Numa altura em que as empresas recorrem cada vez mais a soluções alternativas de financiamento, um estudo da consultora Grand View Research estima que o mercado global de factoring cresça entre 6,1% e 8,4% ao ano, entre 2021 e 2028, para mais de 4,3 mil milhões de euros. Em entrevista ao Jornal Económico (JE), Luís Augusto, presidente da Associação Portuguesa de Leasing, Factoring e Renting (ALF), defende que o volume de investimento nos três produtos tem vindo a crescer em 2022, mas que o cenário poderá mudar no próximo ano se as taxas de juros continuarem a aumentar.
Como analisa esta estimativa de crescimento até 2028?
Pelos números que temos e que já foram divulgados do primeiro semestre de 2022, a tendência é bastante positiva. Dos três produtos que compõem o financiamento especializado, em agosto de 2022, no factoring o valor dos créditos tomados regista um crescimento de 25% em relação a 2021. O renting em termos de valor apresentou um aumento de 17% e o leasing, no caso do imobiliário cresceu 16% e o mobiliário com um decréscimo de 16% devido à falta de viaturas, mas mesmo no leasing mobiliário temos a expetativa de que nos próximos anos essa situação possa mudar. Claro que isto é uma análise de hoje, é difícil prever como vão ser 2023 e 2024, mas para já as perspetivas são francamente positivas.
Como estão as empresas em particular as PME a encontrar fontes alternativas de financiamento face ao atual cenário económico?
O financiamento especializado é um sector bastante resiliente em cenários adversos. Tivemos essa experiência com a crise financeira da década passada e agora com a Covid-19, porque são produtos que estão muito próximos da economia e que permitem por um lado, no caso do leasing e renting uma certa previsibilidade do investimento. Em períodos de crise é isso que as empresas e as PME procuram. No caso do factoring por ser um produto de excelência para as empresas em períodos de turbulência, onde procuram garantir o recebimento das suas faturas, por um lado, no caso das exportadoras que procuram garantir que as exportações são feitas e recebidas a tempo e horas independentemente do país.
Que impacto podem ter no leasing e renting o aumento dos combustíveis e taxas de juro?
As perspetivas apontam para uma continuidade do aumento das taxas de juro nos próximos meses. O BCE já subiu as taxas de juro em cerca 125 pontos base este ano e deverá continuar a subir com o objetivo de travar a inflação. Isto para já tem um impacto nas empresas de renting e leasing ao nível do custo do funding, ou seja o dinheiro que vão buscar ao mercado. Havendo uma continuidade de vários meses pode ter um efeito dissuasor no investimento. Para já não temos visto, mas é possível que venha acontecer em 2023. O sector imobiliário continua a crescer não só em valor, como nos novos contratos, mas com o aumento das taxas de juro poderá haver algum efeito dissuasor que para já não se tem feito notar.
De que forma deverá o sector atuar face a este aumento das taxas de juro?
O leasing imobiliário está com taxas fixas a médio prazo e como tal não terá impacto. Evidentemente se a situação durar mais meses ou anos temos o impacto da repassagem desse custo para o consumidor. O que sector financeiro e mesmo as empresas de renting vão procurar fazer é tentarem adaptar-se, estarem junto dos seus clientes e se houver períodos de incerteza tentar adaptar os contratos.
Este sector ainda é controlado de uma forma tradicional pela banca. Que papel pode a tecnologia vir a desempenhar no futuro?
Tanto o leasing como o factoring têm vivido grandes disrupções a nível tecnológico que foram aceleradas pela pandemia. No caso do factoring a completa desmaterialização das faturas, de resto Portugal no próximo ano a fatura eletrónica tem de estar desmaterializada isso é uma vertente. O leasing tem investido muito em financiar investimentos em novas tecnologias, nomeadamente a indústria 4.0, com muitas empresas a não ficarem à espera da ajuda do Estado e procuram financiamento e o leasing tem sido a opção de escolha para essa transformação. No caso do renting, com o aumento de novas viaturas, mais modernas, com menores níveis de poluição e a reforma do parque automóvel português que é um dos mais antigos da Europa.
Que tipo de apoios deveria o Estado prestar ao sector?
Fizemos várias reuniões com o Governo antes da apresentação do Orçamento do Estado para 2023 que acabou por ter aspetos positivos, mas que na opinião da ALF ficou aquém do que se esperava. Continuam a existir aspetos que gostaríamos de ver melhorados, quem sabe na discussão da especialidade poderão ser colmatadas algumas dessas lacunas. Por exemplo, a isenção ou redução das taxas de tributação autónoma para as viaturas. Nas viaturas elétricas a proposta do OE2023 até um pouco em contraciclo com os apelos que foram feitos pela ALF veio retirar essa tributação que já se mantinha desde 2014, mas que agora retirou por completo, dando apenas essa isenção para as viaturas até 62.500 euros. De salientar duas coisas que vemos com bons olhos, como por exemplo as taxas aplicadas a viaturas ligeiras de passageiros híbridos ou plug-in com autonomia elétrica mínima de 50km e a equidade do tratamento da locação operacional de outros produtos financeiros em termos do código ISV [Imposto Sobre Veículos], que não era tratado em pé de igualdade.
Que balanço faz de 2022 e quais são as perspetivas da ALF para o próximo ano?
Este ano tem corrido bem, ainda que haja algum efeito negativo no leasing mobiliário face à ausência de viaturas novas, sendo que o renting consegue prolongar os contratos existentes e no caso do leasing isso não se consegue fazer. Vemos o ano de 2023 com otimismo, mas com alguma prudência porque ainda há muitas incógnitas. A guerra na Ucrânia está a prolongar-se há muito tempo com um impacto grave em termos da inflação que acaba por ter impacto nas taxas de juro e criar alguma incerteza que pode ser dissuasora em termos de investimento. O que os nossos associados têm feito é tentado preparem-se durante 2022 para estarem juntos dos seus clientes, empresas e famílias para tentarem antecipar qualquer dificuldade que possa existir.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com