Esteve oito anos no Barclays em Portugal, quando o banco – que liderava na altura – foi comprado pelos espanhóis do Bankinter. Carlos Brandão transitou de banco e manteve-se ao leme. O pre sidente do Bankinter Portugal falou ao Jornal Económico sobre os desafios da instituição, numa altura em que lançaram mais uma campanha agressiva pa ra os particulares, apesar do grande enfoque de crescimento estar nas empresas.
Um ano depois de ter mudado de “casa”: a gestão espanhola é diferente da gestão britânica?
Apenas uma correção: há um ano, nós anunciámos a compra; mas a efetiva gestão só aconteceu a partir de dia 1 de abril – temos sensivelmente cinco meses de vigência de Bankinter. Sim, a gestão é diferente entre as duas casas: o que era o passado, Barclays, daquilo que é atualmente, o Bankinter. Sobretudo porque a ambição e a perspetiva de olhar o mercado são diferentes. Enquanto o Barclays anunciou, publicamente, o desinvestimento os negócios do retalho da Europa, a ideia do Bankinter é de claro investimento e de clara aposta no mercado, ou seja, é de crescimento. E isso faz toda a diferença.
O que levou o Bankinter a entrar em Portugal?
O Bankinter acredita na economia portuguesa. Achamos que era o ponto ideal de começar pra ticamente o processo de internacionalização do banco. Cada vez mais a relação Portugal-Espanha, até pelas trocas comerciais, é efetiva e o próprio Bankinter tinha um conhecimento de Portugal por apoiar empresas portuguesas nos seus investimentos em Espanha. Isto ali ou-se ao facto de ter oportunidade, ou seja, de considerar que o ne gócio do Barclays (do retalho em Portugal) era um negócio saneado e com um tipo de clientes estratégico em determinados segmentos. Numa operação saneada, controlada, com objetivos comuns, numa economia em crescimento e com uma equipa que conhece o mercado e os clientes, devidamente controlada, porque o peso, em termos de estrutura, do Bankinter Portugal face ao total do negócio em Espanha é de sensivelmente 10%, entendeu-se que era a altura ideal para dar um passo adicional na forma de trabalhar e ser visto no próprio mercado do Bankinter.
A ideia é manter esse peso de 10% ou o Bankinter está a analisar outras oportunidades?
Não. Nós queremos crescer de forma orgânica, até porque achamos que o mercado em Portugal tem um potencial suficiente para o poder fazer.
Não há bancos a mais?
É capaz de existir um processo de consolidação do mercado em Portugal. Não sabemos exatamente quando. Acreditamos que seja num curto prazo. Um banco com a nossa dimensão, onde temos sensivelmente 1% da quota de agências no mercado em Portugal, pela nossa estrutura, pela tipologia de clientes que queremos captar. No tecido empresarial em Portugal, sabemos que existem percentagens relativamente elevadas de crédito em incumprimento, de empresas em situação de prejuízo ou de dificuldade financeira, mas eu preferia ver tudo isto pe la outra perspetiva. Ou seja, em que existe um número muito significativo de empresas com indicadores económicos extremamente sólidos, com intenção de crescer no mercado nacional, de investir novos projetos, quer internos ou externos e aí sim, nós queremos posicionar-nos para poder captar esta “fatia” de cli en tes. Tendo uma posição de cer ca de 1% ou 2% de quota do mer cado, temos um horizonte de crescimento muito elevado.
O foco do Bankinter é o cliente particular, empresarial ou ambos?
O Bankinter por vocação, inclusivamente em Espanha, é um banco de empresas, ou seja, mais de metade do balanço do Bankinter em Espanha é de um banco de empresas. Em Portugal, neste momento, a componente de empresas não vale mais do que cerca de 30% do nosso balanço. A ideia é determos 50/50 num espaço de dois anos. Nós não podemos fugir daquela que é a condição de partida do próprio banco em Portugal, que é uma posição de partida muito forte na captação de clientes, de rendimentos médios-altos e isso nós também queremos continuar a fazer. A nossa quota de mercado permite-nos crescer e até consolidar a nossa posição. A nossa principal alavanca de crescimento nos próximos tempos vão ser empresas. É onde temos algum desequilíbrio do nosso balanço, é on de queremos aproveitar o grande conhecimento e a própria história de 50 anos de tratamento de empresas que o Bank in ter tem.
São as tais empresas exportadoras e com bom risco que todos querem?
São também empresas exportadoras e, sobretudo, empresas de bom risco. Não vamos facilitar na nossa política de risco. Aliás, o próprio mercado, a solvência, os requisitos de capital e a rentabilidade dependem da qualidade dos ativos. Queremos manter a so lidez e a disciplina da política de risco.
Para não cometer erros do passado?
Não cometer erros de forma alguma.
Em qual das empresas é que pretendem crescer mais?
O maior ponto de crescimento será nas empresas entre os cinco e os 100 milhões de euros. Nas empresas de dimensão superior a 100 milhões, há determinadas operações que, pela nossa dimensão, não nos permitem estar nesse tipo de negócios. Queremos e estamos a entrar em crédito, mas por algumas limitações de balanço, estamos a apostar imenso na transicionalidade relativa destas mesmas empresas. No segmento de cinco aos 100 milhões de euros, queremos ser competitivos em todas as ver tentes, seja crédito, seja transicionalidade destas empresas. Além disso, a maior “fatia” do mer cado também se inclui neste intervalo.
Atualmente, quantos trabalhadores o Bankinter tem?
Tem 930 pessoas.
Quantos balcões têm?
Temos 84 agências, as mesmas que tínhamos há um ano. E posso antecipar que consideramos que esta é a dimensão ideal para o nosso negócio.
Há um ano indicava que tinha 163 mil clientes e que queria crescer 15 mil este ano.
Sim. Neste momento, temos cer ca de mais 5.500 clientes, isto em cinco meses de atividade. Mantemos a ambição de, até ao final do ano, conseguirmos os 15 mil clientes. O próprio esforço de diversificação da nossa atividade e o não estar tão concentrados em clientes ‘premier’, obriga-nos a captar outro tipo de clientes para com eles crescer na sua relação com o banco. Estes 15 mil vão ser mai oritariamente concentrados em clientes de empresas (25%) e em clientes particulares (75%).
Quem pode ser cliente Bankinter?
Qualquer cliente pode ser cliente Bankinter. A forma de servir o cliente é que tem de ser diferente. O nosso ‘core’ são os clientes ‘premier’, ou seja, clientes com mais de 50 mil euros de recursos no banco ou um salário líquido que ronde os três mil euros. Um cliente particular que há-de focar a nossa atenção enquanto proatividade deverá ser um cli ente que tenha um salário líquido na ordem dos mil euros. É o que nos permite servir este cli ente dentro do custo de estrutura que temos e dar um valor acres centado ao mesmo.
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