[weglot_switcher]

As duas faces de 2019

Os mercados desenvolvidos têm novamente uma agenda duríssima em termos de ruido geopolítico, mas isso não tem sido suficiente para travar os mercados de risco.
8 Fevereiro 2019, 07h42

Apesar da evolução favorável dos mercados neste início de ano, os investidores continuam a olhar para 2019 com alguma desconfiança, sentimento assente nas preocupações face a uma realidade com menor crescimento económico global, sobretudo nos países desenvolvidos, a que se junta a manutenção dos receios relacionados com as tensões comerciais entre Estados Unidos e China, a par das atuais preocupações com o processo do Brexit. Alguns observadores económicos falam inclusive de alguns riscos deste abrandamento escalar para uma nova queda dos mercados de forma generalizada, cenário que pode ser, pelo menos por enquanto, manifestamente exagerado.

Numa primeira abordagem, os factos geopolíticos parecem ter ganho em 2018, alguma aparente tração fundamental. A retórica protecionista do presidente Trump ganhou bastante visibilidade e tração com o anúncio de uma série de medidas que visam condicionar as importações, sobretudo as provenientes da China. As repercussões continuam a ser bastante limitadas no campo do impacto da economia mundial, mas uma eventual escalada em 2019 da “guerra comercial” (sobretudo se afetarem a Europa) faria pensar no modelo de globalização que atualmente rege as principais economias desenvolvidas.

Muitos observadores e investidores estão atentos ao que o irá acontecer neste campo, sobretudo no primeiro trimestre do ano. Para já, e saindo da esfera política pura para a monetária, no último discurso da Reserva Federal, o presidente Powell deu sinais positivos ao mercado, ao afirmar que o ritmo de subida da taxa de juro na maior economia do mundo pode ser feita de forma mais pausada, a fim de não comprometer o processo de recuperação da economia – factor que ajudará a reduzir riscos associados as expetativas de crescimento.

Entretanto, do lado de cá do Atlântico, persistem várias situações que podem condicionar as decisões de investimento. A interminável e atribulada viagem de saída do Reino Unido da União Europeia pelo menos no primeiro trimestre de 2019, deverá continuar a marcar a agenda. Depois há o crescimento dos movimentos populistas por toda a Europa e os braços de ferro orçamentais, a que se soma agora a entrada técnica em recessão da Itália e a erosão do centro político, que será novamente avaliado nas eleições para o Parlamento europeu, que terão lugar em maio.

Ou seja, os mercados desenvolvidos têm novamente uma agenda duríssima em termos de ruido geopolítico, mas isso não tem sido suficiente para travar os mercados de risco. Talvez por isso sejam as indicações de menor crescimento económico e dos lucros das empresas que terão a palavra maior a dizer. E o que se espera é que a economia mundial continue a crescer, mas de forma mais moderada (3,5% em 2019 e 3,3% em 2020).

Quiçá faltará um ajustamento de expetativas por parte dos investidores e observadores internacionais, sobretudo durante os primeiros meses do ano. E isso pode trazer dias mais complexos, com maior volatilidade. Se o consenso das estimativas se confirmar, então será bem possível que o ano acabe por trazer de novo – sobretudo no segundo trimestre – a retoma do ciclo favorável para os ativos de risco. Ou seja, de acordo com o que se pode retirar das leituras das expetativas do consenso dos analistas, 2019 seria assim um ano que poderia vir a ter duas faces, mas em que os fundamentais acabariam por ter a última palavra.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.