[weglot_switcher]

As “sombras” da ciência

Os investigadores têm sido uma classe invisível desde há muito. Muitos deles vivem, ano após ano, à procura de alguma segurança e estabilidade profissional. Passam anos a fio num limbo de incerteza se, após o fim de mais um contrato terão ou não a renovação do mesmo, sem nunca saberem se verão o seu trabalho, algumas vezes de décadas, desaparecer, caso o mesmo não seja considerado inovador ou merecedor dessa mesma renovação.
15 Julho 2020, 07h15

Uma “nova” classe profissional é o tema deste mês. Dedico-me a falar daqueles que nesta reflexão chamo de “sombras”. Esta é uma classe profissional dividida por diversos “ramos de especialização”, sendo que no artigo de hoje foco apenas uma destas áreas, procurando neste caso, homenagear este ramo que me é muito querido. Este é um grupo muito interessante que existe na sociedade há largos anos na sombra de muitos. Porém, é sobretudo reconhecido e chamado vivamente “à luz”, em momentos de grande angústia e até de crise. Poderemos por isso denomina-lo de um “serviço de urgência” específico.

Não falo aqui da medicina, nem da enfermagem, nem de tantas outras áreas que são também verdadeiros campos de resiliência e que merecem igualmente ser reconhecidas pelo seu trabalho em prol de todos nós. Hoje falo de um outro grupo que passa muito despercebido, como sombra perante a luz; de um grupo que é, muitas vezes, colocado num segundo ou até terceiro plano e, por isso mesmo, faz parte da classe ao qual chamo de “sombras”.

As sombras estão, porém, entre nós! Mas não se preocupem não são “Aliens”, ainda que às vezes pareçam (estou a brincar!) ou até falem uma “língua” estranha, com palavras longas, não muito comuns que apenas o seu grupo de colegas parece compreender! Alguns vestem bata branca, colocam “óculos” estranhos, passam o seu dia fechados dentro de quatro paredes; outros são como eu e tantos outros, observam, registam, analisam, escrevem e … continuam a escrever e … escrevem mais um bocadinho! Falo, pois, dos investigadores científicos!

Os investigadores têm sido uma classe invisível desde há muito. Muitos deles vivem, ano após ano, à procura de alguma segurança e estabilidade profissional. Passam anos a fio num limbo de incerteza se, após o fim de mais um contrato terão ou não a renovação do mesmo, sem nunca saberem se verão o seu trabalho, algumas vezes de décadas, desaparecer, caso o mesmo não seja considerado inovador ou merecedor dessa mesma renovação.

É, por isso, de alguma forma irónico que, neste preciso momento do tempo e da nossa história, sejam estes mesmos investigadores aqueles que estão numa busca incessante para encontrar uma solução à COVID-19. Estas mesmas pessoas que veem, em muitos casos, a sua vida “parada” pela incerteza do seu futuro, são as mesmas pessoas que o mundo anseia, ansiosamente, que, digam “encontramos uma cura!”.

São estes as, ou melhor, algumas das “sombras” que vivem por entre nós. São estes cujo trabalho de “bastidores” passa ao lado de muitos de nós. São estes que, fechados em laboratórios ou no campo em busca de novas informações, trabalham não só em prol da ciência, mas em prol de uma sociedade melhor, mais eficiente, mais sustentável, mais resiliente. São estas “sombras” da investigação científica aquelas que neste tempo de crise são chamados a unir esforços, a colaborar e a tentar superar esta pandemia, como o fizeram em tantas outras, como é o caso do Ébola, do Zika ou do SARS, entre muitas outras, pequenas ou grandes crises que já surgiram.

Contudo, é lamentável que caiam no “esquecimento”, no momento em que os seus serviços são vistos com “dispensáveis”, voltando à sua invisibilidade ainda que nesta continuem, continuamente, a lutar pela sociedade e por todos nós. Mas é talvez ainda mais lamentável que, em pleno 2020, muitos não reconheçam o valor da ciência e talvez por isso a sua ignorância perante o papel que a mesma e os seu atores têm em tudo aquilo que hoje temos, somos e vivemos. Carl Sagan afirmou que “vivemos numa sociedade extremamente dependente da ciência e tecnologia, na qual pouquíssimos sabem alguma coisa sobre ciência e tecnologia”. Muitos esquecem-se exatamente disto: que a ciência (e a tecnologia) é um grande responsável pelo progresso da Humanidade, que a vivenciamos diariamente e, na maioria das vezes, nem nos apercebemos disso. Já pensaram de onde surgiu a eletricidade? Ou as vacinas? Que tal os antibióticos ou os processos de pasteurização dos alimentos? Ou ainda, como é que hoje temos sapatos confortáveis ou telemóveis? Como se descobriram os mecanismos cerebrais ou o que nos faz sentir bem e felizes? São investigadores “sombra” que muito contribuem para a forma como nós hoje vivemos e que são a resposta para estas e muitas outras questões. Por isso, hoje gostaria de agradecer a todos aqueles investigadores que lutam pela cura contra esta pandemia e a todos aqueles que fazem investigação científica com rigor, dedicação e muita curiosidade! Obrigada a todas aquelas “sombras” que mesmo na sombra procuram trazer luz a cada um de nós!

[frames-chart src=”https://s.frames.news/cards/fundos-comunitarios/?locale=pt-PT&static” width=”300px” id=”619″ slug=”fundos-comunitarios” thumbnail-url=”https://s.frames.news/cards/fundos-comunitarios/thumbnail?version=1573121956270&locale=pt-PT&publisher=www.jornaleconomico.pt” mce-placeholder=”1″]

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.