O autor, Olivier Rolin, voltaria à cidade em 2009, para rever os lugares do seu desaparecimento ficcional, descrito nesse seu romance sobre os quartos de hotel. Desta segunda passagem pela capital do Azerbaijão nasceria “Baku, Últimos Dias”, editado em Portugal pela Sextante, livro com o qual ganharia o Grande Prémio da Literatura Paul Morand, em 2010.
A partir de retratos, coisas vistas, leituras, sonhos, notas de viagem, evocação de personagens do passado, Olivier Rolin convida o leitor a um constante ir e vir entre ficção e realidade, cruzando relato de viagem com reflexão, realidade com devaneio, factos reais com factos inventados, num permanente solilóquio interior, tão comum no caminhante solitário. Este flanêur sem roteiro definido tanto passa frente ao hotel onde foi presumivelmente assassinado, em 1806, o comandante das forças russas do Cáucaso, durante o cerco à cidade e cuja cabeça foi enviada pelo khan de Baku, devidamente embrulhada num saco de sal, ao Xá da Pérsia, como, “passando sob arcos persas maquilhados com mosaicos azuis”, encontra estátuas de senhores de bigode, escritores de antanho. À noite, passeia pela avenida que bordeja o Cáspio, que os grandes jogos da política internacional não conseguem decidir se é um mar ou um lago.
Sobre o Cáspio, Alexandre Dumas, em viagem pelo Cáucaso, diria em Voyage au Caucase que este estaria ligado subterraneamente ao mar Negro e ao golfo pérsico. Já Calouste Gulbenkian, quando aqui veio em 1889 para tratar de negócios relativos ao petróleo, comentava em La Transcaucasie et la Péninsule d’Apchéron que quem trabalhava eram as mulheres, que os homens não “fazem nada e deixam para os Tártaros o trabalho nas refinarias, para tagarelar todo o santo dia ou para ouvir os seus velhos contos, do género d’As Mil e Uma Noites”.
Olivier Rolin, que nasceu em França, em 1947, e passou parte da sua infância no Senegal, é hoje um dos nomes mais respeitados do panorama literário francês. Em Portugal, estão traduzidos os seus romances, relatos de viagem (na verdade, talvez seja mais correto chamar-lhes relatos geográficos) e ensaios. Para além dos livros, Rolin escreve também reportagens para jornais e revistas, tendo assinado algumas colunas mais contundentes sobre a atualidade, nomeadamente um artigo para a revista Le Monde des Livres, logo após os atentados em França a 13 de novembro de 2015, onde afirmou que “o jihadismo é uma doença do Islão, mas que mantém com essa religião precisamente a relação que tem uma doença com o corpo que ela devora”.
A sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante
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