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Auditoria à gestão da CGD: Lista de administradores entre 2005 e 2008 abrange Carlos Costa

Marques Mendes anunciou que estava concluída a auditoria à gestão passada da Caixa Geral de Depósitos e que o resultado apontava para o período entre 2005 e 2008 como o mais negro do banco. “Isto significa que gestores que passaram pela Caixa naquele período não vão conseguir no futuro a aprovação do BCE caso a idoneidade tenha de ser avaliada ou reavaliada no futuro”, disse. Ora, entre 2005 e 2008, passaram na administração do banco público alguns dos atuais administradores de bancos e até inclui o supervisor nacional.
  • Cristina Bernardo
10 Dezembro 2018, 10h19

Este domingo, Luís Marques Mendes revelou na SIC que a auditoria à gestão da Caixa Geral de Depósitos (CGD), prometida pelo Governo em 2016 e mandada realizar em 2017, está feita, abrange o período de 2000 a 2015 e concluiu, entre outras coisas, “que a CGD aprovou entre 2005 e 2008 várias operações ruinosas”.

Não é apenas nesse período. “Mas esse período – 2005 a 2008 – é considerado pela auditoria o período mais negro da gestão da Caixa”. Revelou também que a auditoria (feita pela EY) está no Ministério Público a seu pedido há já alguns meses. “O que significa que não é de admirar se um deste dias houver investigações e acusações por gestão danosa da Caixa”, explicou.

Em terceiro lugar, disse Marques Mendes, a auditoria está também no Banco Central Europeu. “O que significa, entre outras coisas, que gestores que passaram pela Caixa naquele período não vão conseguir no futuro a aprovação do BCE para voltarem a ser gestores de bancos em Portugal”, disse o comentador.

Marques Mendes  chamou a atenção para gestores cuja idoneidade tenha de ser avaliada ou reavaliada pelo Banco Central Europeu (BCE) no futuro.

A confirmar-se a informação de Marques Mendes de que o BCE usará o resultado desta auditoria para avaliar no futuro a idoneidade de candidatos a cargos de administrador de bancos por si supervisionados, isto significa que há atuais administradores em funções que correm o risco de não ser reconduzidos, como é o caso de Vítor Fernandes do Novo Banco, e há mesmo o caso de esse período temporal apanhar inclusivamente o atual Governador do Banco de Portugal (BdP).  Pois na lista de administradores da CGD que iniciaram o mandato em 2005 está o atual Governador do BdP (entidade reguladora nacional).

Enquanto vogal do Conselho de Administração da CGD, Carlos da Silva Costa renunciou ao cargo com efeitos desde 30 de setembro de 2006. Carlos Costa foi vogal do Conselho de Administração da Caixa Geral de Depósitos entre 2004 e 2006, com a área internacional. Ocupou lugares de administrador do Banco Nacional Ultramarino (BNU) e do Banco Caixa Geral (Espanha).

A 4 de agosto de 2005 o então ministro de Estado e das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, decidiu alterar o Conselho de Administração da Caixa Geral de Depósitos, escolhendo para a liderar Carlos Santos Ferreira.

Na recomposição dos órgãos sociais da CGD, António Maldonado Gonelha manteve a vice-presidência do banco, continuando o seu mandato como vogais José Joaquim Santos Ramalho, Vítor Manuel Lopes Fernandes, Carlos Silva Costa (atual Governador do Banco de Portugal), Maria Celeste Ferreira Lopes Cardona e Norberto Emílio Sequeira da Rosa. Transitou ainda como administrador Francisco  Bandeira, dos quadros dirigentes da Caixa e Armando Vara, até aí director coordenador da CGD.

Norberto Rosa esteve recentemente em análise para administrador não executivo, independente, do BCP, mas depois acabou por ir para a Associação Portuguesa de Bancos, tendo-se retirado antes que o BCE se pronunciasse sobre a autorização para ir para o banco liderado por Miguel Maya.

O ex-administrador da CGD vai afinal para Secretário-Geral da Associação Portuguesa de Bancos, tendo solicitado a renúncia ao cargo de administrador não executivo do BCP, bem como “a inerente cessação do processo de autorização”. O mercado estranhou esta mudança súbita, mas afinal esta auditoria pode explicar o atraso da autorização do BCE.

A confirmar-se a informação divulgada por Marques Mendes, de que “pessoas que passaram na CGD durante aquele período, se precisarem de ser nomeados para outros bancos e precisarem de passar no crivo do BCE, provavelmente não vão passar”, Norberto Rosa não iria provavelmente ser autorizado pelo BCE para integrar a administração do BCP.

