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Bancarrota

A bancarrota surgiu na sequência dos depositários se aperceberem que a maioria dos depositantes não ia levantar regularmente os seus depósitos e, por isso, poderiam gerar um lucro adicional emprestando parte dos valores depositados em troca do pagamento de juros. Um dia a brincadeira correu mal e, quando um depositante foi levantar o que lhe pertencia, o banco não tinha em depósito o valor suficiente para satisfazer o levantamento exigido. Atualmente o termo diz respeito a qualquer situação em que alguma entidade fica incapacitada de cumprir as obrigações financeiras que contraiu, incluindo países.
10 Agosto 2020, 07h15

Os registos mais antigos daquilo a que hoje seriam denominados de empréstimos, e por isso também de atividade bancária, datam de uns milhares de anos depois da revolução neolítica, há cerca de 4 mil anos, quando se começou a emprestar grãos aos agricultores que queriam plantar mas não tinham como o fazer. No Império Romano evoluiu-se para os câmbios e os depósitos. Porém, só na Renascença Italiana surgiu aquilo a que se pode denominar com propriedade de sistema bancário, e praticamente desde que há bancos, há bancarrotas. O nome surgiu precisamente nessa época na Região Toscana, a partir do termo banca rotta.

A bancarrota surgiu na sequência dos depositários se aperceberem que a maioria dos depositantes não ia levantar regularmente os seus depósitos e, por isso, poderiam gerar um lucro adicional emprestando parte dos valores depositados em troca do pagamento de juros. Um dia a brincadeira correu mal e, quando um depositante foi levantar o que lhe pertencia, o banco não tinha em depósito o valor suficiente para satisfazer o levantamento exigido. Atualmente o termo diz respeito a qualquer situação em que alguma entidade fica incapacitada de cumprir as obrigações financeiras que contraiu, incluindo países.

As primeiras bancarrotas com dimensões consideráveis surgiram no segundo quartel do século XIV, destacando-se a dos bancos dos Bardi e dos Peruzzi, e a do Rei de Inglaterra, Eduardo III, 10 anos depois de iniciar a Guerra dos Cem Anos. Na segunda metade do século XVI, incluindo na fase da união ibérica, Filipe II de Espanha subiu a fasquia ao declarar por 4 vezes a bancarrota do Reino, sendo chamado insolitamente “Felipe el Prudente”. Talvez este facto insólito nos ajude a entender como lidamos com uma certa banalidade com aquilo que chocaria em qualquer cultura em que predominem valores de honestidade, honra e virtuosidade.

Belmiro de Azevedo dizia que a ética é lucrativa a longo prazo. Em termos mais sofisticados, hoje poderíamos afirmar que a ética é um diferencial competitivo, principalmente no que diz respeito a entidades soberanas. Nos últimos 500 anos, Portugal teve 8 bancarrotas e 3 intervenções do FMI. Temos neste período, portanto, uma média superior a 2 eventos iguais ou similares a uma bancarrota por século. É uma regularidade que poderia levar-nos a sentimentos de humilhação, talvez até pudesse envergonhar a nação. No entanto, em vez de aproveitarmos a vergonha para mudarmos de vida, preferimos, maioritariamente, culpar os outros: a banca especulativa, os credores, o Euro, a União Europeia, enfim, tudo e todos menos nós próprios. Afinal, há mais de 2 mil anos que nos confins da Ibéria há um povo que não se governa nem se deixa governar.

Parece que em 2020 não se aprenderam as lições de 2009. Em 2020 a despesa pública continua subindo a um ritmo insustentável quando Portugal já está, a nível mundial, respetivamente em 6.º e em 11.º em termos de Dívida Pública/PIB e Dívida Externa/PIB. Mantendo-se a irresponsabilidade das políticas que nos garantem continuarmos a sermos os primeiros dos PIGS, é uma questão de aguardarmos para vermos daqui a quantos anos um primeiro-ministro vai repetir as proezas de Mário Soares e de José Sócrates e pedir uma intervenção do FMI, neste caso a 4.ª em 50 anos de liberdade.

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