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As duas rodas que aceleram a economia portuguesa

O Eurostat revelou este mês que Portugal lidera o ‘ranking’ dos maiores exportadores de bicicletas da União Europeia. Da RGVS à Órbita são várias as marcas de duas rodas que saem do território nacional rumo à Europa. Dinamizam a economia nacional, criam emprego e fazem crescer a indústria.
1 Julho 2017, 11h00

Mais do que um simples meio de transporte, andar de bicicleta é um estilo de vida. David Byrne, fundador do grupo The Talking Heads, usa a bicicleta como principal meio para deslocar-se em Nova Iorque. Há 20 anos, descobriu as bicicletas desdobráveis e começou a levá-las também para as ‘tournées’ e outras viagens pelo mundo. Fascinado pela liberdade deste meio, começou a escrever um diário com as suas observações: de Berlim a Buenos Aires, de Istambul a São Francisco, de Sydney a Nova Iorque.

O ator Ewan McGregor é outro dos famosos de Hollywood que adora bicicletas. Usa-a para transportar o seu animal de estimação ou simplesmente para se deslocar até aos estúdios onde está a gravar. Katy Perry, Slash ou David Beckham são outras celebridades que adotaram este meio de transporte.

Esta febre das bicicletas à escala mundial tem efeitos em Portugal. Numa nota publicada no âmbito das comemorações dos 200 anos deste meio de transporte, o Eurostat revelou este mês que o país já lidera o ‘ranking’ dos maiores exportadores de bicicletas da União Europeia, sendo responsável por 15% das bicicletas exportadas pelos 29 estados-membro.

As marcas RGVS Ibérica, Alubike, Esmaltina ou Órbita fazem parte da lista das principais exportadoras, segundo uma lista de maiores empresas solicitada pelo Jornal Económico ao INE.

A RGVS, detida na totalidade pela Decathlon, lidera o ‘ranking’ exportador. A atividade de produção emprega diretamente 45 pessoas e indiretamente cerca de 2.600. Portugal é hoje uma referência europeia no sector do ciclismo, uma vez que mais de 50% das bicicletas que a Decathlon vende na Europa são produzidas em Portugal, distribuídas pelas mais de mil lojas Decathlon por todo o mundo.

Têm a ambição de serem a primeira entidade de produção na Europa e continuar a fazer crescer a indústria nacional através da produção dos Produtos Decathlon das marcas B’twin, Tribord, Quechua, Domyos, entre muitas mais, tornando-os acessíveis ao maior número de utilizadores.

A Decathlon Portugal produz todo o tipo modelos, sobretudo de montanha, cidade e criança. O preço varia entre os 69,99 e os 899,99 euros.

“A montagem das unidades é feita em Vila Nova de Gaia e Anadia. As lojas Decathlon de França, Espanha e Itália são os nossos principais clientes. Também exportamos para lojas Decathlon na Turquia ou Rússia”, explica Rui Santos, diretor de logística da produção Decathlon Portugal.

O ano passado, a empresa exportou 1,6 milhões de exemplares. “Espera-se que o crescimento da venda de bicicletas seja superior à dos carros devido às preocupações ambientais e políticas, sobretudo no Norte da Europa”, acrescenta o mesmo responsável. Esta empresa também produz bicicletas elétricas e embora hoje não seja o ‘core’, é a estratégia.

“Investir num estilo de vida mais saudável, a preços cada vez mais baixos e produtos de grande qualidade para os praticantes deste desporto é o grande objetivo.”

A nostalgia da Órbita

O Grupo Órbita é o último fabricante, não artesanal, de bicicletas portuguesas, em Portugal. A marca foi fundada em 1971 por vários empresários ligados ao setor das bicicletas, fabricantes de várias partes que compõem a bicicleta, que na altura sentiram a necessidade de juntar esforços e acrescentar valor no lançamento de uma marca própria de bicicletas. É um dos últimos fabricantes europeus onde todo o processo – desenho, fabrico, pintura e montagem – é feito no mesmo local, na fábrica do grupo, em Águeda.

O mercado português representa cerca de 15% da vendas de bicicletas (excluíndosistemas de mobilidade partilhada). “Não desvalorizamos de maneira nenhuma o mercado português. As nossas bicicletas são portuguesas e o objetivo é fazer com que cada português sinta e reconheça a marca como sua. Nos últimos anos, no resto da Europa há já muitos países onde é habitual e faz mesmo parte da cultura andar de bicicleta, numa ótica de mobilidade urbana, de casa para o trabalho, levar os filhos à escola, etc. Uma das nossas apostas é recuperar o reconhecimento da marca em Portugal e aumentar também o volume de vendas nacionais”, explica um dos responsáveis da Órbita.

Atualmente os principais mercados de exportação são o mercado Francês e Espanhol e Irlandês. Exportam ainda para alguns outros mercados europeus, africanos e caribenhos.

“Os portugueses que nasceram na década de 70 lembram a Órbita com carinho, falam da marca com nostalgia. Foi a primeira bicicleta para muitos. As pessoas “veem” até nós a partir das redes sociais, na rua em sessões fotográficas ou quando vêem o nosso carro e comentam muito sobre as suas experiências com a sua primeira bicicleta, A minha primeira bicicleta foi uma Órbita, ainda a tenho lá em casa”, ouvimos muitas vezes estas expressões”, acrescenta o mesmo responsável.

