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Carros elétricos: autonomia ainda é um problema que está a ser ultrapassado

A opção por um carro 100% elétrico ou PHVE é uma alternativa ao veículo térmico e visa reduzir a pegada ambiental. Empresas e particulares estão mais sensíveis ao fenómeno.
12 Setembro 2019, 07h30

A opção por um carro 100% elétrico ou PHVE é uma alternativa ao veículo térmico e visa reduzir a pegada ambiental. Empresas e particulares estão mais sensíveis ao fenómeno.
A ansiedade dos carregamentos tende a desaparecer, consideram os responsáveis das várias marcas que no mercado nacional têm no seu portefólio veículos eletrificados. A autonomia ronda atualmente os 300 km mas rapidamente pode chegar aos 400 km em ciclo WLTP, e dentro de cinco anos pode duplicar com as baterias sólidas de maior densidade energética. As imposições regulatórias fazem o resto. Até final de 2020, as marcas terão de cumprir o limite de 95 gramas de CO2 por km. Acima disso serão aplicadas coimas exorbitantes.
As empresas de renting vivem um novo ciclo muito positivo, embora registem uma oferta residual de soluções, tanto a nível de marcas como de modelos. E, claro, a infraestrutura pública de carregamento impede um processo
mais célere, a par da competitividade de algumas soluções vs. a opção por veículos térmicos.

 

 

Nuno Jacinto, Diretor comercial da ALD Automotive

“As empresas, mas principalmente o setor público, nomeadamente as autarquias têm dado um grande contributo para liderar esta transição energética e avançar para um caminho mais sustentável. Da nossa parte, temos posto em prática diversas ações para apoiar empresas e particulares nesta escolha energética mais responsável. Num exemplo recente, o facto de a CML colocar a frota automóvel no centro da sua estratégia de mobilidade sustentável, confiando na ALD Automotive para a transição energética da sua frota operacional, deixa-nos muito orgulhosos. Os clientes já perceberam que vão existir mudanças e que há alternativas, mas a adesão a estas alternativas tem ainda muito potencial de evolução. Nota-se uma certa inércia motivada pelo hábito, pelas políticas das últimas décadas baseadas apenas em modelos Diesel e também pelo facto dos combustíveis a gasóleo e gasolina não terem o mesmo tratamento ao nível da dedução em sede de IVA. Podemos dizer, que os custos vão ter tendência a nivelar-se e, uma vez vencidas estas barreiras, os modelos a gasolina, híbridos e elétricos ocuparão o seu espaço, tornando-se numa escolha racional e lógica para os clientes”.

Recorde-se que a ALD adquiriu o portfólio do BBVA Automercantil em Portugal e avançou para um acordo de distribuição. E embora o bom caminho esteja traçado, “os volumes de vendas de veículos elétricos ainda são reduzidos, isto quando comparados com os cerca de 21 mil veículos sob gestão que a ALD Automotive apresenta, em que apenas uma percentagem muito pequena são elétricos ou híbridos”. Sobre os valores residuais estes “tendem a refletir o comportamento do mercado de veículos usados que não é exatamente o mesmo que o mercado de veículos novos (…). Convém salientar que o mercado de empresas ainda é dominado pelas motorizações diesel e o mercado de usados continua a demonstrar uma sólida procura destas motorizações, pelo que a ALD monitoriza atentamente todas estas tendências de forma a otimizar o valor da nossa frota, fazendo os ajustes que consideramos adequados”.

 

