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Ativos sob gestão crescem 12% a nível global em 2024 e atingem valor recorde de 128 biliões

A consultora diz que apesar da evolução positiva, mais de 70% do crescimento das receitas do setor resultou do desempenho do mercado e não de entradas líquidas de capital por parte dos investidores, o que evidencia a vulnerabilidade da indústria a fatores externos e a pressões estruturais que exigem ações urgentes.
4 Julho 2025, 01h27

Os ativos sob gestão encerraram 2024 com o valor recorde de 128 biliões de dólares (face aos 118,7 biliões de dólares em 2023), o que representa um crescimento de 12% ao nível global em relação ao ano anterior, segundo o estudo “Global Asset Management Report 2025: From Recovery to Reinvention”, realizado pela Boston Consulting Group (BCG).

A consultora diz que apesar da evolução positiva, mais de 70% do crescimento das receitas do setor resultou do desempenho do mercado e não de entradas líquidas de capital por parte dos investidores, “o que evidencia a vulnerabilidade da indústria a fatores externos e a pressões estruturais que exigem ações urgentes”.

“Apesar do crescimento registado em 2024, o setor da gestão de ativos continua a enfrentar uma pressão estrutural significativa, marcada pela compressão das margens, mudança no perfil dos investidores e crescente disrupção digital”, afirma Pedro Pereira, Managing Director e Senior Partner da BCG em Lisboa.

“Neste contexto, as empresas líderes no segmento de gestão de ativos estão a apostar em iniciativas com potencial transformador, nomeadamente na adaptação e inovação da oferta, no reforço da escala e consolidação de fluxos e na sofisticação tecnológica e a aplicação de IA para otimização de processos, aumento da eficiência e melhoria do serviço e interação com o cliente”, acrescenta.

Do ponto de vista regional, a evolução dos ativos sob gestão foi marcada por assimetrias, revela a BCG. “Com um aumento acima da média, a América do Norte destacou-se, com um crescimento 14% face ao ano anterior”, refere.

Já na América Latina, o incremento foi também expressivo, na ordem dos 13%, tal como na Ásia-Pacífico (excluindo Japão e Austrália).

Em linha com a média global, o Japão e Austrália mantiveram um ritmo robusto, com um aumento de 12%. Por oposição, e situadas abaixo da média global, as regiões do Médio Oriente e África cresceram 10% e a da Europa, por sua vez, foi onde se verificou menor crescimento, fixando-se nos 7%.

Três tendências que estão a moldar o setor da gestão de ativos, defende BCG

Apesar do crescimento global dos ativos sob gestão no ano passado, a pressão persistente das taxas elevadas, as mudanças nas preferências dos investidores e a disrupção digital estão a pressionar as empresas a redesenhar os seus modelos de
negócio, a acelerar a inovação nos custos e a reforçar o seu foco estratégico.

Neste sentido, a BCG revela três tendências que estão a moldar o setor, uma delas refere-se a mudanças nas preferências dos investidores.

No mercado atual, marcado pela rápida evolução de produtos e canais de distribuição, os gestores de ativos têm duas grandes oportunidades de inovar e diversificar o seu negócio. A primeira é reposicionar-se num segmento cada vez mais competitivo de ativos geridos ativamente. Em segundo, assumir um papel relevante na democratização do acesso dos investidores de retalho aos ativos privados.

Os ETFs ativos estão a atravessar uma fase de forte crescimento. Os exchange-traded fund (ETF), ou fundo de índice, replicam índices bolsistas e são um fundo de investimento negociado na Bolsa de Valores como se fosse uma ação.

Em 2024, 44% dos ETFs lançados foram de gestão ativa, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 39% na última década.

A BCG diz que embora ainda representem apenas 6,5% dos ativos sob gestão em ETFs, “oferecem uma proposta de valor apelativa para os investidores — comissões médias de 0,64%, face a 1,08% nos fundos tradicionais”.

“O acesso dos investidores de retalho aos mercados privados representa uma nova fronteira”, segundo a consultora.

“Os fundos semi-líquidos de ativos privados cresceram mais de cinco vezes nos últimos quatro anos, ultrapassando os 300 mil milhões de dólares em valor líquido. Este crescimento tem sido impulsionado pela procura de retornos ajustados ao risco mais elevados e por um desempenho consistente no longo prazo”, refere a BCG que acrescenta que no entanto, exige a superação de obstáculos como barreiras regulatórias, desafios na conceção dos produtos e reforço da literacia financeira dos investidores.

O segundo é a necessidade de consolidação do mercado e transformação digital. “A aposta em parcerias estratégicas e fusões e aquisições (M&A) está a transformar o setor, à medida que as empresas procuram ganhar escala, alargar a sua oferta e desenvolver competências tecnológicas”, segundo o estudo.

Num estudo que contou com 270 gestores de ativos, a BCG constatou que os gestores, em média, duplicaram o seu volume de ativos sob gestão entre 2013 e 2023, sendo que aqueles que gerem volumes mais elevados conseguem reduzir custos através de sinergias tecnológicas, operações otimizadas e eficiências de processo, enquanto os que gerem menos devem antes apostar em modelos mais simples.

Por fim a terceira tendência que está a moldar o setor é o reforço da gestão de custos com recurso à Inteligência Artificial.

Com o setor cada vez mais focado na eficiência operacional, na agilidade na tomada de decisão e no envolvimento do cliente, a Inteligência Artificial está a emergir como um acelerador-chave para os negócios e a ajudar a reduzir os custos.  Esta tecnologia – que já está a ser implementada nos front, middle e back offices -, está a transformar a automação de processos e de produtos, especialmente em áreas mais complexas como os ativos não líquidos e alternativos.

Face a um contexto de crescente complexidade e pressão estrutural, a BCG sublinha que os gestores de ativos devem apostar em modelos operacionais mais ágeis, na integração estratégica da IA Generativa e na criação de soluções mais acessíveis e diferenciadoras para os investidores de modo a garantir relevância e rentabilidade.

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