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As perspetivas dos gestores: como antecipar paradigmas e conseguir alocações de capital eficientes

A geopolítica e as alterações de paradigma são cruciais para entender a eficiente alocação de capital. Depois é preciso tentar antecipar as prováveis evoluções macro, tanto a nível setorial como geográfico.
14 Julho 2019, 20h00

As tendências dos mercados financeiros ao longo do PRIMEIRO semestre e as previsões para o SEGUNDO semestre deste ano, a par do impacto das políticas monetárias sobre os mercados são temasde fundo. Os gestores de casas de investimento também analisaram as incertezas políticas vs retornos, a par dos temas da sustentabilidade e da ética na tomada de decisões pelos gestores. A pergunta nuclear também foi feita com o tema dos ativos de refúgio para os investidores defensivos.

 

Rui Nunes, Head of Equities na Caixagest

“O investimento socialmente responsável (ISR) tem ganho popularidade nos últimos anos, num contexto de crescente preocupação por parte dos investidores com o impacto das suas decisões de investimento. Com o reconhecimento dos méritos sociais associados à sustentabilidade, tem-se visto um aumento da notoriedade e aceitação pelo público em geral das causas de preservação do meio ambiente e do cumprimento de metas sociais e de governo societário (fatores ESG – Environmental, Social and Governance)”. Adianta Rui Nunes que “este contexto enquadra a crescente adoção desta filosofia pela comunidade investidora, com a inerente preferência por empresas que se distingam nas práticas de sustentabilidade, colocando em paralelo objetivos de maximização do lucro e o cumprimento de metas ESG mais amplas e corretas. Este movimento, desejavelmente, motiva as empresas a darem o seu contributo para o meio ambiente e para a sociedade, não apenas pela pressão social, mas também pelo crescente foco regulatório e por eventuais novas oportunidades de negócio.
Os méritos desta visão têm sido reforçados com a publicação de vários estudos académicos, que abordam o tema da rendibilidade ajustada por risco dos fatores de sustentabilidade. As conclusões apontam para a existência de uma evidência de relação não-negativa entre a integração de fatores ESG nos investimentos e a sua performance. Assim, não sendo inferiores no curto e médio prazo, os retornos tendem a ser superiores no longo prazo, horizonte temporal mais adequado a análises de desempenho de investimento”.
Adianta que “o primeiro marco do posicionamento da Caixagest, no âmbito da sustentabilidade, foi o lançamento no início de 2017 do fundo multiativos Caixa Investimento Socialmente Responsável. A incorporação recente da filosofia ISR no fundo de ações europeu e a adesão aos Princípios para Investimento Responsável das Nações Unidas (PRI) reforçaram esta estratégia. Pretende-se que esta visão se traduza num futuro próximo em novas iniciativas com reflexo na oferta disponível para os clientes da Caixagest.”

 

Nuno Serafim, Administrador da IMGA

“Depois de quatro subidas de juros em 2018, a FED prometeu ser paciente, estando neste momento descontados 3 cortes de taxas este ano. Na Europa, mesmo em fim de mandato, o presidente Draghi prometeu novos estímulos perante a incapacidade do BCE em atingir o objetivo de inflação (2%). Apesar da narrativa expansionista dos últimos dias, acreditamos que é mais realista esperar apenas por 1 a 2 cortes de 0,25% por parte da FED, o que pode ser pouco face às expetativas do mercado. Na Europa, apesar de Draghi não reconhecer qualquer limitação nas ferramentas à sua disposição, os estímulos deverão reduzir-se a um máximo de dois cortes de 0,10% na sua taxa de depósito a partir de setembro. A possibilidade de um novo programa de compra de ativos está também em cima da mesa e o TLTRO será reeditado no 2º semestre”. E num ano marcado pelas incertezas geopolíticas os retornos são obtidos “com carteiras compostas por ativos diversificados em termos de risco e retorno e objetivos de médio/longo prazo. Os investidores que em 2018 simplesmente “atiraram a toalha ao chão”, perderam o maior rally de ativos de risco dos últimos 20 anos, em apenas em 6 meses.
E “sem dúvida” que a sustentabilidade, a ética, o clima e a demografia são temas para potencial investimento. “A evolução demográfica afeta e continuará a afetar o retorno potencial dos ativos pelo que terá de ser um dado de input em qualquer análise. A sustentabilidade, governação e política de impacto ambiental estão a entrar nos deveres fiduciários dos investidores profissionais pelo que, nem que seja por uma questão de alocação de capital, poderão representar uma oportunidade para os investidores”.
Sobre opções de investimento de maior rendibilidade diz acreditar que “os fundos de alocação, que combinam várias classes de ativos, são a forma mais sensata de investir a médio prazo. Considerando o atual contexto de descida das taxas de juro e menor suporte ao dólar norte-americano, a Dívida de mercados emergentes poderá revelar-se uma boa opção em termos de rendibilidade ajustada pelo risco”. E quanto a refúgio são as “obrigações governamentais IG, ouro, dólar e iene são os ativos de refúgio por excelência. No entanto, considerando que na área Euro cerca de 50% das emissões de governos negoceiam com yields negativas, estas poderão ser uma opção com custos mais elevados.”