Ricardo Oliveira, Diretor de Comunicação da Renault

“Apesar de ser um assunto do qual muito se fala a mobilidade elétrica é, na verdade, muito recente. O automóvel tem 120 anos de história (e é verdade que o primeiro automóvel era elétrico) mas a mobilidade elétrica, enquanto propulsão alternativa, tem menos de uma dezena de anos.
Uma percentagem muito elevada das pessoas nunca experimentou um automóvel elétrico e é natural que à volta do tema exista bastante desconhecimento e há, de certeza, um conjunto de ideias feitas em torno da mobilidade elétrica”. Não existem mitos mas ideias pré-concebidas sobre os elétricos: “o automóvel elétrico é caro, o automóvel elétrico tem pouca autonomia, é difícil carregar um automóvel elétrico! É verdade que o automóvel elétrico ainda não é um sucedâneo completo dos automóveis de motor de combustão e, pelo menos, das necessidades que a generalidade das pessoas estima ter com para a utilização do seu automóvel. Mas a verdade é que cabe a cada um escolher a solução de mobilidade que mais se adequa às suas necessidades.
Para um ator pioneiro como a Renault aquilo que sabemos hoje é que a esmagadora maioria das pessoas conhece (ou julga conhecer) os “defeitos” do automóvel elétrico mas quase ninguém é capaz de apontar as vantagens. E elas existem e sobretudo numa vertente que, certamente, será muito apreciada pelos utilizadores e que é a significativa competitividade do custo de utilização de um elétrico. Dito de outra forma, a utilização de um elétrico permite uma poupança substancial na utilização e, também, na manutenção”.
E sobre a ansiedade nos carregamentos “advogamos que quem utiliza um automóvel elétrico deve verificar se tem soluções de carregamento fáceis e acessíveis. E se isso acontecer a verdade é que a ansiedade nem sequer é um problema”. E sobre os fundamentos para a compra de veículo elétrico a conclusão é de que “não é sempre um ato puramente racional, mas existe sempre um critério de adequação mínima às necessidades. A autonomia, por seu lado “tornou-se um chavão e os elétricos de hoje oferecem três vezes mais autonomia que os de 2012 ou 2013”. E sobre o futuro é esperado “um desenvolvimento cada vez mais rápido e provavelmente cada vez mais disruptivo”. E o carregamento é um constrangimento, sendo importante “que o detentor de um automóvel elétrico tenha soluções de carregamento que não dependam exclusivamente da rede de carregamento pública”.
Por outro lado as baterias de segunda vida poderão ser usadas “em complexos habitacionais, industriais e como sistemas de armazenamento de energia para utilização da própria rede elétrica”. A Renault já está a aplicar estas soluções em Portugal, concretamente no projeto Porto Santo Smart Fossil Free Island, mas “num futuro não tão distante assim os próprios automóveis servirão como “local” de armazenagem de energia, a Renault está a testar, em circunstâncias reais, o carregamento bidirecional, também na ilha de Porto Santo”. A nível de carregamento em altas voltagens o novo Zoe já tem um carregador D/C, mantendo na mesma o carregador A/C para a realização de carregamentos rápidos a 50 KW.
E sendo a Renault pioneira no aluguer de baterias, a verdade é que hoje “as duas soluções coexistem em toda a gama e nenhuma delas assumiu a predominância”, sendo que a bateria continua a ser o órgão mais dispendioso num automóvel elétrico”. E contas feitas num comparativo com um veículo a diesel que faça um consumo de 6 l/100 km temos um custo para 100 km de 8,7 euros a gasóleo contra 1,6 euros num elétrico, ou seja, 87 euros versus 16 euros para mil km percorridos.
A Renault é um dos grupos melhor preparados para cumprir o protocolo de CO2 até final de 2020. “Mas sabemos que os esforços não poderão nunca parar e o lançamento de três modelos híbridos em 2020 é mais uma resposta da marca a esta necessidade de cumprimento dos objetivos de emissões”. A comunicação para o entendimento do potencial dos elétricos deve ter em conta que “uma percentagem incrivelmente grande dos consumidores não possui os elementos para estabelecer a comparação de custo de utilização entre um térmico e um elétrico. Os preconceitos e “ideias feitas” resultam muitas vezes do desconhecimento. A mobilidade elétrica é muito recente e, a pouco e pouco, as ideias pré-concebidas irão desaparecer e a informação irá aumentar. Sem estabelecer comparações talvez valha a penas relembrar que há 20 anos um diesel era “barulhento, fumarento e “andava” pouco”. E meia-dúzia de anos depois tornou-se predominante”.

