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ASF inclui elevada exposição a dívida portuguesa nas vulnerabilidades específicas do sector segurador nacional

O supervisor alerta para os “potenciais efeitos adversos”, em caso de alargamento dos spreads dos títulos soberanos nos mercados financeiros, em resultado da elevada concentração patenteada pelas carteiras dos operadores nacionais aos três emitentes soberanos: Portugal, Espanha e Itália.
21 Abril 2021, 18h20

A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) realizou um exercício de stress test ao sector segurador nacional, no último trimestre de 2020. Em resultado desses testes de stress, a ASF diz que o sector segurador nacional apresenta, numa perspetiva global, “algumas vulnerabilidades específicas que importa monitorizar”, onde se incluem: “a concentração das carteiras de investimentos em determinados emitentes; o peso dos títulos de dívida classificados no nível de qualidade creditícia mais próximo do limiar de investment grade e a extensão da utilização da dedução transitória às provisões técnicas”.

Portanto, entre as vulnerabilidades específicas está a concentração das carteiras de ativos em determinados emitentes como a exposição soberana ao Estado Português.

A exposição do ramo vida à dívida soberana portuguesa pesa 47% e no ramo não vida 14%.

“A exposição ao soberano nacional gera, conforme esperado, uma proporção importante dos impactos – cerca de um terço para o agregado de participantes – contudo, com significativa dispersão entre tipos de empresa”, lê-se no relatório. A influência do soberano doméstico é seguida pela dos soberanos espanhol e italiano.

“As restantes exposições, compartimentadas segundo buckets de proveniência geográfica e qualidade creditícia, geram efeitos de envergadura limitada quando comparados com estes”.

A ASF diz no relatório que o ambiente de baixas taxas de juro revela-se particularmente desafiador para a rendibilidade do sector segurador e do sector dos fundos de pensões, particularmente no que toca ao retorno auferido nos títulos de dívida de preponderância central nas carteiras dos operadores, com destaque para as exposições soberanas a Portugal, Espanha e Itália.

Isto é, a ASF considera a elevada exposição à dívida pública de Portugal, Espanha e Itália uma vulnerabilidade específica das seguradoras portuguesas.

O supervisor alerta para os “potenciais efeitos adversos, em caso de alargamento dos spreads destes títulos nos mercados financeiros, em resultado da elevada concentração patenteada pelas carteiras dos operadores nacionais aos três emitentes soberanos”.

A ASF reconhece-se que as atuais medidas de política monetária do BCE em vigor – bem como a expetativa da sua não descontinuação abrupta – aliadas ao envelope acordado a nível europeu, contribuem para prevenir os riscos de exposição às dívidas soberanas, e “impactam de forma favorável os custos de financiamento dos soberanos”.

No entanto, alerta a ASF, a pandemia contribuiu para acentuar vulnerabilidades estruturais, como o nível de endividamento dos soberanos, o que pode reacender preocupações quanto à sua materialidade, gerando correções dos prémios de risco.

Paralelamente, a evolução da inflação em contexto de recuperação económica da pandemia, para a qual, a nível europeu, se denotou uma subida relevante no início de 2021, pode também gerar incerteza adicional sobre as taxas de juro, diz a entidade reguladora.

Após os soberanos, são as exposições a dívida privada que geram os efeitos mais significativos, diz a ASF.

Em termos da política de investimentos do mercado segurador, os instrumentos de dívida mantêm-se como predominantes, representando 77,7% do total, com destaque para os soberanos, cujo peso se situa em 45,9%, lê-se ainda no relatório.

Relativamente aos fundos de pensões, os títulos de dívida pública e privada, ainda que predominantes, assumem um papel mais comedido (50,6%), tendo-se observado um ligeiro incremento do peso conjunto destas categorias fruto do aumento do peso dos emitentes privados (1,4 pontos percentuais), que superou a redução verificada nos soberanos (1,2 pontos percentuais), adianta a análise.

A ASF – Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões destaca a relevância destes exercícios [testes de stress] para a avaliação da resiliência do sector aos principais riscos identificados numa perspetiva macroprudencial. “Simultaneamente, a vertente bottom-up do exercício proporciona informação individual em base comum de grande utilidade para a identificação de vulnerabilidades específicas e para o desempenho da supervisão”, avança a entidade de supervisão dos seguros.

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