 

João Pina Gomes , Responsável pelos FI do ABANCA Portugal

“O ano em que o “bull market” celebrou o seu décimo aniversário, ficou marcado um dos melhores primeiros semestres da história. O S&P 500, por exemplo, subiu mais de 17% durante a primeira metade do ano. Foi a melhor primeira metade do ano para o índice desde 1997. E a Reserva Federal norte-americana (Fed) não cortou as taxas na sua reunião de Junho. Indiciou, no entanto, que pode haver cortes de taxas num futuro próximo. Os setores mais sensíveis ao ciclo económico reagiram bem a esta mudança de tom por parte do Fed. Na Zona Euro o presidente do Banco Central Europeu (BCE) deu a entender que poderá haver novas políticas monetárias expansionistas se o objetivo para a inflação não for atingido. Estas alterações poderão contribuir para estender a longa expansão económica, refletindo-se nos mercados financeiros”.
E num ano de incertezas geopolíticas “nunca é possível garantir retornos. O que se pode fazer é tentar obter retornos superiores aos do benchmark de referência (nos casos em que existe um benchmark de referência). Depois de um bull market de 10 anos e de um primeiro semestre de 2019 francamente positivo para muitas classes de ativos, é natural que no futuro próximo haja um incremento da volatilidade. Dito isto, poderá fazer sentido tornar os portfólios mais conservadores. Por exemplo, aumentando a qualidade da componente obrigacionista, reduzindo a componente acionista ou incrementando a liquidez das carteiras”.
E a sustentabilidade, a ética, o clima e a demografia são “claramente” temas para potencial investimento. “Particularmente no Abanca, um banco que se quer tornar numa referência em investimentos que sigam o critério de referência ESG (Environmental, Social & Governance). Os investimentos que seguem critérios ESG são cada vez menos apenas uma moda e vão, inevitavelmente, fazer cada vez mais parte dos portfólios dos clientes”. Por outro lado e até agora forma os “mercados de ações os que proporcionaram as maiores rendibilidades. Daqui para a frente, as tensões comerciais e geopolíticas deverão determinar o comportamento das principais classes de ativos. Num mundo de yields baixas, ativos que distribuam cash-flows deverão ser fundamentais.
Os ativos de refúgio deverão ser as obrigações do tesouro das principais economias mundiais (treasuries ou bunds, por exemplo) mesmo num cenário de baixas taxas de juro. Estas obrigações proporcionarão sempre alguma resiliência aos portfólios.”

 

