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Atividade na zona euro volta à estagnação com o fim dos Jogos Olímpicos

Os dados dos PMI de setembro não são animadores para a economia europeia e podem mesmo ser o fator decisivo a assegurar novo corte de juros pelo BCE já em outubro, escrevem os analistas, dadas as preocupações com a falta de vitalidade na moeda única.
24 Setembro 2024, 07h30

Depois do impulso dado em agosto pelos Jogos Olímpicos em Paris, a atividade económica na zona euro voltou a contrair em setembro, renovando as preocupações com a vitalidade do bloco europeu e aumentando as hipóteses de novo corte dos juros pelo Banco Central Europeu (BCE) em outubro.

O índice de gestores de compras (PMI) para a zona euro caiu em setembro para mínimos de oito meses, ficando em 48,9 depois de uma leitura de 51 pontos em agosto, isto quando o mercado apontava a 50,6 pontos na leitura desta segunda-feira. A zona euro volta assim a uma situação de contração da atividade, refletindo uma degradação contínua da indústria e uma perda de fôlego dos serviços.

Depois de um balão de oxigénio dado no verão pelas Olimpíadas de Paris, também o sector dos serviços não conseguiu manter o ímpeto, caindo para mínimos de sete meses com uma leitura de 50,5 – ou seja, consistente com um cenário de estagnação no sector. O economista chefe do banco ING, Bert Colijn, argumenta que “o otimismo na zona euro extinguiu-se com a chama olímpica”, com “o sector dos serviços a retomar a tendência negativa agora que os Jogos acabaram”.

Também por países se percebe que França registou a maior queda, com a procura do lado dos serviços a enfraquecer substancialmente, embora a grande preocupação continue a ser a economia alemã. O indicador composto germânico caiu pelo quinto mês consecutivo e tocou mínimos de fevereiro, com a indústria a registar a leitura mais baixa do último ano.

Claus Vistesen, analista da Pantheon Macroeconomics, lembra que “a última vez que o PMI composto caiu a este ritmo, o PIB alemão estava a recuar” – para este trimestre, o cenário dificilmente será melhor do que a estagnação, continua a nota.

O PMI da indústria europeia voltou a cair, desta feita de 45,8 em agosto para 44,8, enquanto o PMI relativo à produção industrial tocou mínimos de nove meses com 44,5 pontos. É o décimo oitavo mês consecutivo que este subindicador se encontra abaixo de 50 pontos, ou seja, espelhando uma situação de contração da atividade, um sinal claro dos problemas estruturais do sector secundário europeu.

A Pantheon Macro acrescenta que a procura continua a cair, com as novas encomendas a recuarem ao ritmo mais acelerado dos últimos dez meses, enquanto as expectativas de emprego também recuaram para os níveis mais baixos desde dezembro de 2020, com um subíndice de 49,3 pontos.

“Com a procura a cair em ambos os sectores inquiridos, não é de admirar que a confiança dos empresários tenha recuado para mínimos de dez meses em setembro e as empresas tenham decidido não contratar mais”, escrevem os analistas do think-tank britânico.

Já o banco ING argumenta que as considerações do relatório Draghi exacerbam ainda mais as preocupações com a saúde estrutural do bloco europeu, com “o estado cíclico da zona euro a ilustrar perfeitamente porque é que a Europa precisa de um impulso”.

“Depois da estagnação que se seguiu ao choque energético, a economia da zona euro mal experiencia qualquer recuperação”, ilustram os analistas do banco neerlandês.

Do lado dos preços, ainda assim, a situação parece mais favorável, com a indústria a reportar uma queda nos custos intermédios e os serviços a experienciarem a subida de custos menos expressiva desde março de 2021.

O foco do BCE tem estado a mover-se dos preços para o crescimento, defendem os analistas, pelo que estes números reforçam a ideia de novo corte em outubro – isto, sobretudo, se “a inflação core não ressaltar em setembro”, argumenta a Pantheon. Olhando para os subindicadores referentes aos custos e expectativas de venda, parece cada vez mais provável que a inflação não registe, de facto, este ressurgimento.

Esta dinâmica combinada com a mexida mais agressiva da Reserva Federal na semana passada e a fraqueza que o euro tem mostrado nos mercados face ao dólar e à libra “dão aos decisores [do BCE] liberdade acrescida para decidir mais agressivamente, caso desejem”, escreve Michael Brown, analista sénior na Pepperstone.

“Em muitos aspetos, este contexto de inflação essencialmente em linha com o objetivo aliada com uma economia real a deteriorar-se sugere que uma ação musculada do BCE é muito mais necessária do que da Fed”, continua o analista.

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