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Banco de Portugal ligeiramente menos otimista sobre crescimento da economia: 1,7% em 2019

Banco de Portugal explica que a perspetiva de redução do crescimento é comum a outras economia, nomeadamente da zona euro, estando associado à maturação de um ciclo. BdP antecipa uma mudança de cenário na balança de bens e serviços já no próximo ano. Estimativas apontam ainda que o crescimento das importações será maior do que o das exportações, o que se traduz num saldo negativo da balança de bens e serviços a partir de 2020.
28 Março 2019, 09h00

A economia portuguesa deverá continuar a crescer até 2021, mas a um ritmo ligeiramente inferior ao registado nos últimos anos, segundo o Banco de Portugal (BdP). A instituição liderada por Carlos Costa reviu em baixa ligeira o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano, estimando agora uma expansão de 1,7%, com um menor peso das exportações.

De acordo com o “Boletim Económico de Março de 2019: Projeções para a Economia Portuguesa 2019-2021”, divulgado esta quinta-feira, a procura interna deverá contribuir 1,3% para o crescimento do PIB, enquanto o peso das exportações deverá cair para 0,4%.

“Depois de ter aumentado 2,1% em 2018, o PIB deverá crescer 1,7% em 2019 e em 2020 e 1,6% em 2021, aproximando-se do crescimento potencial. A projeção para o crescimento do PIB em 2019 é inferior em 0,1 pontos percentuais (p.p.). à divulgada no Boletim Económico de Dezembro; as projeções para 2020 e 2021 são idênticas às então publicadas”, refere o BdP.

O regulador alinha assim as estimativas com as projeções da Comissão Europeia, ficando 0,5 p.p. abaixo da meta do Governo. O BdP passa a ser das instituições mais pessimistas sobre a expansão económica – apenas o Conselho de Finanças Públicas têm uma estimativa mais baixa (1,6%). A OCDE continua a ser a instituição mais otimista, com uma estimativa de crescimento do PIB nacional de 2,1%.

O BdP realça, no entanto, que a estimativa da atividade económica nacional se fixa acima da projetada pelo Banco Central Europeu para a zona euro (1,1%).

O regulador sublinha ainda que a perspetiva de redução do crescimento é comum a outras economias, nomeadamente da zona euro, estando “associada à maturação do ciclo”, que poderá ser reforçada pela desaceleração do comércio global.

Balança de bens e serviços com saldo negativo a partir do próximo ano

O BdP salienta que o enquadramento económico e financeiro continua favorável, incluindo um crescimento médio da procura externa de 3,4% e a manutenção de condições favoráveis de financiamento aos agentes económicos.

“Ao longo do horizonte de projeção, e tal como em 2018, o contributo da procura interna para o crescimento do PIB será superior ao das exportações”, refere a instituição liderada por Carlos Costa. Sublinha ainda que a evolução projetada para a procura interna “é compatível com a gradual redução do elevado nível de endividamento dos vários setores da economia em percentagem do PIB”.

“Na procura interna, estima-se que o consumo privado continue a crescer, em média, 2,1% ao ano, um ritmo superior ao projetado para o crescimento da atividade, espelhando o aumento do rendimento disponível real das famílias”, refere.

No entanto, o BdP antecipa uma mudança de cenário na balança de bens e serviços já no próximo ano. Segundo as estimativas do regulador o crescimento das importações será maior do que o das exportações, o que se traduz num saldo negativo da balança de bens e serviços a partir de 2020. Este ano a balança de bens e serviços deverá ser de 0,2% do PIB, enquanto no próximo ano de -0,2% e em 2021 de -0,4%.

Segundo o relatório, as exportações deverão manter um ritmo de crescimento próximo do registado em 2018 e aumentar 3,8% em 2019, 3,7% em 2020 e 3,6% em 2021, “com pequenos ganhos de quota de mercado, sobretudo associados à atividade turística”. Já para as importações estima um aumento de 6,3% para este ano – uma revisão em alta face às projeções de dezembro, nas quais apontava para 1,6%-, enquanto para 2020 e 2021 prevê um aumento de 4,7% e 4,1%.

A balança corrente e de capital deverá manter um excedente ao longo do horizonte de projeção, “com um contributo importante do aumento esperado das transferências da União Europeia (UE) neste período”.

Relativamente ao investimento, o BdP explica que, “à semelhança do verificado no período de recuperação, antecipa-se que o contributo da procura interna esteja associado ao crescimento do consumo privado e à dinâmica da FBCF  [Formação Bruta de Capital Fixo], nomeadamente da FBCF empresarial”.

Contexto é benigno, mas há riscos externos

O BdP realça que apesar do enquadramento económico e financeiro é globalmente benigno, existem riscos em baixa sobre o crescimento económico da economia portuguesa, associados a um ritmo de crescimento mais moderado.

“Ao nível do comércio mundial, antecipa-se um abrandamento mais notório do que o da atividade em 2019, num quadro de elevada incerteza geopolítica e quanto às políticas comerciais”, refere. “A procura externa dirigida à economia portuguesa deverá manter um ritmo de crescimento relativamente estável em 2019-21, próximo do estimado para 2018”.

De acordo com o Boletim Económico, a pressionar o contexto externo está a possibilidade da recente perda de dinamismo da economia da zona euro, que representam os principais mercados de exportação de Portugal e da intensificação das políticas protecionistas. No entanto, aponta ainda o agravamento das tensões geopolíticas, a desaceleração mais acentuada da economia chinesa, o aumento da turbulência nos mercados financeiros, assim como o recrudescimento de tensões nos mercados da dívida soberana na zona euro. Para o aumento da incerteza global está ainda a contribuir o processo de saída do Reino Unido da União Europeia.

A instituição liderada por Carlos Costa chama ainda a atenção de que em Portugal persistem ainda constrangimentos específicos ao crescimento no médio e longo prazo.

“Apesar da evolução favorável observada nos últimos anos, assente num perfil de crescimento mais sustentável, mantêm-se vários desafios (demográficos, tecnológicos, institucionais e elevados níveis de endividamento) ao potencial de crescimento da economia portuguesa”, refere. “Afigura-se essencial a criação de condições que promovam o aumento da produtividade, através de uma melhor afetação de recursos, do bom funcionamento dos mercados do produto e de trabalho e da aposta no capital humano e na inovação”, conclui.

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