Carla Bergareche, Diretora-Geral da Schroders Portugal e Espanha

“O BCE acaba de nomear Christine Lagarde como nova presidente, mas pensamos que a política monetária do banco central será na generalidade mantida. Se as perspetivas de inflação não melhorarem, acreditamos que poderá haver maior flexibilização das políticas. A FED não cortou as taxas de juros na reunião de junho, mas indicou que podem haver cortes mais à frente, como uma medida de contingência para manter a economia no caminho certo. Pode dizer-se que o espaço da política monetária convencional é limitado nos mercados desenvolvidos, uma vez que a flexibilização quantitativa é, em linhas gerais, uma opção, mas provavelmente vai precisar de ser complementada com políticas fiscais”.
Por outro lado “a mudança social e ambiental está a decorrer mais rapidamente do que nunca. As mudanças climáticas, mudanças demográficas e a revolução tecnológica estão a remodelar o nosso planeta. As empresas que se conseguirem adaptar e prosperar terão mais sucesso na atração de clientes e funcionários e conseguirão expandir os seus negócios. Uma abordagem de investimento ativa e voltada para o futuro é necessária para compreender o impacto dessas forças. Isso significa entender como uma empresa interage com a sociedade e seu ambiente, bem como analisar suas linhas de lucro. Hoje, os investidores querem retornos, mas também querem que os seus investimentos ofereçam melhores resultados para a sociedade como um todo”.
E sobre as opções de investimento de maior rendibilidade e tendo em conta a “mudança de postura da Reserva Federal achamos que as ações dos mercados emergentes têm algum potencial. As ações dos EUA também mantêm o ímpeto e são uma das mais fortes entre os principais mercados de ações. Indo além das ações, as avaliações de crédito são atraentes, mais do ponto de vista de curto prazo, apresentando uma oportunidade num cenário de flexibilização da liquidez global. Numa perspetiva de longo prazo, os títulos corporativos europeus são uma boa oportunidade.”
Por outro lado as “commodities como ouro e títulos governamentais ainda são a referência no que diz respeito a ativos defensivos, em períodos de stress, mas podem-se acrescentar moedas como o iene japonês e ações de volatilidade mínima e de consumo, que podem ser consideradas um pouco mais arriscadas dentro dos ativos defensivos”. E num ano de incertezas geopolíticas “a nossa análise central sugere que estamos a caminhar para um mundo de menor crescimento e menor retorno, consistente com as tendências demográficas e de produtividade. No longo prazo, espera-se que as ações superem as obrigações e os mercados emergentes superem as dos países desenvolvidos, mas o nível absoluto de retornos provavelmente será menor do que no passado recente. Além disso, esperamos que a volatilidade seja mais alta à medida que a política monetária se normaliza.
Toda esta análise sugere que podemos esperar uma maior divergência no desempenho entre classes de ativos e mercados, com maior foco em fatores individuais ou idiossincráticos. Embora os mercados financeiros possam oferecer retornos mais moderados e tornarem-se mais voláteis, o foco na criação de alfa – para ultrapassar o mercado – e a diversificação devem continuar a ser uma prioridade. Estar atento a estas tendências é importante e constitui uma das vantagens que a gestão ativa de ativos oferece aos investidores.”

 

Susana Vicente, Diretora de Investimentosdo GNB

“O tema base é a sustentabilidade. As questões ambientais, a ética social, as tendências demográficas são fatores a ter em conta quando falamos em sustentabilidade. Os gestores olham cada vez mais para estes temas, procurando empresas que beneficiem destas tendências. Por outro lado temas como o ambiente ou os princípios éticos são um grande foco em termos de sensibilização comportamental da população e isso vai refletir-se nas suas decisões de investimento. Também no contexto legal vemos estes temas presentes nas agendas políticas. Desta forma, são temas catalisadores e desafiantes e que podem gerar oportunidades ao nível do investimento.
É nesta tipologia de empresas que o nosso fundo NB Momentum mais investe, procurando a sustentabilidade dos resultados. A análise tem sempre que ser acompanhada por outros fatores fundamentais em termos de contexto de valorização. Ou seja tem que existir potencial de valorização do preço do ativo”. Por outro lado as opões de investimento de maior rendibilidade estão dependentes do “momento e das valorizações”.
Sobre ativos de refúgio num contexto de taxas de juro bastante baixas “os investimento de menor risco (mais defensivos) tenderão a ter uma rentabilidade potencial muito limitada. Desta forma, os chamados “ativos de refúgio” como dívida governamental de países com economias fortes ou instrumentos de mercado monetário como os depósitos tenderão a proporcionar retornos muito baixos ou mesmo negativos. Para tentar ter um retorno um pouco mais competitivo os investidores terão que correr algum risco, em ativos menos defensivos, sempre de acordo e tendo consciência da sua tolerância à volatilidade e a perdas potenciais. A diversificação do investimento por produtos e ativos é fundamental.”