O sistema de ‘bike sharing’

Um dos fenómenos que impulsionam o mercado de bicicletas são os sistemas de partilhas de bicicletas em meios urbanos. A primeira geração de bicicletas partilhadas surgiu em Amesterdão em 1964 designada por “Wite Fietsen”. Consistiam em bicicletas pintadas de branco que se encontravam distribuídas pela cidade para utilização livre e gratuita. A segunda geração dos sistemas de ‘bike sharing’, cujo caso mais famoso são as Byciklen de Copenhaga inauguradas em 1995, distinguem-se da primeira pelo facto destas serem construídas propositadamente para serem partilhadas. O bloqueio e desbloqueio das bicicletas era realizado através de um sistema de moeda em tudo semelhante ao utilizado nos carrinhos de supermercado. Por volta de 1996 surge o primeiro caso de utilização de tecnologias de informação para a gestão de um sistema de ‘Bike Sharing’. Este facto aconteceu na Universidade de Portsmouth e teve como face mais visível a utilização de um cartão de banda magnética para o aluguer das bicicletas inaugurando a terceira geração da partilha deste veículo de duas rodas.

O sistema BUGA – Bicicletas de Utilização Gratuita de Aveiro – iniciou a sua actividade em Abril de 2000 com 350 bicicletas e cerca de 30 locais de estacionamento. Este sistema inovador em Portugal fez com que a BUGA gozasse de um grande reconhecimento a nível nacional alavancando a imagem que Aveiro ganhou enquanto cidade “amiga” da bicicleta. O relançamento das BUGA tem vindo a ser desenhado no âmbito do projecto europeu Site (Smart ticketing for mobility in Europe) que une a Câmara de Aveiro, a Universidade de Aveiro e a Transitec, um gabinete de estudos da área da mobilidade. De acordo com os dados obtidos no Censos 2011, os concelhos com mais utilizadores de bicicleta nos movimentos pendulares diários (em termos relativos, e face aos veículos de quatro rodas) é o município de Murtosa (17%), seguido de Ílhavo, com dez por cento.

A Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa (EMEL) iniciou esta semana o projeto-piloto de ‘bike sharing’, uma solução que vai proporcionar mais mobilidade à cidade de Lisboa. Durante o período experimental a rede de bicicletas partilhadas vai disponibilizar 100 bicicletas, em 10 estações, no Parque das Nações.
Nos últimos meses, a EMEL recebeu mais de 2000 inscrições de cidadãos interessados em participar no projeto-piloto. Durante a fase de testes, os primeiros voluntários inscritos no projeto vão poder testar o serviço de forma gratuita, tendo a oportunidade de fazer recomendações que serão incorporadas na solução final. Prevê-se que a fase de testes dure cerca de um mês.

Com esta solução, a empresa pretende “contribuir para uma melhor qualidade de vida de residentes e visitantes. A rede de bicicletas partilhadas começa hoje a ser testada por voluntários, um contributo muito importante e que vai permitir corrigir eventuais aspetos que precisem de ser melhorados, num processo de partilha entre a empresa e os cidadãos. Quando estiver a funcionar na plenitude, esta rede de bicicletas será uma opção de transporte público que proporcionará uma nova mobilidade, fácil, simples e amiga do ambiente”, disse Luís Natal Marques, presidente do Conselho de Administração da EMEL.

A rede de ‘bike sharing’ será instalada em 4 zonas da cidade de Lisboa que revelam aptidão ciclável, através da qual serão disponibilizadas 1.410 bicicletas (940 assistidas eletricamente e 470 convencionais) em 140 estações: 92 no Planalto Central da cidade; 27 na Baixa e Frente Ribeirinha; 15 no Parque das Nações; e 6 no Eixo Central (que abrange as avenidas Fontes Pereira de Melo e da Liberdade).

De bicicleta pela Europa

A Rede Europeia de Ciclovias (EuroVelo) inclui actualmente 15 rotas cicláveis de longa distância que cruzam o continente Europeu. As rotas EuroVelo podem ser usadas por cicloturistas bem como pelos habitantes locais nas suas deslocações diárias. Muitas destas rotas encontram-se concluídas, mas outras estão em permanente desenvolvimento. Estima-se que até 2020, a rede esteja substancialmente completa. O comprimento total destas rotas ultrapassa os 70.000 km e atravessa 42 países.

Alugar uma bicicleta é uma boa forma de planear a viagem, por exemplo se for para um grupo, ou simplesmente para garantir a qualidade da bicicleta e que tem os devidos equipamentos, com aconselhamento personalizado. Apesar de só existirem ‘rent-a-bike’ nas cidades maiores e mais procuradas por turistas, as empresas permitem usualmente o aluguer para todo o país.

Algumas cidades dispõem de sistema de bicicletas de uso público/partilhado, tais como Vilamoura, Cascais, Torres Vedras, Ovar, Murtosa, Aveiro, a maioria de uso gratuito, mas que apenas dão para utilizar nessa cidade, não dão para longas distâncias.

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