O mesmo problema poderá pôr-se com Vítor Fernandes, atual administrador do Novo Banco. A confirmar-se o que disse Marques Mendes, que os gestores que passaram pela Caixa naquele período não vão conseguir no futuro a aprovação do BCE para voltarem a ser gestores de bancos em Portugal, este administrador poderá ver obstáculos à aprovação pelo supervisor se a idoneidade tiver de  ser avaliada ou reavaliada pelo BCE no futuro.

Carlos Santos Ferreira sai da CGD em janeiro de 2008 e substituiu-o Fernando Faria de Oliveira, atual presidente da Associação Portuguesa de Bancos. Se o período a que se refere Marques Mendes incluir o exercício de 2008, já abrange uma nova administração.

Foi ainda com o Governo de Sócrates, em 2008, que entra para presidente do Conselho de Administração da CGD, Faria de Oliveira, que fica até ao fim de 2010, altura em que sai para a Associação Portuguesa de Bancos. Dessa administração, faziam parte Rodolfo Lavrador (que continua na CGD), ou Jorge Tomé, que era presidente do Caixa Banco de Investimento e hoje é managing partner da Optimal Investment. Mas também Francisco Bandeira, e ainda Norberto Rosa, Pedro de Oliveira Cardoso, hoje candidato à liderança do Bison Bank que ainda aguarda autorização do BCE, e José Fernando Araújo e Silva.

A auditoria que está nas mãos do Ministério Público e do BCE abrangeu cinco administrações. A de António de Sousa que foi presidente do conselho de administração entre 2000 e 2004, tendo sido nomeado pelo Governo de António Guterres. Dessa administração fazia ainda parte o ex-ministro da Indústria de Cavaco Silva, Luís Mira Amaral.

Seguiu-se Vítor Martins, que esteve apenas um ano na CGD, entre 2004 e 2005. Foi escolhido no governo de Pedro Santana Lopes pelo então ministro das Finanças António Bagão Félix. Nessa altura foi nomeada para a administração também a ex-ministra da Justiça de Durão Barroso indicada pelo CDS, Celeste Cardona.

Com a mudança de Governo em 2005, o novo primeiro-ministro, José Sócrates, substituiu Vítor Martins por Carlos Santos Ferreira, que tinha estado à frente da área dos seguros da CGD e do Grupo Champalimaud. Fez um mandato entre 2005 e 2008 e saiu diretamente para a liderança do BCP no início do ano.

Ainda com o Governo de Sócrates, em 2008, entra para presidente do conselho de administração da CGD, Fernando Faria de Oliveira, que fica até ao fim de 2010, altura em que sai para a Associação Portuguesa de Bancos.

Depois em julho de 2011 entra José de Matos, quadro do Banco de Portugal, que completa dois mandatos: 2011 a 2013 e de 2013 a 2015. No novo modelo de gestão da CGD passou a existir um conselho de administração e uma comissão executiva. José de Matos fica CEO enquanto Faria de Oliveira fica como chairman da instituição.

António Nogueira Leite substitui Francisco Bandeira no cargo de vice-presidente do banco estatal. A equipa é ainda composta por Norberto Rosa; Rodolfo Lavrador; Nuno Fernandes Thomaz; João Nuno Palma; Eduardo Paz Ferreira; Pedro Rebelo de Sousa e Álvaro Nascimento.

Em maio de 2013 Álvaro Nascimento passa a chairman da Caixa Geral de Depósitos (CGD) substituindo no cargo Faria de Oliveira.

A administração de José de Matos é em 2014 já composta por  Nuno Fernandes Thomaz; João Nuno Palma; José Pedro Cabral dos Santos; Ana Cristina de Sousa Leal; Maria João Carioca (atualmente administradora da CGD liderada por Paulo Macedo); por Pedro Pimentel; por José Luís Crespo de Carvalho; por José Ernst Henzler Vieira Branco; Eduardo da Paz Ferreira; por Daniel Traça e por Pedro Fontes Falcão.

A auditoria que abrange o período de 2000 a 2015 debruçou-se sobre três áreas principais de análise: concessão de créditos, aquisição e alienação de activos e decisões estratégicas de negócio.

Marques Mendes disse na SIC que “apurou que a auditoria abrange o período de 2000 a 2015, mas que o período entre 2005 e 2008 é o período de operações mais ruinosas da CGD”.

A auditoria não é ainda conhecida oficialmente nem as suas conclusões foram tornadas públicas.

(atualiza com a correção da referência ao nome de Pedro Cardoso que veio do BNU Macau e é candidato a CEO do Bison Bank e espera há meses a autorização do BCE)

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