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Bacalhôa comprou espaço de 30 mil m2 em Azeitão por 2,1 milhões

Imóvel pode servir para o novo espaço cultural Bacalhôa Berardo Collection (BBC). Especialistas do setor imobiliário consideram que valor pago “é baixo”.
14 Julho 2019, 09h00

A Quinta da Bacalhôa, detida por Joe Berardo e pela sua família, comprou um edifício histórico de 30 mil metros quadrados em Azeitão, por pouco mais de dois milhões de euros. O processo da aquisição do imóvel foi desencadeado há mais de quatro anos e poderá dar origem a um mega-espaço cultural denominado Bacalhôa Berardo Collection (BBC), entre outras possibilidades, avançou ao Jornal Económico fonte próxima ao empresário madeirense. Profissionais do setor consideram que é “baixo” o valor pago pelo espaço que era antes detido pela Transportadora Setubalense – Belos (do grupo Barraqueiro, de Humberto Pedrosa, acionista da TAP).

“A aquisição do edifício concretizou-se no início deste ano, depois de mais de quatro anos de negociações. Foi adquirido pela Quinta da Bacalhôa por 2,125 milhões de euros, descontando outros encargos e impostos como o IMT”, revelou fonte próxima a Joe Berardo. A mesma fonte acrescenta que “ainda não está decidida” a utilização a dar ao imóvel, que pode servir para o novo espaço Bacalhôa Berardo Collection (BBC) ou até para albergar a Coleção Berardo, caso o acordo com Estado termine em 2022. Uma hipótese que não é rejeitada pela mesma fonte, que sinaliza outras possibilidades relacionadas com as atividades da Bacalhôa, as quais incluem, diz, “atividades vinícolas, como o enoturismo”.

Tal como o Jornal Económico noticiou, em primeira mão, a 14 de junho, o imóvel foi comprado pela holding da família de Berardo que atua no setor de vinhos e enoturismo. O valor da operação não foi, na altura revelado, e só agora foi avançado por fonte próxima ao empresário José Berardo, sendo considerado um montante “baixo” pelo presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), Luís Lima.

“Eu conheço o espaço. Atendendo à fase que atravessa o mercado imobiliário, considero um valor baixo face ao potencial do ativo”, defendeu ao Jornal Económico Luís Lima, salvaguardando que não está a fazer uma avaliação técnica, sendo meramente uma opinião. Uma apreciação partilhada por outros especialistas do setor, que solicitaram o anonimato, e que consideram que o imóvel deverá estar avaliado “em vários milhões de euros”, ficando “acima” do valor agora avançado.

Já fonte oficial da rede imobiliária Century 21 não arriscou comentar o valor pago pela Quinta Bacalhôa na aquisição do mega-espaço em Azeitão: “Não temos informação suficiente para fazer um comentário fundamentado sobre a avaliação deste ativo imobiliário”.

Espaço equivale a três campos de futebol
Recorde-se que se trata de um imóvel com um tamanho equivalente a três campos de futebol. Em cima da mesa estão hipóteses como a exploração de um espaço ligado ao negócio do vinho, já que está próximo do Palácio e Quinta da Bacalhôa. Outra possibilidade será vir a albergar a coleção Berardo, se o acordo com o Estado para a sua manutenção no Centro Cultural de Belém (CCB) não for renovado em 2022.

Esta coleção é composta por 862 obras de vários artistas relevantes do século XX, que foram avaliadas pela Christie’s, há mais de uma década, em 316 milhões de euros.

O protocolo entre o Estado e Berardo para a criação do museu que tem o seu nome, no CCB, foi assinado em 2007, tendo sido renovado, em 2016, por mais seis anos. Na adenda ao acordo foi fixado que o acervo irá continuar no CCB pelo menos até 2022, com renovação automática, se não for denunciado entretanto por uma das partes. E manteve-se a manutenção do direito de preferência do Estado no caso de decisão de venda de uma coleção que, segundo especialistas, deverá valer hoje mais de 500 milhões de euros.

Acordo permite a Berardo dispor de coleção
Uma cláusula do protocolo assinado entre o Estado e o colecionador impede qualquer classificação da coleção se não for exercido o direito de opção de compra. As cláusulas contratuais determinam igualmente que o Estado não pode impedir a coleção de sair do país caso termine este acordo de empréstimo das obras. Uma disposição contratual que dá, assim, ‘luz verde’ a Joe Berardo para dispor da sua coleção de arte como entender e fazê-la sair de Portugal ou da Europa, sem que o Estado o possa impedir, caso o acordo entre as partes termine. Se os compromissos desta cláusula forem postos em causa pelo Estado, este “fica obrigado a adquirir a Coleção Berardo pelo valor igual ao preço da data em que o faça”.

A totalidade da coleção Berardo arrisca ser penhorada pelos principais credores de Joe Berardo. Caixa Geral de Depósitos, BCP e Novo Banco querem reaver créditos de 962 milhões de euros concedidos à Metalgest e à Fundação Berardo, através da execução de penhores dos títulos da Associação Coleção Berardo (ACB), proprietária das obras de arte que foram cedidas ao Estado.

Estes são os bens móveis de Joe Berardo sinalizados pelos bancos para penhora no âmbito da ação judicial que interpuseram no final de abril contra o empresário, juntando esforços para executar uma dívida que se aproxima dos mil milhões de euros.

Artigo publicado na edição nº 1995, de 28 de junho, do Jornal Económico

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