O Haitong Bank, antigo BES Investimento (BESI), viu sair 11 administradores nos últimos três anos. Esta instabilidade na equipa de administração do banco de investimento liderado por Wu Min levou o Banco de Portugal (BdP) a realizar diligências junto da instituição, sabe o Jornal Económico.
Ao que o JE apurou, o Banco de Portugal realizou recentemente uma inspeção no Haitong para avaliar o seu modelo de governance, mas até ao fecho da edição não foi possível obter esclarecimentos de fonte oficial do supervisor. Igualmente questionada pelo JE, fonte oficial do Haitong recusou fazer comentários sobre a atuação do supervisor, mas frisou que as mudanças na administração do banco inserem-se na profunda viragem estratégica e operacional que teve lugar desde que o grupo chinês Haitong comprou o BESI ao Novo Banco, por 379 milhões de euros, em setembro de 2015.
“O nosso modelo de negócio mudou radicalmente e isto obrigou-nos a ter uma estrutura de gestão adequada à nova realidade”, afirmou, excluindo desta forma que as sucessivas saídas do board tenham sido causadas por problemas na equipa de gestão ou no relacionamento com o acionista chinês. A mesma fonte recordou que o Haitong conta com administradores não-executivos como António Domingues e Vincent Marie Camerlynck, com vasta experiência no setor financeiro.
No entanto, outra fonte, que pediu para não ser identificada, defendeu que, à semelhança de outros grupos chineses que operam na Europa, também o Haitong tem tido dificuldades de adaptação às práticas de governance ocidentais. Isto refletir-se-á no elevado número de gestores europeus que foram despedidos ou bateram com a porta nos últimos três anos e meio: sem contar com os elementos que saíram logo aquando da compra pelo Haitong, houve onze administradores que deixaram o banco nos últimos três anos. Destes, nove são europeus, incluindo José Maria Ricciardi (ex-presidente do BESI, que se mantivera na liderança após a compra pelos chineses), Rafael Valverde, Félix Cabanyes e Frederico Alegria, Miguel Horta e Costa, Luís Luna Vaz, David Hobley, Tiago Castro e Christian Minzolini. Também o CEO japonês Hiroky Myiazato deixou o banco em outubro de 2017, sendo substituído por Wu Min.
Ao longo deste período, foram nomeados sete novos administradores, em substituição dos que saíram, mas um desses gestores também já abandonou o Haitong, de acordo com a informação que consta do site da CMVM. Outro elemento, You Zhang, foi anunciado mas não chegou a tomar posse. E como o mandato atual termina no final deste ano, em 2020 poderá haver mais caras novas, na futura administração.
Regresso aos lucros em 2018
Além de Wu Min, a comissão executiva do banco, no triénio 2017-2019, inclui também Alan Fernandes, Paulo Martins, Nuno Carvalho e Vasco Câmara Martins. Desde que tomou posse, a equipa de gestão fez o turnaround da instituição, com um corte de custos de 40% e uma redefinição do modelo de negócio. Este processo incluiu uma reestruturação que passou pela saída de 78 colaboradores, incluindo vários quadros de topo.
Graças a este esforço, o banco caminha no sentido da rentabilidade e anunciou lucros depois de quatro anos em terreno negativo. O resultado líquido foi de 1,2 milhões de euros em 2018, o que compara com prejuízos de 130 milhões registados em 2017. Em parte este resultado é provocado pela descida das imparidades constituídas, que passou de 79 milhões em dezembro de 2017 para 26 milhões em dezembro de 2018.
“Os custos com provisões e imparidades registaram um decréscimo homólogo de 66,5% para 26,4 milhões em 2018, face a 78,8 milhões em 2017. Estas imparidades provêm, na sua maioria, da carteira de crédito histórica”, explicou o banco em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários.
Durante o ano de 2018, o Haitong Bank alcançou resultados de operações descontinuadas no valor de 13,2 milhões, relacionados com a venda das subsidiárias do Reino Unido e EUA. “Esta foi uma parte muito importante do plano de restruturação, que permitiu ao Banco focar-se nos negócios de banca corporativa e de investimento, operando com uma base de custos mais eficiente. Os resultados de operações descontinuadas tiveram um impacto neutro no resultado operacional do Banco”, lê-se no comunicado.
Artigo publicado na edição nº 1981 de 22 de março do Jornal Económico. Atualizada com informação sobre os resultados do banco.
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