ConocoPhillips e a Exxon Mobil, e uma multinacional europeia, a Shell. A estatal argentina YPF não participa nesta “competição”.

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