A indefinição geoestratégica e a guerra das tarifas que o regresso de Donald Trump trouxe ao mundo no egresso à presidência dos Estados Unidos são tema de “conversa, de alerta e de preocupação” para os empresários portugueses, afirmou esta quarta-feira Rui Garcia, Trade Finance Product Manager do Crédito Agrícola, durante a conferência do Jornal Económico “Rotas do Crescimento”, em Leiria.
Mas essa preocupação não é generalizada e há até casos em que não há qualquer receio da incerteza causada pelas tarifas. Pelo contrário. Rui Garcia deu o exemplo de “uma grande empresa” que exporta bacalhau para 38 países. Questionado este cliente sobre a nova realidade dos EUA, o cliente disse estar “fortíssimo” e a “vender como nunca”, estando até a apostar no mercado norte-americano. Ou seja, trata-se de um cliente, sublinhou o representante do Crédito Agrícola nesta conferência, “zero preocupado” com as tarifas, em primeiro lugar porque “não se lhe aplica”, e em segundo, caso se venha a aplicar, “reverte isso no preço” porque o bacalhau vai vender na mesma. “Ficamos a perceber que neste setor há apetite”, analisou.
A realidade é, no entanto, muito diversa. Rui Garcia deu o exemplo de uma outra empresa do ramo do calçado que manifestou estar “extremamente preocupada” por ter uma “forte exposição aos EUA”, apesar de, por enquanto, não terem cessado encomendas. Há ainda casos em que a ameaça das tarifas pode até levar os compradores do mercado americano a antecipar compras, admitiu Rui Garcia.
Conclusão: O impacto da ameaça das tarifas impostas pelos EUA “varia consoante a característica da empresa e do negócio em si, e da forma como vende e se posiciona no mercado”.
Quando a união faz a força… e o preço
Seja como for, defendeu Rui Garcia, é preciso que as empresas exportadoras “acautelem riscos”. O Brasil foi aqui dado como exemplo, país em que se fala português, mas onde, ao nível dos negócios, sobressaem muitas diferenças que têm de ser tidas em conta. “A forma de negociar, a forma de trabalhar, as tarifas alfandegárias, tudo é diferente” e, “muitas vezes vamos ao engano da língua”. “É preciso estudar o mercado, é preciso perceber que o produto é necessário, qual é o preço, se está adaptado à realidade do mercado (…) Um conjunto de fatores que têm de ser analisados”.
Uma vez “analisados e acautelados esses riscos, digo às empresas aqui presentes: exportem, virem-se para o mercado internacional, é das melhores coisas”, desafiou o especialista do Crédito Agrícola, explicando que os negócios que o fazem “são muito mais robustos, conseguem ganhar escala, são mais inovadores e têm melhor tesouraria”.
Neste ponto, o especialista deu ainda o exemplo de um grupo de produtores de frutos, legumes e flores que, sob a égide de um OP [Organização de Produtores], começaram a juntar-se para exportar para a Alemanha, França, Espanha e a abrir mercados de exportação como a China e outros”.
Passada uma década, a evolução é notória: “Exportavam 750 milhões de euros, dez anos de parceria volvidos exportam 2.5 mil milhões”, mesmo com as crises todas que se passaram desde 2008, sendo que, no global, o setor agrícola exportou 4.2 mil milhões. O caso da exportação das frutas, legumes e flores é, por isso, “um exemplo de [como] a união faz a força e faz o preço, dá escala”, rematou Rui Garcia.
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