 

Luis Carvalho, Administrador da CA Gest

“Durante o segundo semestre o desempenho dos ativos (obrigações e ações) deverá manter-se correlacionado e guiado pelas expetativas relativamente às políticas monetárias por parte dos principais bancos centrais. As tensões comerciais entre EUA e China, a indefinição relativamente ao Brexit e os focos de tensão geopolítica existentes antecipam um segundo semestre mais tático. Por outro lado com o cenário atual: abrandamento da atividade económica; incerteza geopolítica e tensões comerciais motivadas pela postura dos EUA será expectável um a dois cortes preventivos por parte da FED. No caso do BCE, acrescem preocupações com a inflação que se tem mantido persistentemente baixa, não subsistindo grande margem de manobra no que se refere a cortes adicionais de taxas de juro nem grandes certezas quanto ao impacto positivo que cortes adicionais possam alcançar. Assim, a par de um eventual corte, o regresso ao programa de compra de ativos poderá ser uma possibilidade. Estas possibilidades já se encontram, no entanto e parcialmente, descontadas nos preços dos ativos”.
Sobre temas de potencial investimento “o clima e a demografia são temas estruturantes que implicam alterações ou criação de políticas para que possam ser devidamente endereçados. Dificilmente, pelos atuais níveis de endividamento, poderão ser os Estados a assumir sozinhos os custos da implementação dessas políticas, tal exigirá a participação do sector privado e eventuais oportunidades de investimento atrativas. Na indústria, a sustentabilidade e a ética são já variáveis centrais no processo de decisão de investimento, atendendo a que cada vez mais os investidores confiam as suas poupanças a equipas profissionais mais sensibilizadas para as questões da sustentabilidade dos negócios. Da mesma forma, toleram cada vez menos o investimento em empresas onde são detetadas falhas a nível ético e de “governance”.
Por outro lado no “segmento de obrigações, a dívida de mercados emergentes confere no atual contexto uma rendibilidade esperada atrativa face ao risco incorrido. Já nas ações, apesar da fase já tardia do ciclo económico e das valorizações mais dispendiosas em algumas geografias, é indiscutível que o suporte monetário dos bancos centrais se assume enquanto um importante “driver” a médio prazo. Por seu lado as “obrigações, nomeadamente as maturidades mais curtas das geografias “core”, são escolhas naturais para investidores que privilegiam proteção de capital em fases de maior aversão ao risco. Outra das opções, talvez um pouco menos convencional, seria o investimento em metais preciosos (como o ouro e a prata). O “cash”, taticamente, pode ser igualmente uma opção, atendendo às baixas “yields” praticadas pelas obrigações de refúgio”.
Adianta que as incertezas geopolíticas retiram previsibilidade à criação de potenciais cenários económicos. Sendo de difícil antecipação, para avaliar o eventual impacto desses riscos a nível do desempenho dos ativos é necessário ter em consideração a longevidade e natureza disruptiva dos mesmos, assim como a sua capacidade de alterar o cenário fundamental base. Se o potencial disruptivo for elevado podemos antecipar um “repricing” dos ativos e consequente aumento da volatilidade, caso não o seja a promessa de estímulos dos bancos centrais poderá continuar a conferir uma envolvente de suporte às principais classes de ativos.”

 

João Queiroz, Diretor de negociação eletrónica GoBulling, Banco Carregosa

O tema da responsabilidade social tem ganhado terreno entre os investidores. “Tem registado uma crescente atratividade constatada, por exemplo, pela rentabilidade acumulada que, desde 2014, gerou retornos médios anuais de aproximadamente +8%, excepto a desvalorização de -7.0% em 2018. Mas este ano a rentabilidade do investimento em responsabilidade representa já +15%”.
O diretor de negociação eletrónica do Banco Carregosa considera que “os investidores crescentemente valorizam o investimento responsável e as finanças com boas práticas”, que cobrem realidades tão dispares como “o pagamento adequado de salários em economias emergentes, a igualdade de género, as indústrias que investem na redução e irradicação da poluição”, entre outras.
Entre os ativos que oferecem melhor rentabilidade, João Queiroz salientou as “empresas tecnológicas”, uma vez “negoceiam a prémio face aos seus comparáveis” e que “têm representado o centro das atenções e que os investidores consideraram como tendo maior capacidade para se capitalizarem a prazo, pelo que as suas avaliações tiveram capitalizações bolsistas de dez a quinze vezes o valor das suas receitas”.
Quanto aos ativos de refúgio para os investidores defensivos, João Queiroz referiu os “activos de renda fixa, como obrigações com notação de risco, e as ações de empresas com resiliência na geração de “free-cash-flow”, ou de geração de meios libertos com representatividade face às suas receitas anuais”.
“Em períodos de maior incerteza aumenta o interesse em estratégias que objectivem a preservação de capital, mesmo que possam corresponder a perdas de capital, mas sem significado, porém previsíveis, onde se recorre à exposição a instrumentos de crédito de curto prazo, metais preciosos tão diversos como ouro, prata, platina, paládio, ródio, etc., e a manutenção de elevada liquidez para oportunísticas entradas no mercado e com prazo pré-determinado. Claramente a perspectiva mais equilibrada é a diversificação por instrumentos financeiros que represente liquidez e diversificação sectorial, geográfica e a diferentes segmentos de clientes e padrões de consumo.
As ações com capacidade defensiva, que tendem a ser privilegiadas, pautam por um longo track-record de remuneração ao acionista”.

