Nos últimos anos, o setor financeiro tem sido revolucionado pela tendência da digitalização, e a Inteligência Artificial (IA) é um dos principais motores por detrás desta mudança. Mais do que uma simples ferramenta para otimizar processos, a IA está a transformar a forma como os bancos e as fintechs interagem com os clientes, automatizam serviços e criam novos modelos de negócio. No entanto, apesar dos muitos benefícios, há também desafios que devem ser acautelados para garantir o equilíbrio entre inovação, ética e regulamentação.

O que a IA traz de bom aos serviços financeiros

A personalização é uma das vantagens mais evidentes que a IA aporta ao setor financeiro. Hoje, os consumidores esperam interações mais intuitivas e adaptadas às suas necessidades, como por exemplo recomendações personalizadas baseadas no seu histórico e comportamento. De facto, estudos indicam que quase 80% dos consumidores estaria disposto a partilhar os seus dados com os bancos se isso proporcionasse uma melhor experiência e aconselhamento financeiro mais preciso.

A gestão de investimentos automatizada, com a ajuda de “robo-advisors”, também é cada vez mais significativa. Segundo a Juniper Research, o número de utilizadores que recorrem a plataformas deste tipo de serviços deverá ultrapassar os 100 milhões ainda este ano.

A automação de processos é outro dos impactos mais significativos da IA no setor – beneficia a análise de crédito, a detecção de fraudes, o processamento de pagamentos, e contribui para a redução drástica dos tempos de resposta e custos operacionais. Por outro lado, a análise preditiva alimentada por IA tem revolucionado a forma como as empresas analisam grandes volumes de dados, identificando padrões e tendências com uma precisão notável.

Finalmente, mas não menos importante, a IA é fundamental na previsão de mercado, ajudando a antecipar tendências e a ter maior clareza nas decisões de investimento. Alguns dos players mais inovadores do setor, como as plataformas de investimento online Betterment e Wealthfront; os bancos digitais como o Nubank e a Revolut; e ainda empresas de pagamentos como PayPal e Stripe, já apostam fortemente na IA para os seus produtos e serviços, bem como para garantir a segurança e a eficiência das transações online.

Não percamos de vista os desafios

Por mais promissora que seja a adoção da IA no setor financeiro, traz consigo desafios que não podem ser ignorados. A ética na utilização da IA é uma preocupação central, especialmente no que diz respeito ao viés algorítmico e à possível falta de transparência nas decisões automatizadas. Se não forem monitorizados cuidadosamente, os modelos de IA podem perpetuar desigualdades, favorecendo certos perfis de clientes em detrimento de outros. Regulamentações como o ‘AI Act’ da União Europeia já procuram estabelecer diretrizes para garantir uma utilização mais justa e responsável da tecnologia.

A segurança dos dados é outro tema crítico. O setor financeiro lida com um enorme volume de informações sensíveis, tornando-se um alvo preferencial para ciberataques. Uma vez que o volume destes ataques tem aumentado exponencialmente nos últimos anos, é premente investir continuamente em cibersegurança e na proteção da privacidade dos clientes.

Para além disso, a automação traz inevitavelmente o risco de substituição de postos de trabalho, o que não tem necessariamente de ser visto como negativo, mas sem dúvida exige uma adaptação do mercado laboral atual – especialmente no que toca a funções repetitivas e operacionais que podem ser facilmente cobertas pela tecnologia. Devemos, então, olhar o lado positivo e considerar que a IA pode criar novas oportunidades, permitindo aos profissionais deixar os cargos mais morosos e especializar-se em áreas tão necessárias como a ciência de dados, ética na IA e cibersegurança. O investimento na requalificação e capacitação de talentos é fundamental para garantir uma transição equilibrada.

IA? Claro que sim, mas com cuidado

Perante este contexto, é fundamental existir um enquadramento legal sólido que proteja os consumidores sem travar a inovação. Diversos países já estão a desenvolver diretrizes específicas para a utilização de IA nos serviços financeiros, de forma a garantir a transparência e segurança nos processos.

É claro para mim que a IA pode transformar positivamente o setor financeiro – e ainda mais claro que nenhuma outra tecnologia demonstrou até agora tanto potencial de revolucionar o mundo inteiro. No entanto, esta transformação deve ser acompanhada por um compromisso firme com a ética, a segurança e a capacitação profissional.

É essencial garantir uma abordagem colaborativa entre instituições financeiras, reguladores, especialistas e sociedade, para garantir que a inovação é uma força impulsionadora de crescimento sustentável e equitativo. O futuro da IA no setor financeiro não depende (apenas) da tecnologia, mas sim das escolhas que fazemos hoje para garantir uma evolução responsável e inclusiva ao longo do tempo.