Vivemos numa era em que a inovação é celebrada como espetáculo. As manchetes dos media enchem-se de promessas revolucionárias – inteligência artificial generativa, carros autónomos, realidade aumentada – e somos levados a crer que o futuro é moldado pelas tecnologias que conseguimos ver e tocar.

E se as inovações que mais estão a transformar a economia fossem precisamente as que passam despercebidas?

Enquanto o mass market está fascinado com o que é visível, uma revolução mais profunda ocorre longe dos holofotes. Nos bastidores das cadeias logísticas, nas infraestruturas de dados, nos instrumentos de financiamento e nas normas regulatórias. Novas formas de pensar e operar estão a reconfigurar setores inteiros. É a inovação invisível – silenciosa, técnica, muitas vezes complexa – que redefine a base sobre a qual se constroem os avanços mais visíveis.

Tomemos como exemplo o setor da logística. A Maersk e a DHL têm investido em algoritmos de machine learning que antecipam disrupções antes mesmo de estas ocorrerem. Estas ferramentas não só evitam perdas consideráveis como mantêm cadeias de abastecimento globais em funcionamento — uma inovação invisível, mas de grande impacto. O mesmo se passa com os chamados green bonds, que canalizam muitos milhões de euros para projetos sustentáveis através de estruturas financeiras que o cidadão comum raramente vê ou compreende, mas que alteram profundamente o rumo do investimento global.

Em Portugal, exemplos como os programas de regulação sandbox promovidos pelo Banco de Portugal e a CMVM permitem testar inovações financeiras em ambientes controlados, promovendo segurança jurídica sem travar a experimentação. Estes espaços, embora discretos, criam as condições para que soluções pioneiras possam florescer com responsabilidade.

A verdadeira inovação orientada por missões, o verdadeiro progresso exige um compromisso de longo prazo e coragem para investir naquilo que ainda não é popular. O problema é que esta inovação invisível raramente recebe atenção. Não é instagramável, não gera likes, não alimenta narrativas fáceis.

Mas é precisamente nestas camadas invisíveis que reside a base da competitividade futura. Investir em interoperabilidade de dados nos serviços públicos, por exemplo, pode parecer árido, mas é essencial para garantir uma administração moderna, transparente e centrada no cidadão. A mesma lógica aplica-se às plataformas de partilha de dados na saúde ou à modernização silenciosa das infraestruturas de cloud nacionais.

Se quisermos construir uma economia mais resiliente, sustentável e sólida, precisamos de mudar o foco. A verdadeira liderança em inovação começa quando olhamos para onde ninguém está a olhar. Quando deixamos de confundir inovação com espetáculo, e passamos a reconhecê-la como uma transformação estrutural – muitas vezes invisível, mas sempre essencial.