A sustentabilidade está no topo da agenda do sector financeiro, mas também das empresas portuguesas, numa altura em que a regulamentação europeia sobre riscos ambientais e climáticos exige uma transformação significativa. Esta questão ganha relevância nomeadamente na obtenção de financiamento bancário e de captação de investimento nos mercados de capitais, com a banca, que tem de cumprir um conjunto de objetivos sustentáveis, a beneficiar os clientes empresariais que já estão no caminho da transição energética.
“Cada vez mais, bancos e investidores institucionais têm que cumprir objetivos de volume de ativos ESG nos seus balanços e fundos de investimento. São públicos os compromissos das várias entidades financeiras do nosso mercado no que respeita à proporção de ativos green, ou ativos com algum tipo de métrica de sustentabilidade, sobre o total do seu balanço”, afirma fonte oficial do Santander Portugal ao Jornal Económico (JE).
Neste sentido, “o cumprimento dos objetivos europeus e nacionais para a neutralidade carbónica irão exigir não apenas um ajustamento, mas uma transformação substancial da economia, dos modelos de negócio e dos processos produtivos”, refere, por outro lado, Inês Soares, responsável do Gabinete ESG do Novobanco.
A “regulamentação europeia sobre sustentabilidade e riscos ambientais e climáticos exige aos bancos e intermediários financeiros uma transformação significativa, a curto e médio prazo, que têm que passar a integrar os riscos ESG [ambiental, social e governance] no seus modelos de negócio e de gestão de risco, com especial ênfase aos riscos climáticos e ambientais”, refere. Isto, diz, “implica que os modelos de avaliação de risco das empresas e investimentos, o preço do crédito e a remuneração de capitais terá que passar a refletir os efetivos riscos sociais e ambientais (físicos e de transição) a que cada empresa está exposta”.
Para isso, a Caixa Geral de Depósitos tem um sistema de rating ESG de forma a materializar a integração destes critérios nos processos de tomada de decisão. “O principal objetivo do rating ESG é apoiar as empresas no processo de transição para uma economia mais verde e mais inclusiva, fornecendo inputs para melhorarem a sua notação, de modo a reorientarem os fluxos de capital para estratégias de financiamento sustentável, assegurando a maximização de valor para os diversos stakeholders”, refere fonte oficial da Caixa.
No Bankinter, é também promovido o “diálogo e o acompanhamento de determinados aspetos que afetem as empresas, nomeadamente estratégias empresariais, desempenho e risco financeiro e não-financeiro, estrutura de capital, impacto social, ambiental e de governo corporativo”, diz fonte oficial.
“Discriminação positiva” junto das empresas
Estas ferramentas vão ajudar a analisar com mais rigor que entidades estão a apostar na transição energética. E para estas há benefícios na hora de pedir crédito. “As empresas que iniciarem desde já esta transição de uma forma estruturada terão uma vantagem competitiva, nomeadamente na captação de investimentos e no relacionamento com fornecedores e clientes, e também com o sector financeiro”, afirma Cristina Casalinho, Diretora Executiva de Sustentabilidade do BPI.
“As mudanças nas políticas climáticas, as novas tecnologias e os riscos físicos crescentes levarão a reavaliações de praticamente todos os ativos financeiros. As empresas que alinharem os seus modelos de negócio para a transição para um mundo neutro em carbono serão recompensadas. Aquelas que não se adaptarem não terão espaço no mercado”, nota Inês Soares, responsável do Gabinete ESG do Novobanco.
No Bankinter, há uma política de integração de riscos de sustentabilidade que “aplica através do recurso a estratégias de inclusão, nomeadamente a de best in class e/ou a de best efforts (por um lado, opta por empresas que tenham uma melhor classificação ESG e/ou, por outro, naquelas que revelem uma melhor progressão no rating ESG) e de exclusão”, explica fonte oficial ao JE.
O mesmo acontece no BPI. O banco “continua a apoiar os bons projetos porque a economia real – e muitos empregos, por exemplo – continua a depender de alguns sectores energéticos. E, dado o contexto económico e geopolítico, seria mais uma agravante aplicar uma penalização aos seus custos financeiros. Não podemos esquecer o fator social neste processo de transição que está a acontecer”, salienta Cristina Casalinho.
Segundo a Diretora Executiva de Sustentabilidade do BPI, “em termos gerais, para operações de curto e médio prazo, onde se coloca também o tema da manutenção de suporte à economia durante a fase de transição, o BPI tem adotado uma estratégia de discriminação positiva, assente na isenção de comissões ou redução de pricing para créditos com preocupações ao nível da sustentabilidade”.
Esta discriminação positiva está também presente no mercado de capitais. Há “evidência que os investidores discriminam positivamente as emissões sustentáveis (verdes, sociais ou indexadas a desempenho sustentável), uma vez que os prémios pagos por estas emissões/este financiamento são menores que em operações tradicionais”, salienta ainda a responsável do banco liderado por João Pedro Oliveira e Costa.
PME precisam de mais apoio
Estes passos são dados numa altura em que é “crescente a preocupação em dotar a proposta de valor para as empresas com soluções que se enquadrem no compromisso ESG”, afirma a CGD, notando que “beneficiar as empresas que têm preocupações ambientais e sociais na política empresarial em que operam é um propósito já iniciado e que gradualmente será aprofundado em prol de um irrefutável valor comum do bem-estar decorrente do equilíbrio da sociedade com a natureza”.
Mas nem todas as empresas estão a fazer a transição energética ao mesmo ritmo. Enquanto as grandes empresas estão mais avançadas no processo de transição para a sustentabilidade e de descarbonização das operações, as micro, pequenas e médias empresas (PME) precisam de mais apoio. Há “necessidade de métricas e critérios ESG mais consolidados, aprofundados e normalizados”, realça o BPI, que disponibiliza uma linha de financiamento de 500 milhões para empresas com critérios ESG para apoiar na transição verde.
É também necessário apostar numa oferta atrativa nos mercados de crédito. Segundo o Santander, “torna-se estratégica a montagem de operações de financiamento green ou ESG-linked para maximizar o acesso às várias fontes de liquidez disponíveis no mercado”.
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