A pretensão de estabelecer sempre relações de causa-efeito entre os chamados “fundamentais” e a evolução das cotações é uma das maiores armadilhas em que os investidores podem ser apanhados, mesmo os mais experientes.

A abordagem fundamental aos mercados faz todo o sentido. É importante estudar e compreender os contextos relevantes de cada ativo, desde a macroeconomia ao setor, passando pelo sentimento geral de mercado, condições de liquidez, política monetária, volatilidade, contas das empresas, ownership e posicionamento, que ajudem a determinar se um ativo está sub ou sobreavaliado. No longo prazo, ações, obrigações, matérias-primas e moedas tenderão a ver o seu preço ajustado aos “macrofatores“.

Porém, a análise fundamental comporta riscos importantes. Desde logo há o problema da complexidade. A realidade é multidimensionada e podemos simplesmente estar a olhar para os aspetos que têm menos impacto no preço, desvalorizando outros. Por outro lado, há que ter em conta a ambiguidade.

Um determinado desenvolvimento pode ser lido de várias formas e o mais comum é que os investidores caiam na tentação do “confirmation bias” ou seja, interpretar da forma mais conveniente às suas convicções. A latência dos dados e a assimetria de informação cria mais dificuldades porque os preços podem ter já descontado aquilo que só agora passamos a saber. Finalmente, mas não exaustivamente, ocorrem as externalidades e os cisnes negros: às vezes, há coisas impactantes e imprevisíveis.

Uma visão simplista do mundo, acompanhada de alguma falta de humildade, pode levar a que os investidores tenham uma falsa sensação de controlo por entenderem que só a sua análise fundamental é suficiente, que a sua leitura é a correta e que o tempo do mercado é o mesmo das suas posições. São histórias que normalmente não acabam bem.