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Dívida mundial de 182 biliões de dólares é um risco para a banca, alerta Faria de Oliveira

Dez anos depois da crise financeira, o presidente da Associação Portuguesa de Bancos defendeu o papel da regulação na recapitalização dos bancos. Mas há riscos que colocam desafios ao setor, especialmente de natureza externa.
  • Cristina Bernardo
29 Novembro 2018, 11h35

O presidente da Associação de Bancos Portugueses (APB) , Fernando Faria de Oliveira, no Fórum Banca 2018, organizado em conjunto pelo Jornal Económico e a consultora PwC, falou sobre os desafios futuros do setor bancário, numa altura em que os bancos têm dado sinais de que a crise financeira de 2008 está ultrapassada.

O contexto político e a conjuntura económica globais representam alguns dos maiores desafios para a banca.

Sobre o risco político, Faria de Oliveira disse que se tornou “um dos principais riscos não tradicionais a contemplar no portefólio de riscos a que os bancos têm de atender”. Entre estes, o presidente da APB destacou os riscos relacionados “com o protecionismo, o populismo, o nacionalismo e as opções orçamentais”.

“As linhas da Administração Trump, nomeadamente as relativas à política comercial protecionista, o Brexit, a política fiscal em Itália, são bons exemplos de elevados riscos a ter em conta”, salientou Faria de Oliveira.

Faria de Oliveira sublinhou ainda os riscos regulatórios. Neste âmbito, o presidente da APB deixa uma pergunta em aberto: “num contexto pós-Brexit que quadro regulatório será definido para os bancos sediados no Reino Unido?”

Sobre o risco económico,  o presidente da APB sustentou que as medidas políticas protecionistas, que criam barreiras ao comércio, têm um impacto alargado, não só em termos económicos, mas também em relação “ao investimento e à produção industrial”, contribuindo para o aumento da incerteza.

“A volatilidade nos mercados financeiros reflete o agravar da incerteza”, explicou o presidente da APB.

O aumento da dívida pública e privada na economia global é outro factor a ter em consideração no risco económico para o setor bancário. Faria de Oliveira disse que, segundo o Fundo Monetário Internacional, o valor da dívida global aumentou mais de 60% face a 2007, para um “alarmante montante de 182 biliões de dólares”.

Para o presidente da APB, o aumento da dívida pública e privada constitui “um movimento inverso à redução de dívida preconizada quando se tomaram medidas para enfrentar a crise financeira global e da dívida soberana”.

“Tais valores deixam os governos e as empresas mais vulneráveis a apertos das condições financeiras”, frisou Faria de Oliveira.

Bancos estão mais capitalizados

Dez anos depois, a falência do Lehman Brothers em 2008 continua viva na memória das instituições bancárias. “A falência do Lehman Brothers marcou o fim de uma era para a banca”, disse o presidente APB.

“Os nossos bancos estão, de facto, muito mais capitalizados, o que lhes permite absorver perdas”, frisou o presidente da APB. Os bancos “estão mais sólidos, eficientes, rentáveis e, ao mesmo tempo, desenvolveram modelos de negócio ajustados às novas realidades e a sua governação tem sido muito aprofundada e reforçada”.

Para Faria de Oliveira é “incontornável” que a supervisão bancária, através da União Bancária, e de uma ação conjugada entre reguladores, supervisores e instituições bancárias, contribuiu para o reforço da capitalização da banca portuguesa. “A supervisão bancária comum tornou o sistema mais seguro, obtiveram-se ganhos consideráveis, de que resulta um significativo progresso na solidez (…) e na confiabilidade do setor”, salientou.

O setor bancário está hoje “mais robusto, com muito mais e melhor capital, com bons rácios de liquidez e de leverage, rentabilidades em crescimento – ainda que distantes do custo do capital – e progressos sensíveis no domónio comportamental e de governance“, concluiu Faria de Oliveira.

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