 

Emília Vieira, CEO & Fundadora da Casa de Investimentos

Não tem dúvidas que a que ética, a sustentabilidade, o clima e a demografia constituem oportunidades de investimento. “Somos investidores em valor, o que significa que procuramos negócios com vantagens competitivas duráveis a longo prazo. Gostamos de os comprar a desconto do valor intrínseco. No processo de definição do valor intrínseco das empresas, torna-se fundamental a construção de uma tese de investimento que procure definir a evolução futura do negócio em termos dos mercados relevantes e receitas, margens operacionais.Temas como os referidos estão tipicamente incorporados nessa visão do futuro e são impulsionadores importantes para o crescimento e evolução das empresas. O caso da demografia é um excelente exemplo: o envelhecimento da população mundial irá aumentar a necessidade de cuidados de saúde geriátricos, aumentar as despesas em medicamentos associados ao envelhecimento ou ainda fazer aumentar o consumo de dispositivos médicos.
Entre as ações com maior rentabilidade, destacou “ o investimento em ações por considerarmos que as empresas são os motores do progresso, representam a aposta no engenho humano e na criação de riqueza. É também nossa convicção que, para quem investe a longo prazo, são menos arriscadas. No atual enquadramento de taxas de juro em mínimos históricos na Europa, os depósitos a prazo e as obrigações (cerca de 50% da dívida soberana europeia encontra-se com yields inferiores a zero de acordo com dados da Tradeweb) não têm qualquer rendimento.
A gestora de ativos disse que os ativos de refúgio remetem “para uma gestão excessivamente ativa, que é vendida pelos bancos de investimento e pela imprensa financeira, obcecada pelo Risk On / Risk Off, como se o risco fosse um interruptor fácil de ligar ou desligar a cada momento, conforme a conveniência. Esse tipo de excesso de atividade só beneficia as corretoras, que são quem lucra com as comissões associadas”.

 

Pedro Lino, Analista da Dif Broker

As mudanças na gestão de investimento surgem com “ a introdução da sustentabilidade social e ambiental, bem como o governo de sociedades”. “A tendência é para que, em primeiro lugar, os fundos de investimento aumentem a exposição às empresas que têm mais consciência social ou contribuem para melhorar o ambiente social, económico ou ecológico. Os investidores mais jovens têm uma preocupação acrescida com a sustentabilidade ambiental, com os fundos e empresas que têm essa consciência a poderem sair beneficiados”.
Neste momento, entre os ativos com maior rentabilidade surgem as opções “expostas à adopção e utilização de novas tecnologias a modelos de negócio antigos, criando disrupção em negócios tradicionais. Exemplo claro são a Uber, Amazon, Beyond meat”, entre outras. “A proposta do Facebook em entrar no mercado das criptomoedas poderá representar uma revolução no mercado, criando oportunidades de investimento”.
Sobre os ativos refúgio, Pedro Lino explicou que “são normalmente as empresas que têm um balanço e negócio sólido, com baixo entrave à entrada de concorrentes e que pagam dividendos significativos”. E, por outro lado, “alguns investidores consideram o ouro e algumas criptomoedas como investimentos alternativos e defensivos, uma vez que o actual sistema financeiro e decisões dos bancos centrais propiciam a fuga para um sistema monetário alternativo. No entanto a incerteza regulatória e volatilidade deve ser olhada como um entrave a este tipo de investimentos que não é aconselhável a todos os investidores”.

