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Banco gerido por portugueses apoia Mota-Engil na Costa do Marfim

A construtora é o maior investidor nacional no país africano, que volta a ter uma embaixada portuguesa, e tem apoio do BDA, liderado por Vasco Duarte Silva.
13 Julho 2019, 11h00

Um banco gerido por portugueses na Costa do Marfim está a apoiar a Mota-Engil, maior empresa portuguesa a investir no país. É o Banco de Abidjan (BDA), que foi fundado em 2017 pela holding BDK Financial Group (BDK FG) – especialista na região da UEMOA (União Económica e Monetária da África do Oeste) – e que tem na sua liderança Vasco Duarte Silva.

O tema assume especial relevância depois da visita do Presidente da República, na qual anunciou que Portugal vai reabrir a embaixada em 2020. Este é um dos países africanos em que o Governo português aposta para internacionalizar a economia, segundo disse à Lusa o secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, que acompanhou Marcelo Rebelo de Sousa na visita.

“O BDA quer ser o parceiro de referência das empresas portuguesas na Costa do Marfim, através da larga experiência e relações da equipa de gestão de Lisboa”, explicou ao Jornal Económico Vasco Duarte Silva.
O JE sabe que o banco de Abidjan está a apoiar a Mota-Engil nos seus investimentos na Costa do Marfim.
A Mota-Engil é a empresa portuguesa com maior presença na região. Em janeiro de 2018 venceu, através da Mota-Engil África (na qual tem 60%) um contrato para a conceção, construção e operação de um aterro com capacidade para triagem e produção de energia proveniente de biogás em Abidjan, num valor estimado de cerca de 140 milhões de euros (que inclui uma componente variável estimada de cerca de 40 milhões de euros, dependente das toneladas movimentadas).

O contrato tem uma duração de sete anos para uma capacidade total de 8,2 milhões de toneladas e a componente de construção está avaliada em cerca de 48 milhões será executada pela Mota-Engil África. Com esta adjudicação, a empresa reforçou a atividade na área de resíduos em África.

Segundo os resultados de 2018, no ano passado o grupo deu início à operação de recolha de resíduos (320 milhões de euros) e gestão de resíduos (140 milhões) na Costa do Marfim. Este ano será o primeiro completo de operação do contrato de resíduos no país (contrato de 7 anos, avaliado em 320 milhões).

Em março de 2018, a Mota-Engil anunciou que celebrou um contrato para a construção de um estádio de futebol na Costa do Marfim, que terá de estar pronto para o Campeonato Africano de Futebol, a realizar-se no país em 2021. O BDA poderá montar a emissão de dívida no mercado que ajudará a Mota-Engil a financiar-se para este projeto. O contrato totaliza 83 milhões de euros, sendo este o segundo estádio a desenvolver pela empresa nestes últimos meses em África, depois do contrato assinado em 2017 nos Camarões.

Na Costa do Marfim, o grupo português liderado por Gonçalo Moura Martins eleva assim a sua carteira de encomendas a 540 milhões de euros, contabilizando já três projectos.

Vasco Duarte Silva explicou ao JE, que “as operações da Mota-Engil geralmente, pela sua dimensão, são operações que envolvem um conjunto de bancos. Para estes projetos, o BDA tem capacidade e condições necessárias para poder liderar sindicatos bancários de projetos de grande dimensão”.

O BDA especializou-se em atividades de financiamento, poupanças, mercados e private banking e fornece soluções adaptadas às necessidades bancárias, financiamento e de investimento de cada segmento da economia da Costa do Marfim.

No ano passado, Portugal foi o 35.º cliente da Costa do Marfim, com uma quota de 0,24%, e o seu 31.º fornecedor, com 0,60% de quota, de acordo com dados do Centro do Comércio Internacional. O número de empresas portuguesas exportadoras para o país tem vindo a crescer. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, passaram de menos de 100 em 2011, para 215 em 2017. Entre 2014 e 2018, o montante global das exportações portuguesas para o país subiu, com algumas flutuações, de 18,96 milhões para 57,31 milhões de euros. O valor mais alto, 67,80 milhões de euros, foi em 2017.

