O Banco de Portugal fez hoje a apresentação do Relatório do Conselho de Administração de 2024, onde revela que registou um lucro de 1,5 milhões de euros mas por causa da provisão 1,1 mil milhões de euros que foi libertada para evitar prejuízos.
“Este resultado voltou a refletir a materialização do risco de estrutura de balanço, com uma remuneração dos ativos inferior ao custo dos passivos”, explicou o banco central
Esta tendência de prejuízos do BdP não é exclusiva de Portugal, mas sim abrangente aos vários bancos centrais globais, e resultado da rápida mudança nas taxas de juro em resposta à inflação.
O principal motivo para a pressão sobre os resultados dos bancos centrais são as taxas de juros mais altas que pagam sobre os passivos (de curto prazo), que não são compensadas por um aumento equivalente na receita dos ativos (sobretudo, dívida pública de longo prazo, com taxas de juro muito baixas). É devido a esta situação que os bancos centrais poderão vir a apresentar prejuízos significativos nos próximos anos.
O Governador do Banco de Portugal antecipa que, pelo menos, em 2025 e 2026 os prejuízos continuem a ser cobertos pelas provisões. “Atendendo a que é necessário repor almofadas eu não esperaria dividendos”, disse Mário Centeno na apresentação que foi feita já na nova sede em Lisboa.
“O resultado líquido ascendeu a 1,5 milhões de euros, com o reconhecimento de impostos diferidos ativos. As provisões anteriormente constituídas deverão ser suficientes para absorver eventuais resultados negativos a curto prazo”, anunciou o banco.
Mário Centeno, no relatório, referiu que “a adoção de princípios de gestão prudente permitiu recorrer às provisões acumuladas para cobrir o resultado operacional
negativo”.
O resultado antes de provisões e impostos (RAPI) de 2024 foi negativo em 1.142 milhões de euros, o que compara com uma perda de 1.054 milhões em 2024. Este é o segundo ano consecutivo em que os prejuízos superam a barreira dos 1.000 milhões de euros.
“Este resultado voltou a refletir a materialização do risco de estrutura de balanço, com uma remuneração dos ativos inferior ao custo dos passivos. Os títulos, principalmente de longo prazo, adquiridos no âmbito dos programas de política monetária lançados a partir de 2015, apresentaram rentabilidades fixas inferiores às dos passivos, de curto prazo, que são remunerados a taxas variáveis mais elevadas”, refere o banco central. Este “mismatch” já tinha sido responsável por resultados negativos em 2023.
O resultado líquido da repartição do rendimento monetário também contribuiu para o RAPI negativo. “Com a progressiva normalização da política monetária, os resultados deverão regressar gradualmente a valores positivos”, segundo o BdP.
Os títulos, principalmente de longo prazo, adquiridos no âmbito dos programas de política monetária lançados a partir de 2015, apresentaram rentabilidades fixas inferiores às dos passivos, de curto prazo, que são remunerados a taxas variáveis mais elevadas.
“As provisões acumuladas ao longo dos anos permitiram absorver este resultado. Como em 2023, o banco voltou a utilizar a provisão para riscos gerais para cobertura completa do RAPI, tornando o resultado antes de impostos (RAI) nulo”, refere,
No final de 2024, o balanço do Banco de Portugal totalizava 191 mil milhões de euros, mais 6 mil milhões do que no final de 2023. Esta evolução traduziu a valorização do ouro (+34%) e o acréscimo dos ajustamentos às notas em circulação, compensados pela diminuição do financiamento às instituições de crédito com o vencimento das últimas operações de refinanciamento de prazo alargado direcionadas (TLTRO III) e a redução dos títulos detidos para fins de política monetária.
As despesas de funcionamento do Banco totalizaram 213 milhões de euros, mais 7,8%. Esta variação reflete sobretudo o aumento generalizado dos preços verificado nos últimos anos, mas é também influenciada pela redução da taxa de atualização do Fundo de Pensões, com impacto no aumento da rubrica de gastos com pessoal.
Clara Raposo, vice-governadora do Banco de Portugal, anunciou que as provisões constituídas de 1,7 mil milhões de euros, são suficientes para absorver os prejuízos esperados para 2025.
“Os resultados (RAPI) em 2025 serão negativos, mas não da mesma ordem de grandeza de 2023 e 2024”, referiu a vice-governadora.
Em termos de quadro de pessoal, em 31 de dezembro de 2024, o Banco de Portugal contabilizava 1.797 efetivos, mais 2,6% do que no final de 2023. Esta subida refletiu essencialmente a necessidade de aumentar os recursos afetos ao Financial Sector Assessment Program.
Ao longo do ano, foram admitidos 118 colaboradores e saíram 73, dos quais 34 por reforma (47%). O número de saídas por denúncias do contrato de trabalho diminuiu, de 65 em 2023 para 38 em 2024 (-42%). Foram realizados 103 estágios profissionais e 20 estágios de Verão.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com