 

Paulo Freire de Oliveira, CEO da BPI Gestão de Ativos

“Até há pouco tempo a incorporação de fatores ESG no processo de decisões de investimento era algo opcional e de nicho. Neste momento é algo que se tornou “mainstream”.
Atualmente na indústria de gestão de ativos existe obrigação e necessidade de considerar fatores não financeiros no seu processo decisório (alguns de cariz qualitativo) que permitem melhorar o binómio risco/retorno desses investimentos. Um processo de investimento socialmente responsável, além de evitar alguns riscos assimétricos de cariz reputacional, contribuí para uma melhoria do governo das empresas e para um escrutínio mais intenso das responsabilidades ambientais de cada uma delas. Deste processo de investimento holístico resulta a escolha de empresas que no seu conjunto apresentam uma melhor relação risco/retorno. Adicionalmente começa a haver por parte dos investidores (principalmente dos institucionais) a exigência que a sua poupança seja investida em activos que contribuam para a sustentabilidade ambiental e social.
Deste modo, mais do que um tema de investimento, o investimento socialmente responsável passou a ser algo intrínseco a todo o processo de investimento. A BPI GA já está integrada neste novo paradigma. Sendo signatária dos Princípios das Nações Unidas para o Investimento Responsável (UNPRI), a BPI GA está comprometida em que os seus investimentos sejam regidos por critérios ESG que complementam naturalmente a decisão económica e financeira que é a base da seleção de investimentos”.
Sobre alocação de ativos “nunca se deve tomar uma decisão de investimento baseada apenas na rendibilidade. A análise de rendibilidade deve ser sempre acompanhada por uma análise de risco desse ativo, estratégia ou carteira. A decisão final deverá então ser feita com base nas preferências de risco de cada um escolhendo qual o ativo que melhor relação retorno/risco apresenta para essas preferências de risco. Tendo em conta esta lógica de risco/retorno que deve guiar todas as decisões de investimento, é natural que atualmente os ativos de taxa fixa (obrigações) de elevada qualidade creditícia que apresentam rentabilidades muito baixas ou mesmo negativas não sejam atrativos. O mercado acionista, apesar de não estar barato, apresenta ainda potencial de valorização partindo da premissa que não haverá nenhuma disrupção no crescimento económico global”.
Por outro lado “no atual enquadramento económico com taxas de juro negativas para o investimento sem risco, não é fácil encontrar ativos refúgio que não tenham uma rentabilidade negativa. Deste modo é mais importante do que nunca uma correta diversificação de carteira que permita uma solução de equilíbrio entre a rendibilidade esperada e o risco suportado.”

 

Nuno Caetano, Analista de Mercados da Infinox

“Este tipo de investimentos tem vindo a ganhar cada vez mais adeptos. Praticamente todos os setores económicos e políticos assumiram novas bandeiras relacionadas com o ambiente e a sustentabilidade, e a indústria de fundos de investimento não é exceção, antes pelo contrário, uma vez que já tem dado resposta há muitos anos.
Existem vários estudos que dizem que os hábitos de consumo e de estilo de vida leva a novas ações de investimento sustentáveis, e cada vez mais temos investidores a acreditarem que o investimento sustentável pode ajudar a obter melhores rentabilidades no futuro. Praticamente todos os estudos indicam que os Millennials estavam a investir uma proporção maior de toda a sua carteira em investimentos sustentáveis do que as gerações mais velhas.
Devido à recente alteração de estilos de vida e maneiras de gestão, os investidores acreditam ter melhores rentabilidades a investir em empresas mais focadas na gestão de questões ambientais, sociais e de governança, e que terão melhores resultados em vez de ser apenas uma escolha de consciência.
Tem-se vindo a notar que as instituições tem adotado esta filosofia para mostrar que são socialmente responsáveis. Os responsáveis pela indústria sabem que os investidores estão cada vez mais preocupados com o tema e a procura por este tema tem vindo a crescer todos os anos.
Indústrias ligadas ao armamento, indústria pesada e petrolíferas têm perdido investidores nos últimos tempos para estes ativos”.
Quanto às opções de investimento com maior rentabilidade, o analista respondeu que “nos últimos anos o setor tecnológico tem sido a classe de ativos que apresenta melhores rentabilidades. Em 10 anos, a rentabilidade do maior índice de ações do mundo S&P500 foi de 220%, o NASDAQ-100 (índice das maiores empresas tecnológicas) teve um retorno de 480% – mais do dobro do índice acionista de referência”. Além disso, “as empresas tecnológicas têm melhor desempenho na bolsa porque têm uma capacidade de gerar lucros mais rápido que as empresas de indústria tradicional.Numa altura de máximos na bolsa norte-americana podemos dizer que no curto-médio prazo uma correção em baixa será o mais provável. Nesta altura as probabilidades caem sobre os mercados emergentes, como o Brasil, Africa do Sul, e os mercados asiáticos nomeadamente os tigres asiáticos – Singapura, Coreia do Sul, Hong Kong e Taiwan”.
Sobre os ativos de refúgio, alerta que “estamos numa altura em que os ativos tradicionais de refúgio oferecem cada vez menos rentabilidade. Os preços das obrigações sem risco estão em máximos e o preço do ouro está em máximos de relativos”. Em Portugal, “
a rentabilidade acumulada de um investimento em dívida pública portuguesa nos últimos 5 anos foi de 45%. A expetativas do mercado para os próximos 5 anos é de 0%.
Contudo, podemos diversificar a nossa carteira com ativos com menor risco, como ações pouco voláteis. Em Portugal temos uma favorita, a REN, que apresenta um preço estável e um retorno em dividendos anual de 7%. Existem diversas ações desta categoria como alternativas para os investidores numa altura que os ativos sem risco não têm qualquer projeção de rentabilidade.
Nos últimos anos temos visto muitos portugueses a investir em obrigações de empresas nacionais como alternativa, na qual uma carteira bem diversificada destes títulos pode ser uma boa solução”.

