O Banco do Japão (BoJ) decidiu, esta quarta-feira, manter as taxas de juros inalteradas, em linha com as expectativas e apesar da persistência da inflação, apontando para as incertezas sobre a economia mundial.
No final de uma reunião de dois dias, a instituição optou por manter a taxa de referência em 0,5%, depois de a ter aumentado em janeiro.
O BoJ está a adotar uma postura cautelosa, sublinhando as potenciais consequências da guerra comercial desencadeada pelo Presidente dos EUA, Donald Trump. Os EUA visaram diretamente as exportações de aço japonesas.
“No que diz respeito aos riscos para as nossas perspetivas, ainda existem grandes incertezas sobre a atividade económica no Japão, incluindo a evolução da situação comercial (…) e os preços das matérias-primas”, afirmou o BoJ, em comunicado.
Já na semana passada, o governador do BoJ, Kazuo Ueda, expressou preocupação com “a incerteza que rodeia a evolução da economia e dos preços no estrangeiro”.
A manutenção do ‘status quo’ na política monetária foi amplamente antecipado pelos mercados.
Depois de um aumento de 0,25 pontos percentuais em janeiro, “o BoJ tenciona avaliar o impacto das suas recentes alterações da política monetária na economia antes de tomar a próxima decisão”, sublinhou Stefan Angrick, da Moody’s Analytics, antes do anúncio.
“Paralelamente, a vaga de medidas aduaneiras e as ameaças de Washington mantiveram os mercados financeiros sob pressão, dando ao BoJ ainda mais razões para ficar parado”, acrescentou.
Além disso, num ambiente económico e comercial global precário e volátil, é provável que os bancos centrais do Reino Unido e dos Estados Unidos também optem por manter o ‘status quo’ esta semana.
Para contrariar o regresso da inflação no Japão depois de dois anos e meio, o BoJ começou a apertar as taxas em março de 2024, após dez anos de política monetária ultra-acomodatícia em que as taxas se mantiveram praticamente a zero.
O BoJ aumentou as taxas duas vezes no ano passado e novamente em janeiro.
Na opinião dos analistas, a instituição deverá voltar a aumentar as taxas ainda este ano.
“Este ciclo de aperto do banco ainda está longe de ter terminado (…) há uma forte probabilidade de uma subida das taxas na reunião de maio”, analisou Marcel Thieliant, da Capital Economics.
“Afinal, a inflação está bem acima do objetivo de 2% fixado pelo BoJ (…) e as negociações salariais da primavera resultaram em aumentos salariais ainda mais elevados do que no ano passado, o que deverá levar a uma nova pressão ascendente sobre a inflação nos próximos meses”, explicou.
Os preços no consumidor no Japão, excluindo produtos frescos, aumentaram 3,2% em janeiro, em termos anuais, o valor mais elevado desde há um ano e meio e muito acima do objetivo de 2%, num contexto de subida dos preços dos cereais e da energia.
Os preços do arroz, cujo crescimento anual atingiu um recorde de 71,8% em janeiro, “deverão manter-se em níveis elevados em 2025”, apesar das medidas governamentais para limitar a subida, reconheceu o banco.
O BoJ registou hoje também “uma melhoria moderada da situação do emprego e dos salários” – um elemento-chave para a política monetária da instituição.
No âmbito das negociações anuais, a poderosa Confederação Japonesa de Sindicatos garantiu um aumento salarial médio de 5,46% para os seus membros em 2025, o maior aumento em três décadas no arquipélago, face a uma inflação persistente.
O BoJ aposta agora num “círculo virtuoso” em que os aumentos salariais vão impulsionar o consumo.
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