 

Victor Marques , RP da Toyota/Lexus

“Os atuais sistemas híbridos permitem que em média, cerca de 25% dos Km percorridos, e 50% do tempo, sejam em modo 100% elétrico, tendo estes valores sido testados pela rede de concessionários. Isto significa que a Toyota/Lexus tem milhões de km percorridos de modo elétrico, o que permitiu acumular um conhecimento muito extenso relativamente à utilização das baterias, eficiências energética e gestão de ciclo de vida”. E quando se fala em literacia na condução elétrica a conclusão é de que se trata de “uma solução interessante para determinados clientes e utilização mais citadina. No caso de clientes com viagens pendulares de fácil planeamento, a questão da autonomia não é um fator de ansiedade. Com os smartphones e serviços conectados será cada vez mais fácil programar a utilizar um veículo 100% elétrico”. Recorde-se que a Lexus com a gama de modelos com a tecnologia “self charging hybrid” desde 2012 que deixou de ter diesel e foi “uma marca pioneira com o primeiro SUV premium híbrido do mundo em 2004, o RX 400h. Para uso geral os híbridos continuam a ser a melhor solução, pela possibilidade de circular cerca de 50% do tempo em modo elétrico, sem alterar o estilo de vida do cliente”. E sobre ansiedade nos carregamentos a melhor solução é “planear”, sendo que para as viagens pendulares em cidade, “veículos com cerca de 200 km de autonomia serão adequados para a grande maioria”.
O tema onde carregar a bateria é dos mais sensíveis. “O carregamento em casa ou no trabalho é obviamente a situação mais confortável e benéfica, mas existem muitos clientes particulares e empresas para os quais não estão reunidas condições para que isso aconteça. Por isso os postos de carregamento na via pública serão uma necessidade”. Por outro lado, a bateria de um veículo híbrido tem “muita vida para além da normal vida do veículo. Já em 2015 nos EUA a Toyota utilizou baterias do Camry híbrido para substituir um gerador no parque natural de Yellowstone”. E ainda sobre preconceitos e literacia a Lexus tem conseguido com a designação de “self-charging hybrid” procurar “mostrar os benefícios da tecnologia que se carrega quando travamos. Existe ainda o sistema DriveCo que é colocado em todas as nossas viaturas de demonstração no qual um aparelho é ligado e com uma aplicação permite mostrar ao cliente o tempo e a distância efetuada em modo elétrico”.

 

Ricardo Tomaz , Marketing Estratégico da SIVA

Os mitos sobre os carros elétricos existem “nomeadamente sobre o perigo da alta voltagem, por exemplo carregar um elétrico à chuva pode dar choques!, mas há sobretudo desconhecimento sobre as autonomias e sistemas de carregamento”. Sendo que um carro 100% elétrico não emite CO2 na sua utilização “mas a sua produção está longe de ser neutra em carbono. Na realidade produzir um carro elétrico emite cerca do dobro do CO2 da produção de um carro convencional e isso deve-se às baterias. Numa lógica de “life cycle management”, no entanto, o balanço é positivo quando comparado com um carro convencional”. Sobre o futuro temporal 100% elétrico “é mais provável que coexistam várias soluções, para além dos motores de combustão, otimizados com “mild hybrid” por exemplo, o “fuel cell” terá uma importância relevante na mobilidade elétrica”. E se a autonomia limitada tem sido um obstáculo ao crescimento da procura, também é verdade que “à medida que o setor caminha para autonomias médias superiores a 500 km esse efeito irá esbater-se. A VW anuncia autonomias que vão até 550 km WLTP no seu novo ID.3 a lançar em 2020. A capacidade das baterias vai aumentar ao mesmo tempo que as economias de escala e a tecnologia vão fazer baixar o custo de produção do KWh para perto de 100 dólares”. E por que se compra um elétrico? “Resulta de um mix: autonomia, velocidade de carregamento, preço de compra e custo de utilização, e imagem de marca”. E, claro “de pouco serve ter baterias de 500 km de autonomia se demoram 12 horas a carregar”. Nessa resposta a Audi e-Tron lançou o carro mais rápido do mercado a carregar com uma velocidade máxima de 150 KW, ou seja, carrega 80% da bateria, ou 330 km de autonomia, em 30 minutos”. E embora em Portugal a velocidade máxima de carregamento esteja nos 50 KW, os novos VW elétricos carregarão a 125 KW em 2020. E sobre preços a tendência será baixar com o aumento da produção “e o custo de produção de baterias deverá baixar pelo mesmo efeito de escala, mas a evolução dos preços das matérias-primas, lítio sobretudo, pode caminhar no sentido inverso. É uma incógnita”. Sobre as estações de carregamento o Estado tem um papel nuclear, “deve criar condições para aumentar as redes de carregamento rápido no país, enquanto o modelo de negócio em torno dos carregamentos não estiver consolidado”. O país ainda não chegou à centena de carregadores rápidos. “As redes de proximidade, rápida se semi-rápidas, e espaços privados com acesso público, que passaram a poder ser faturados aos utilizadores a partir de abril, deverão ter um desenvolvimento acelerado e o grupo VW estima que 25% dos carregamentos venham a ser feitos nesses espaços contra apenas 5% em áreas de serviço de autoestradas”. E sobre o futuro “é essencial comunicar de forma pedagógica e objetiva os benefícios dos elétricos, não esquecendo que, tal como os carros convencionais, a mobilidade elétrica precisa de uma dose de emoção!”