Nestes cinco anos, em que a economia costa-marfinense cresceu sempre acima dos 7%, as importações de produtos da Costa do Marfim mantiveram-se estáveis, em torno dos 27 milhões, subindo ligeiramente em 2018, para 30,63 milhões de euros. Desde 2015, a balança comercial tem sido favorável a Portugal, com um saldo de 26,68 milhões de euros no ano passado. Nos primeiros dois meses deste ano, essa tendência manteve-se, com um saldo de 1,97 milhões para Portugal.

O BDA, ao fim de quase dois anos, conta com uma carteira de clientes Corporate & Private de mais de 600 clientes, e mais de 6.000 clientes de banca de retalho. O banco tem 25 agências, das quais 24 são balcões para o retalho. À exceção de um, todos são partilhados com os correios (La Poste), com quem o grupo tem um acordo. A La Poste Côte d’Ivoire tem 20% da instituição financeira de Abidjan, sendo os restantes 80% do Groupe BDK (sub-holding estabelecida no Senegal, detida na integra pelo BDK Financial Group).

As agências do BDA são 18 em Abidjan e as restantes em cidades do interior. O banco prevê ser o nono maior do país em agências até final do ano, com 29 balcões, num universo de 28 bancos. Mas não se fica por aqui. Os correios têm uma rede de 153 postos e o BDA admite reforçar a parceria, desenvolvendo até 60 balcões até 2021, subindo ao quinto lugar do ranking em agências. O BDA fechou o primeiro ano de atividade na Costa do Marfim com ativos de 150 milhões de euros. Os maiores bancos do país são o Ecobank Côte d’Ivoire, com 2,032 mil milhões de euros; o Banque Atlantique, com 1,921 mil milhões; o Société Générale, com 1,738 mil milhões de euros; o Société Ivoirienne de Banque, com 1,383 mil milhões; e o Bank of Africa – Côte d’Ivoire com 950 milhões de euros em ativos.

Além do BDA e do Banco de Dakar, o Grupo BDK possui subsidiárias especializadas em crédito ao consumo através de dispositivos móveis e em apoiar as PMEs locais (Kash Kash e Creditkash) na Costa do Marfim, Guiné-Conakry, Senegal e Mali. O BDA é ainda um dos market-makers da dívida pública na região da UEMOA e apoia os empresários portugueses, nomeadamente através da emissão de dívida para financiamento de projetos no país.
A equipa de gestão e controlo em Portugal está constituída por mais de 30 portugueses, nomeadamente Filipe Ribeiro Ferreira como diretor-geral adjunto (DGA) da holding assim como Luís Sousa (CFO), Jorge Oliveira (CRO), Paulo Ferreira da Costa entre outros. Na Costa de Marfim apenas está um português, Miguel Stapleton, que hoje está como diretor-geral Adjunto do BDA.

No início do ano o BDK Financial Group (que tem sede no Luxemburgo) fez um aumento de capital para fortalecer os seus negócios bancários localizados na África ocidental e financiar a sua estratégia de crescimento para os próximos anos. Todos os parceiros do projeto bancário promovido pelos espanhóis Alberto Cortina e presidido por Alfredo Sáenz subscreveram um aumento de capital de 10 milhões de euros, passando o capital total a ser de 130 milhões. Além de financiar os planos de expansão do grupo, essa recapitalização permite que os rácios de solvabilidade regulatórios do banco sejam aumentados. O banqueiro basco, Alfredo Sáenz continua como presidente do BDK Financial Group, depois de ter sido anunciada a sua saída de consultor para a EMEA do JP Morgan, no passado dia 12 de junho.

Artigo publicado na edição nº 1995, de 28 de junho, do Jornal Económico

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