 

Miguel Taledo de Sousa, Diretor Adjunto do Bankinter Gestão de Ativos

“Esperamos um segundo semestre de 2019 genericamente construtivo em ativos de risco, beneficiando de uma postura mais “dovish” dos principais bancos centrais dos dois lados do atlântico, e de um resiliente ciclo económico nos EUA, que continua a ser o motor da economia global.
Achamos desde o início do ano que a economia da Zona Euro irá ser o segundo maior desafio de 2019, atrás dos mercados emergentes. Desta forma, o BCE teve de reconhecer nos últimos meses que os níveis de consumo agregado e a criação de emprego na UE são insuficientes para atingir o ritmo de crescimento económico pretendido e a correspondente estabilização da taxa de inflação, pelo que estão naturalmente a contemplar, um regresso a medidas de política monetária não convencionais.
Nos EUA o caso é diferente, a economia norte americana está saudável, a crescer a bom ritmo e com pleno emprego, embora tenha abrandado um pouco nos últimos meses, o que tem criado nos investidores a expectativa de um posicionamento neutral em termos de taxas diretoras, e eventualmente um ou dois pequenos cortes que permitam à Reserva Federal estar na mesma página que os restantes bancos centrais das principais economias desenvolvidas e acima de tudo evitar uma forte valorização do dólar norte-americano, mensagem que o presidente Trump já várias vezes verbalizou”.
Por outro lado, “a incerteza geopolítica é algo com que vivemos nas últimas décadas e já não é tão disruptora como no passado. Em termos de abordagem prática, parece-nos fundamental entender em pormenor as alterações de paradigma sempre que ocorrem, bem como as novas realidades, que muitas vezes estão por detrás dessas incertezas. Veja-se, por exemplo o caso dos EUA, que há 10 anos eram o maior importador mundial de petróleo e que hoje em dia são energeticamente autossuficientes. Isto mudou e continuará a mudar dramaticamente os contornos geopolíticos de algumas regiões e as relações entre países. Entender todas estas dinâmicas e decorrentes incertezas é o primeiro pilar da eficiente alocação do capital dos nossos clientes, tentar antever prováveis evoluções macroeconómicas, sectoriais e geográficas”.
A sustentabilidade, a ética, o clima e a demografia são temas para potencial investimento. “Aliás, na BKGA utilizamos vários instrumentos financeiros que refletem essas preocupações, adicionando à nossa gestão uma dimensão de responsabilidade social e antecipação de evoluções futuras que é imprescindível no mundo atual e no futuro enquadramento regulatório previsível”. Sobre rendibilidades a opção é ações, “o que não quer dizer que todos os índices tenham o mesmo potencial de valorização, nem todas as empresas. Estamos a meio de algumas revoluções tecnológicas e, provavelmente mudança de paradigmas centrais, o que vai permitir a algumas empresas de alguns sectores beneficiar enormemente deste enquadramento. O espaço das taxas de juro atravessa um período pouco comum e em várias moedas os retornos são baixos ou até negativos, o que torna o investimento nessa classe de ativos pouco atraente.”

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