 

João Trincheiras , Corporate Communications Manager da BMW Portugal

“A mobilidade elétrica e´ uma realidade recente e, por isso, ainda desconhecida da maioria das pessoas que desconhecem o seu potencial impulsionador do desenvolvimento integrado de novas tecnologias, comportamentos do consumidor e modelos de negócio, alinhados com as tendências demográficas e ambientais do futuro. Pelos benefícios que introduz e oportunidades que proporciona, devemos sempre promover a informação e literacia de todo o ecossistema para uma maior consciencialização da sociedade”. Sobre mitos “ainda há algum receio associado à condução elétrica”. Muitas pessoas têm receio de perder o prazer de condução ao passar para um veículo elétrico – o nosso piloto António Félix da Costa poderá comprovar precisamente o contrário, garantindo que desfruta igualmente da condução dos nossos veículos de Fórmula E. Da mesma forma, no BMW Group estamos preocupados em garantir a performance dos nossos veículos elétricos, para que a experiência não se altere. Outro mito está associado à longevidade das baterias, que alguns receiam ser insuficiente. Com os nossos veículos, asseguramos que a longevidade das baterias é suficiente para garantir uma utilização tranquila, dependendo, naturalmente, do tipo de condução e do tratamento que se dá ao veículo. Recentemente, um dos nossos clientes em Portugal confirmou-nos ter completado 217 mil Km ao volante do seu BMW i3, o que seria, para muitos, um valor desafiante para um veículo elétrico”.
E sobre ansiedade nos carregamentos é crucial perceber que “a utilização desta tipologia de viaturas requer um estilo de vida próprio que não é comum a todas as pessoas. O nosso objetivo principal é aumentar a vida das baterias e a densidade da sua potência, para que o processo seja cada vez mais acelerado no carregamento”. A decisão de compra de um elétrico tem em mente a “preocupação ambiental, seguido de fatores como o estilo de vida e as condições de utilização, sendo que a condução urbana e a possibilidade de carregar em casa ou no emprego são dois exemplos”. E com a evolução exponencial as perspetivas vão no sentido de que “muito em breve a autonomia das baterias deixe de ser uma questão de fundo”. E sobre o carregamento e tendo em conta o mercado atual, “quem adquire esta tipologia de viaturas deverá ter condições para carregar as mesmas em casa ou no emprego, sendo o carregamento na via pública é um complemento/alternativa. Isto reflete-se no conforto – ao ter o carro estacionado e podendo carregá-lo durante um período em que sabe que não irá precisar de o utilizar (como durante a noite, por exemplo) –, e nos custos – uma vez que, em Portugal, é atualmente mais económico carregar em casa do que num ponto de carregamento público”. Um aspeto importante no caso da BMW é o facto de as suas viaturas já permitirem carregar em D/C, ou seja em altas voltagens. E sobre custos o exemplo do i3 permite um consumo combinado de 13,6/KWh e para uma tarifa em vazio “estamos a falar de um custo inferior a dois euros”, considerando os primeiros 100 km de percurso.
E sobre o futuro com baterias sólidas e motorizações a hidrogénio a conclusão é de que “é essencial continuarmos a considerar planos B e C para tudo o que fazemos. Há mais de 30 anos que o BMW Group desenvolve um profundo trabalho de investigação em torno do hidrogénio enquanto fonte de energia. Esta continua a ser uma das nossas bandeiras no que diz respeito à mobilidade do futuro. Ainda é, no entanto, uma tecnologia que aporta muitas dificuldades de utilização – nomeadamente armazenamento e distribuição. Iremos continuar esse trabalho, mas sabemos que não representa uma solução para o curto prazo”.

