O banco Best tornou-se no primeiro banco em Portugal a realizar uma operação de transação de fundos suportada pela tecnologia blockchain.
A operação, realizada no início de fevereiro, surge numa altura em que a tecnologia que está por trás da Bitcoin ainda tem muito para se desenvolver no mundo da alta finança, mas demonstrou o potencial desta tecnologia na otimização do processo de emissão de ordens dos subscritores em investir em fundos de investimento.
Embora se tenha tratado de uma prova de conceito, a operação foi realizada em ambiente real pelo Banco Best e os parceiros, Credit Suisse Asset Management, entidade emissora dos fundos, e a FundsDLT, empresa especialista em blockchain.
“Nós fizemos uma prova de conceito real, vinculativa, de uma ordem concreta, com dinheiro real, na subscrição de um determinado fundo de investimento e num determinado montante”, explicou o diretor de investimentos do banco Best, Carlos Almeida. “Não é algo que esteja totalmente disponível para os nossos clientes; é algo que ainda queremos compreender melhor e avaliar os impactos”, adiantou.
O diretor de investimentos disse que “ainda é cedo” pensar na disseminação da tecnologia blockchain no universo dos investimentos e que se trata de “um processo que vai evoluir muito nos próximos anos”, mas salientou as oportunidades que a tecnologia blockchain pode trazer para o universo dos investimentos.
À cabeça surgem os ganhos de tempo no processo de investimento. Comparando o processo tradicional de investimento em fundos com o processo com suportado pela tecnologia blockchain, há um “ganho de 50%”, revelou Carlos Almeida.
O blockchain permitiu tornar os processos mais eficientes. Nós comunicamos diretamente via FundsDLT com o Credit Suisse e este verificou em tempo real as transações dos nossos clientes. Aqui a palavra-chave é ‘tempo real’ . É um processo muito mais robusto e, acima de tudo, um cliente do banco Best que quer comprar determinado conjunto de fundos de investimento, no mesmo momento, está a interagir com o emissor do fundo de investimento.
Investir sem blockchain vs. investir com blockchain
Carlos Almeida ilustrou os ganhos de eficiência alcançados com a tecnologia blockchain num exemplo.
Numa operação tradicional “há datas-limite para a subscrição a um determinado fundo de investimento”, disse. “Por exemplo, todas as instruções recebidas até ao meio-dia são depois transmitidas à sociedade gestora que tem conhecimento dessas instruções no final do dia”, ilustrou o diretor de investimentos. Isto quer dizer que “se um cliente coloca uma ordem às nove da manhã, essa ordem é acumulada até ao meio-dia e só depois é que é recolhida e transmitida à sociedade gestora [do fundo]”, explicou Carlos Almeida.
Mas, “com a tecnologia blockchain, o investor coloca uma ordem às nove da manhã e esta é imediatamente reconhecida pela sociedade gestora”, garantiu o diretor do banco Best. Por outras palavras, “com a blockchain temos o cliente a comunicar diretamente com o produtor, algo que hoje em dia é um processo moroso”, sustentou.
Maior conhecimento do investidor e maior inclusão financeira
A tecnologia blockchain pode trazer outros benefícios, como aproximar os investidores finais das sociedades gestoras dos fundos de investimento.
“A blockcain poderá no futuro permitir que o produtor (do fundo) possa conhecer mais de perto o perfil dos investidores finais”, explicou Carlos Almeida. “E isto é um ganho de eficiência porque permite a sociedade gestora vai conhecer melhor os beneficiários financeiros, os seus clientes – apetência ao risco, filosofia ao risco, quanto tempo em média é que têm a carteira”, garantiu.
Além disso, a tecnologia blockchain vai dar oportunidade em investir àqueles que estão habitualmente à margem do mundo dos investimentos. “É aquilo a que nós chamamos de ‘inclusão financeira'”, referiu Carlos Almeida. “O blockchain vai permitir reduzir o capital inicial para o investimento”.
A prazo, o blockchain poderá assim trazer benefícios para os investidores portugueses.”O perfil dos investidores portugueses é conservador”, revelou o diretor do banco Best. “Hoje em dia, 90% das poupanças dos portugueses está alocada a produtos que pagam menos do que a taxa de inflação”, disse.
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