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Astra Zeneca aposta em novos produtos para reverter perdas por fim de patentes

Para fazer face aos prejuízos, a multinacional, que em Portugal emprega cerca de 200 pessoas, está a investir forte na investigação e desenvolvimento (I&D) de novos medicamentos.
12 Julho 2018, 07h10

A multinacional farmacêutica AstraZeneca, uma das 10 maiores empresas do setor a nível global, com vendas que em 2017 atingiram os 22,5 mil milhões de euros, e cerca de 61 mil trabalhadores, está a investir forte na investigação e desenvolvimento de novos medicamentos, para fazer face à contração das vendas que tem vindo a registar nos últimos anos, devido à perda de patentes de alguns dos seus mais bem sucedidos produtos. Entre eles, o Crestor, um medicamento da classe das Estatinas, indicado no tratamento da hipercolesterolemia e na prevenção da aterosclerose, que foi, durante anos, até à perda de patente em Portugal, que ocorreu a 1 de janeiro deste ano, o medicamento mais vendido no país. Em junho último, as vendas da popular estatina somaram apenas 1.078,298 euros, menos 63.5% do que no mesmo período de 2017.

Outra das perdas de patente com impacto significativo nos resultados daquela que é a segunda maior farmacêutica britânica, de acordo com a agência Bloomberg, foi a do Nexium, um inibidor da bomba de protões indicado para o tratamento e alívio dos sintomas de azia e ainda do Seroquel, um antipsicótico indicado no tratamento da esquizofrenia.

As perdas, que se mantêm constantes desde 2015, atingem cerca de mil milhões de euros anuais.

Para fazer face aos prejuízos, a multinacional, que em Portugal emprega cerca de 200 pessoas, está a investir forte na investigação e desenvolvimento (I&D) de novos medicamentos, possuindo atualmente o mais vasto pipeline da indústria Farmacêutica, com 144 projeto de investigação, a maioria dos quais em moléculas para o tratamento de diversos tipos de cancro, doenças cardiometabólicas, e ainda na área das doenças respiratórias.

Um mau momento, que parece ter ficado para trás, revelou ao Jornal Económico Jesús Ponce, o Country President em Portugal. “Estamos a conseguir ultrapassar esse mau período, com o lançamento de novos produtos para as áreas cardiovascular, metabólica, respiratória e um portfólio muito promissor na área oncológica. Acreditamos que estes novos produtos, resultado do maior investimento a nível mundial na área da I&D, que se cifra atualmente em cerca de 25 por cento da faturação global da AstraZeneca (em 2017 foram investidos 5757 milhões de dólares), conseguiremos compensar as perdas que tivemos com o fim das patentes de alguns dos nossos mais importantes medicamentos”

A aposta incide nas três áreas-core da multinacional farmacêutica, sublinha Jesús Ponce “como nas demais áreas em que investimos, queremos desafiar os limites da ciência para conseguir disponibilizar medicamentos que mudem a vida das pessoas, reduzindo a morbilidade e mortalidade associadas às doenças cardiometabólicas, respiratórias e oncológicas e diminuindo, a longo prazo, os fatores de risco associados aos fármacos atualmente disponíveis”. A Asma e a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) são duas das doenças alvo dos medicamentos inovadores, para administração por inalação e também biológicos, que a companhia espera lançar no médio prazo, para a área respiratória, segmento em que a AstraZeneca é líder de mercado.

Outra vertente em que a companhia tem reforçado investimento é da investigação básica, para descobrir as causas e mecanismos de ação das doenças, conhecimento essencial para se conseguir alterar o curso da mesma. Esta aposta, diz Jesús Ponce, tem permitido à empresa desenvolver, entre outros, medicamentos oncológicos cada vez mais individualizados que integram o portefólio de produtos biológicas, terapêuticas target e de reparação de DNA. Nesta abordagem, são utilizadas células do próprio doente que são modificadas de modo a conseguirem atacar vários tipos de tumores. “Pertence a este grupo um medicamento já disponível na Europa para o tratamento de manutenção da recidiva do cancro do ovário sensível à platina em mulheres adultas”, exemplifica o responsável máximo da AstraZeneca em Portugal, para logo acrescentar: “é um medicamento que não só tem apresentado resultados excelentes na indicação para a qual foi aprovado pelas autoridades europeias, como também tem revelado grandes vantagens quando utilizado como terapia target, em diferentes tipos de tumores”.

Na área oncológica, os esforços da AstraZeneca centram-se na investigação de novas terapias para os tumores da mama, pulmão, ovário e hematológico. “já temos disponíveis no mercado, na área do pulmão, o Iressa (gefitinib) e o Tagrisso (osimertinib) que é um TKI de 2ª geração para doentes com cancro do pulmão de não pequenas células metastáticas com mutação positiva de EGFR e T790M. São terapêuticas-alvo muito focadas em mutações específicas, para doentes específicos. Ainda no plano das terapêuticas-alvo, já estamos a tratar doentes com cancro do ovário com mutação BRCA 1 e BRCA 2, o que está a abrir o portfólio dos nossos produtos de reparação do ADN, como é o exemplo do Lynparza (olaparib), um inibidor da PARP (enzima Poli Adenosina difosfato Ribose Polimerase). Ainda na oncologia, estamos a desenvolver terapêuticas de imuno-oncologia, com produtos nossos, com o foco na combinação entre eles, para conseguirmos ganhos acrescidos”, revelou ao Económico Jesús Ponce. Uma estratégia que já deu frutos. Recentemente, nos EUA, foram apresentados os resultados de um estudo que mostra que o Olaparib, em combinação com outros medicamentos é bastante eficaz no tratamento do cancro da próstata. A grande ambição é, revelou ao nosso jornal o Coutry President da AstraZeneca”, conseguir curar alguns tipos de cancro”.

Até 2020, a companhia prevê lançar em Portugal 20 novos lançamentos (produtos, indicações e formulações) nas três áreas-cores referidas atrás.

 

Investir em Portugal é uma prioridade

O investimento em Portugal, de onde sobressai a realização de ensaios clínicos, é uma das prioridades da AstraZeneca. A multinacional investe anualmente 1,5 milhões de euros em I&D. Uma aposta que, justifica Jesús Ponce, “deve-se ao facto de a companhia considerar crucial a criação de evidências a nível local. Neste momento há 16 estudos a decorrer, envolvendo mais de 1000 doentes portugueses. Destes estudos, 4 são ensaios clínicos na área da oncologia, que envolvem cerca de 80 doentes. “iremos iniciar mais dois nos próximos meses, envolvendo as grandes unidades hospitalares portuguesas”, aponta Jesús Ponce”.

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