 

António Oliveira Martins, Vice-presidente da ALF

Os crescimentos dos carros elétricos nas frotas das empresas são “exponenciais”, mas “são tendências pouco expressivas em termos de volume”. E os grandes receios dos elétricos nas frotas “têm a ver com as questões de autonomia e da infraestrutura de carregamento, tanto a nível de disponibilidade como de velocidade. Por outro lado, a diversidade das ofertas ainda é reduzida e isso ainda tem reflexos a nível de competitividade destas alternativas”. Um aspeto crucial no renting é assumir o papel de “consultoras de mobilidade”, identificando “as vantagens económicas de se optar por frotas mais ecológicas. O renting tem permitido uma renovação rápida e eficaz do parque automóvel ao nível do acesso à mobilidade híbrida elétrica, bem como para novas gerações de motores a diesel e a gasolina. Isto deve-se ao facto de ser um instrumento que permite reduzir o risco e controlar e prever os custos que estão associados à utilização do automóvel”. E embora numa fase inicial se tenha tratado de uma aposta num setor de mercado com soluções inovadoras a nível de motorizações, começa a haver algum histórico” em termos de pricing.

 

Maurício Marques, Diretor da Locarent

“Crescentemente, as empresas procuram alternativas aos veículos a combustão, com a preocupação de diminuir a pegada ambiental, otimizar os custos com a frota e potenciar os incentivos fiscais, nomeadamente no domínio da Tributação Autónoma, que se tem revelado como um dos principais triggers para as empresas alterarem a sua política de frotas. Nesta fase as empresas têm vindo a privilegiar a opção PHEV dadas as limitações de autonomia e de postos de carregamento ainda existentes. O programa de lançamento de novos modelos elétricos das diferentes marcas, bem como a expansão da rede de postos de carregamento, tenderá a orientar a opção, num futuro próximo, para os veículos 100% elétricos”.
Mas há constrangimentos e de forma sucinta são a autonomia, o tempo de carregamento e o número reduzido destes postos, a par ainda da reduzida oferta e do custo de aquisição. A “boa notícia” é que estes entraves têm solução à vista ”porquanto os temas em questão são genericamente de cariz tecnológico e logístico, situação que rapidamente tende a evoluir”. E precisamente “porque estamos numa fase de forte evolução e mudança tecnológica deste tipo de veículos, que o renting se afigura como a solução ideal, uma vez que desonera a empresa ou particular de qualquer risco de desvalorização a prazo do veículo. O risco de obsoletismo do bem fica, desta forma, a cargo da gestora de renting”. Ainda assim “o peso dos elétricos na nossa carteira é inferior a 5%”.

 

