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Atenções viradas para Jackson Hole com mercados divididos sobre magnitude das descidas até final do ano

O discurso de Jerome Powell será o ponto alto do simpósio anual do banco central no Wyoming, com os investidores e analistas focados em qualquer sinal quanto à magnitude das descidas esperadas dos juros até final do ano. Mercado divide-se entre 75 e 100 pontos de descidas nas próximas três reuniões.
22 Agosto 2024, 07h30

Agosto não tem marcada reunião de política monetária nos EUA, mas o simpósio anual do banco central em Jackson Hole promete marcar a agenda, com os mercados à procura de indícios sobre a evolução dos juros até final do ano. A volatilidade aquando do sell-off do início do mês parece ter acalmado e as projeções quanto à taxa terminal ajustaram já para valores menos alarmistas, dada a probabilidade menor do que se temeu de uma recessão, mas investidores e analistas continuam ansiosos quanto à incerteza em torno da magnitude das descidas.

Com o título ‘Reavaliar a Eficácia e Transmissão da Política Monetária’, o encontro anual da Fed em Jackson Hole, no Wyoming, arranca esta quinta-feira com Wall Street focada em qualquer sinal da liderança do banco central quanto às reduções futuras das taxas diretoras. O turbilhão nas bolsas causado pelo fim do ‘carry trade’ e os medos de recessão está, por enquanto, contido e os dados macroeconómicos mais recentes têm ajudado a afastar estas preocupações, isto apesar das notícias da revisão em baixa nos postos de trabalho criados no último ano.

O Departamento do Trabalho anunciou esta quarta-feira ter revisto em baixa as estatísticas quanto à criação de emprego nos 12 meses anteriores a março deste ano por 818 mil postos, lançando novas dúvidas quanto à real saúde do mercado laboral nos EUA. O tema marcará certamente presença no simpósio anual de Jackson Hole, sobretudo depois de Powell ter sinalizado na conferência de imprensa após a última reunião que não precisaria de ver mais deterioração no emprego para avançar com cortes de taxas.

Numa nota mais positiva, aos dados do retalho em julho, que mostraram um consumo interno resistente, junta-se a primeira subida desde março no índice de confiança dos consumidores compilado pela Universidade do Michigan, que melhorou 1,4 pontos até aos 67,8. Este indicador tem sido afetado pela polarização política nos EUA, sobretudo na antecâmara das eleições, mas a sua melhoria não deixa de ser um sinal positivo para a maior economia do mundo.

“Seria surpreendente se a confiança melhorasse ao mesmo tempo que a economia se deteriorava rapidamente”, argumenta James McCann, economista chefe interino na abrdn. Por outro lado, o abrandamento do mercado imobiliário levanta algumas questões, pelo que é crucial olhar para os detalhes.

As vendas de casas novas desceram 7% em cadeia em julho, uma descida assinalável, mas concentrada no sul do país, onde o furacão Beryl causou graves disrupções.

O cenário é, portanto, claramente menos negativo do que se temeu no início do mês – embora o mercado continue a considerar que chegou a altura para reduzir as taxas diretoras, há oito reuniões seguidas em máximos de 23 anos, entre 5,25% e 5,5%. A grande questão agora é de quanto serão as descidas, sendo que a expectativa passa por cortes em cada uma das três reuniões de política monetária marcadas até final do ano.

Olhando para a FedWatch Tool, da CMEGroup, a projeção do mercado aproxima-se dos 100 pontos base (p.b.) de descidas, o que supera os três cortes de 25 p.b. esperados por boa parte dos analistas institucionais. Para setembro, a única certeza para os investidores é que haverá uma descida, mas 69,5% apostam em apenas 25 p.b., enquanto 30,5% antecipam 50 p.b..

Recorde-se que no rescaldo dos dados do emprego de julho a probabilidade implícita para um corte de 50 p.b. chegou a 96,5%, valor que rapidamente ajustou em baixa.

Para a Goldman Sachs, “uma surpresa dovish será qualquer sugestão que o nível atual de taxas é demasiado elevado, enquanto uma surpresa hawkish seria considerar as atuais condições financeiras demasiado leves”. Recorde-se que no ano passado o discurso do presidente da Fed levou o S&P 500 a perder cerca de 3% no imediato, dados os sinais de que os juros ainda teriam de continuar a subir.

Contudo, olhando para a reunião de dezembro, a divisão é ainda maior: 44,9% dos investidores acreditam num intervalo de referência após a última reunião do ano entre 4,25% e 4,5%, ou seja, 100 p.b. abaixo do atual; uma descida cumulativa de 75 p.b. é o segundo cenário mais provável, com 27,8%, enquanto 125 p.b. de cortes têm uma probabilidade estimada de 23,3%.

Maioria considera “apropriado” cortar em setembro

Continuando a observar-se uma descida da inflação, os membros da Fed consideram que será apropriado avançar com as tão esperadas reduções de taxas, de acordo com as atas da reunião de julho. A “vasta maioria” dos responsáveis pela política monetária norte-americana acreditam que setembro marcará o arranque da descida de juros, embora seja “precisa informação adicional”.

O documento divulgado esta quarta-feira revela mesmo que alguns dos decisores da Reserva Federal argumentaram que a evolução da inflação e do desemprego “pintavam um caso plausível para descer os juros de referência em 25 pontos base (p.b.) nesta reunião ou que poderiam ter apoiado tal decisão”.

Os investidores recebem assim mais um sinal claro de uma mais que provável descida em setembro, isto se os dados continuarem a pintar uma evolução favorável na vertente dos preços. Os dados mais recentes à altura da reunião de julho “aumentaram a confiança [dos membros da Fed] de que a inflação estava a dirigir-se sustentadamente para o objetivo de 2%”, sendo que “os fatores que contribuíram para a desinflação recente deveriam continuar” a sentir-se nos próximos meses.

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