Jerónimo de Sousa decidiu, ao fim de dezoito anos de mandato, abandonar o cargo de Secretário-Geral do PCP, abrindo caminho à renovação geracional na liderança do partido. Mas a renovação fica-se por aqui, até porque é demasiado tarde para ir mais além.

Paulo Raimundo, escolha nada óbvia – como de costume, pois o PCP faz questão que jamais se presuma que o líder foi escolhido por causa da sua notoriedade pública e porque a eleição do secretário-geral, feita em segredo de conclave, visa também testar a fidelidade da militância –, será um continuador da doutrina. Com um percurso quase desconhecido fora das paredes de vidro fosco da Soeiro Pereira Gomes e do Hotel Vitória, Raimundo desempenhará o papel de guardião do templo do marxismo-leninismo a que o partido se mantém fiel.

Mas o legado que Paulo Raimundo recebe não é auspicioso. Jerónimo de Sousa iniciou o seu mandato conquistando para o partido 14 assentos na Assembleia da República em 2005, mais do que os alcançados nas legislativas anteriores, fruto possivelmente da recente eleição e por apresentar credenciais operárias que os secretários-gerais não ostentavam desde Bento Gonçalves, mas lega ao seu sucessor um partido enfraquecido, com apenas seis deputados e uma representação autárquica minguada relativamente ao tempo em que assumiu as rédeas partidárias.

Tal enfraquecimento do PCP não resulta, porém, de erros de Jerónimo de Sousa, mas da falência da ideologia, que jaz sob os escombros do Muro de Berlim e do colapso da URSS. A Raimundo caberá prestar os cuidados paliativos a um partido fatalmente doente em lento e irreversível declínio.

O destino fatal do partido foi, assim, traçado nos inícios dos anos 90. Ao PCP restavam dois caminhos: ou prosseguir a via falida do marxismo-leninismo ou escolher a rota da agenda pós-materialista, traindo-se. Optou pela primeira, por fidelidade a si mesmo, purgando os renovadores e elegendo Carlos Carvalhas, personalidade politicamente débil que dava garantias aos ortodoxos de que nada mudava, deixando de lado a opção tomada pelos seus congéneres europeus, que resultou no seu generalizado fracasso. Embora tivesse à sua disposição o espaço político da esquerda “colorida”, ao tempo representado por um pequeno PSR, nada garante, portanto, que essa alternativa fosse viável.

Em suma, o PCP deparou-se com a angustiante escolha entre um fenecimento mais lento ou mais célere. Escolheu a longa agonia de cadáver adiado que já não procria, que caberá a Paulo Raimundo conduzir até à derrota final, que, presume-se, já não estará longe. Tarefa ingrata, decerto, mas a única que poderá levar a cabo.