Pedro Pessoa , Diretor comercial da LeasePlan

Os veículos elétricos e plug-in são uma opção real para as frotas empresas devido à “maior consciencialização para as questões ambientais e, por outro, o racional económico que já lhes é favorável. Vivemos um momento em que as questões ambientais começam a ocupar um lugar central na nossa sociedade, devido a uma maior consciencialização de que as emissões dos automóveis contribuem efetivamente para as alterações climáticas e para o aquecimento global. Se por um lado há uma oferta cada vez maior e mais diversificada destas soluções, por outro ainda há alguma incerteza em relação à sua valorização de médio longo prazo, é aí que o renting desempenha um papel fundamental pois garante a isenção de riscos ao cliente. Por esse motivo estamos em crer, a procura por motores elétricos e híbridos plug-in tem vindo a aumentar significativamente no renting”.
Quanto aos constrangimentos estes começam logo pela “oferta ao mercado (que) ainda é de certa forma limitada. Pela oferta de veículos elétricos ou híbridos plug-in ainda não é possível oferecer soluções para todos os segmentos de forma a dar resposta a todas as necessidades da frota de uma empresa. Mesmo dentro do segmento de ligeiros, ainda não há soluções 100% elétricas para todo o tipo de veículos, algo que ainda é mais notório nos ligeiros de mercadorias. No caso dos automóveis de passageiros a oferta é maior, mas ainda fica aquém do desejado.
No entanto, tem-se observado nas marcas e modelos um aumento na disponibilidade de versões, acompanhada de uma produção cada vez maior dessas marcas e modelos”. Relativamente aos furgões comerciais elétricos não são ainda opções de mercado porque não há oferta em quantidade e a preços competitivos. Entretanto, a missão do renting potencia a definição das necessidades das empresas e o plano de frota a incluir elétricos. “Faz parte da nossa missão enquanto líder no mercado de renting e nesta lógica, a LeasePlan é um agente ativo na renovação das frotas. Por outro lado, conscientes do impacto ambiental, assumimos recentemente o compromisso de atingir as zero emissões na nossa frota total até 2030. Nesse sentido, temos desempenhado um importante papel na defesa da adoção da mobilidade de zero emissões, através da informação aos clientes sobre “what’s next” em veículos de baixas emissões, facilitando a adoção deste tipo de veículos com propostas atraentes para os clientes”.
E sem adiantar indicadores percentuais sobre o peso dos elétricos nas frotas, a LeasePlan tem registado uma “procura por motores elétricos e híbridos plug-in muito significativa”. E sem histórico de valores de retoma estes “têm estado alinhados com a nossa expetativa”.

 

Sérgio Ribeiro, CEO e administrador da Hyundai Portugal

“A Hyundai tem feito um esforço enorme para marcar presença em todos os eventos e conferências relacionadas com a temática (dos carros elétricos). Paralelamente, a Hyundai desenvolveu um Tour Ecológico e tem vindo a desenvolver a nível local com os seus concessionários ações de informação para as comunidades”. Por outro lado com “o significativo aumento do parque de viaturas elétricas e plug-in a circular em Portugal é expectável que se sintam cada vez maiores constrangimentos para carregamento destas viaturas. Por outro lado, a pressão na rede de carregamento para manutenção e aumento do número de carregadores rápidos, que ainda representam apenas cerca de 10% do total disponível, é outra verdade”. Também é verdade que “a autonomia das viaturas elétricas vai continuar a ser um dos fatores com maior peso na decisão de compra dos clientes. Tendo em conta que hoje os pontos de carregamento são ainda escassos a tendência de quem pondera a aquisição de um veículo elétrico é de assegurar as rotinas diárias de mobilidade sem perturbações. Este fator é ainda mais determinante quando falamos do mercado empresarial que hoje representa uma fatia significativa deste segmento. Apesar da autonomia ser um fator fundamental, outro fator muito importante é o carregamento rápido e toda a gama ecológica da Hyundai permite o carregamento rápido, nomeadamente o KAUAI Electric e o IONIQ nas versões electric e hybrid”.
E sobre o futuro é expectável existirem “baterias que vão duplicar a densidade energética, levando ao aumento da autonomia dos modelos eletrificados, através de baterias sólidas”. Estas soluções “estarão disponíveis dentro de cerca de cinco anos. A Hyundai tem vindo a desenvolver parcerias neste âmbito, nomeadamente com a RIMAC, para fortalecer a sua posição de liderança na ecomobilidade”.
Sobre benefícios fiscais a existirem “poderiam ser concedidos como contrapartida do abate da viatura antiga a combustão, estando desta forma a contribuir para a diminuição das emissões”. E isso deveria passar por “aumentar a dotação do fundo ambiental, que neste momento ronda os 20 milhões de euros e cobre apenas cerca de mil carros”. Ainda sobre o futuro é legítimo pensar em outros tipos de alimentação e a Hyundai “foi a primeira marca a comercializar um modelo de produção em série a hidrogénio, o ix35, assegurando desde logo a sua posição de vanguarda na ecomobilidade. A Hyundai continua a desenvolver soluções a hidrogénio, onde hoje o Hyundai NEXO é a principal referência. O mais recente modelo fuel cell da marca conta com uma autonomia superior a 600 quilómetros e conjuga num só modelo as duas principais tendências de mercado, uma carroçaria SUV com motorização ecológica”.

 

João Seabra, DG da KIA Portugal

Na eletrificação automóvel “não há verdades nem mitos, há uma tecnologia que está a ser desenvolvida e explorada e que será progressivamente assimilado pelo mercado”. E sobre a ansiedade nos carregamentos “hoje ainda é uma verdade, daqui a 20 anos poderá ser apenas um mito”. Sobre o futuro das autonomias que continua a ser “um fator fundamental na decisão de compra”, estas “irão crescer anualmente a cada novo modelo que seja lançado”. E se se quer “ter sucesso terá que se investir em todos os modos de carregamento, sendo que a dúvida é (perceber) se haverá capacidade de fornecimento de eletricidade e na quantidade que vai ser necessária e quanto é que isso vai custar”.
Sobre as baterias “muitos estudos e experiências demonstraram que as baterias de alta voltagem provenientes de veículos elétricos, quando deixam de ter capacidade para a utilização automóvel, podem ter uma segunda vida longa em utilização estacionáriaa, armazenando energia proveniente de painéis solares ou carregadas pela rede em período vazio, para depois fornecer energia em período de cheia, quer para uma casa, quer para carregar viaturas”. E sobre custos a análise é feita para uma viagem de 100 km com carregamento em supervazio num contrato quadrihorário fica a “menos de dois euros já com IVA”.
E sobre o futuro de baterias a Kia “prevê lançar no mercado o primeiro modelo a pilha de hidrogénio em finais de 2021”.
O papel dos construtores será relevante na perceção da viabilidade dos elétricos. “Não acho que existam preconceitos contra veículos elétricos, acho que hoje há mais preconceitos em relação a motorizações térmicas e, no futuro, depois de todos se informarem convenientemente chegaremos à conclusão que para satisfazer as necessidade de mobilidade das populações e das mercadorias iremos usar todas as tecnologias num mix que se irá adaptando à realidade do contexto”.

 

Miguel Tomé, Diretor de comunicação da Opel Portugal

“A condução de um elétrico relança o interesse de conduzir. A eficiência é a palavra de ordem. Os ganhos em autonomia – o mesmo é dizer, em poupança de energia – são significativos quando se apuram os sentidos para a leitura e antecipação do que acontece à nossa frente, além da técnica de utilizar apenas o acelerador, mesmo para travar, e de aprender a maximizar a utilização dos diferentes níveis de regeneração de energia cinética. A condução de um elétrico é estimulante e divertida”. Por outro lado a ansiedade existe “mas tenderá a desaparecer”, tendo em consideração que a evolução na tecnologia das baterias significará autonomias mais alargadas e “naturalmente uma infraestrutura de recarregamento bem dimensionada, nas suas diferentes vertentes, joga aqui um papel decisivo”. E para a compra deve o cliente considerar não apenas a autonomia, ainda “o padrão de distâncias percorridas, os movimentos pendulares, o tipo de tráfego mais frequente e as características de infraestrutura de recarregamento que se tem à disposição”.
E sobre autonomias a Opel tem o mais recente Corsa-e com 330 km em ciclo WLTP, sendo que “a história recente no domínio das tecnologias já nos ensinou que é um erro tentar ler o futuro com os olhos do presente”. E sobre benefícios e estímulos a conclusão é de que “o Estado e a política fiscal não têm substituto quando se trata de promover a mudança de paradigma. Os incentivos têm de existir num quadro minimamente apelativo”. E sobre o carregamento devem ser consideradas as vertentes da habitação, trabalho e via pública. “É essa complementaridade que permitirá gerar crescente confiança e levantar barreiras à utilização dos elétricos. Há soluções ao virar da esquina. É importante que a vontade e o caminho escolhido pelos decisores políticos acompanhem esta rápida evolução”. E sobre a segunda vida das baterias a resposta pode estar em “soluções domésticas totalmente sustentáveis em que essas baterias interagem com um painel fotovoltaico ou uma pilha de combustível”. E sobre recargas em alta voltagem o novo Corsa-e já pode receber carga rápida de alta potência em corrente contínua. “Isto representa algo como 80% da carga em apenas meia-hora”.

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