[weglot_switcher]

Banco ‘português’ na Costa do Marfim quer disputar liderança

O grupo BDK, que detém o Banque d´Abidjan, emprega na África do Oeste 532 pessoas, a que se juntam 28 em Lisboa. O banco tem quase metade da rede de balcões do líder no mercado, o Sociéte Generale.
2 Agosto 2019, 12h14

Em menos de dois anos o Banque d’ Abijan (BDA), gerido por portugueses, tornou-se no 10° maior banco em número de balcões na Costa do Marfim. Só para se ter uma ideia, o maior banco do país é a Sociéte Generale en Côte d’Ivoire (SGBI), que está há 53 anos neste país francófono e tem 69 balcões. O Banque d’Abijan abriu em novembro de 2017 e já tem 27 balcões e espera chegar até ao fim do ano com 30.

Esta semana abriram o 27° balcão do BDA no bairro de Vallon. Mas o objetivo é chegar até ao fim de 2021 com 60 balcões e desta forma entram no ‘top 5’ em agências no país.

Vasco Duarte-Silva, presidente do BDA, vem do Citigroup e do Santander e com Filipe Ribeiro Ferreira e mais 30 portugueses criou o Banque d’Abidjan e o Banque de Dakar (BDK) em menos de cinco anos. Os portugueses juntaram-se ao milionário espanhol Alberto Cortina e outros investidores internacionais privados para criar um grupo bancário na África do Oeste (conhecida como a região da UEMOA – União Económica e Monetária do Oeste Africano) que tem em comum uma moeda única – o franco CFA.

Em Abidjan o grupo BDK tem, através de um veículo – SIF (Societe Ivoirenne de Finances), 80% do BDA, sendo os outros 20% dos correios da Costa do Marfim (La Poste). Parceria esta que justifica a explosão meteórica de balcões. Dos atuais 27 balcões (incluindo a sede que se situa no bairro do Plateau, uma espécie de city financeira de Abidjan), em 24 há um posto dos correios, o que faz do BDA o banco dos correios daquele país. Só dois são balcões exclusivos do BDA e até ao fim do ano vão abrir mais dois destes balcões e um com os correios. O BDA é um banco de retalho, mas também um banco de empresas (corporate) e de private banking.

O banco, em menos de dois anos, já regista lucros e conta com cerca de 20 clientes empresas portuguesas. “O BDA reúne o conhecimento do mercado local e das empresas portuguesas, por isso está preparado para apoiar o investimento português neste país”, diz Vasco Duarte-Silva que reconhece a importância da vinda Marcelo Rebelo de Sousa à capital para pôr o país na rota dos empresários portugueses.

Os gestores portugueses do BDAdeslocam-se em jipes pretos com vidros escuros e batedores a abrir caminho pelas ruas da húmida, quente e nublada capital da Costa do Marfim. Reúnem-se com CEO de empresas, ministros do país e com presidentes de Câmaras e recebem constantemente portugueses que querem investir no país que no próximo ano voltará a ter uma embaixada portuguesa.

O grupo BDK para além do BDA, tem o Banque de Dakar, no Senegal, e operações de mobile banking (Kash Kash) e de micro finanças (Credit Kash) no Mali e na Guiné Conacry. Empregam já 532 pessoas nos quatro países daquela região de África a que se juntam mais 28 pessoas em Lisboa. Ao todo são 560 pessoas a trabalharem no BDK Group, da qual a portuguesa 3Angle Capital é também acionista. A operação em Abidjan tem um português, Miguel Stepleton Garcia. que é diretor geral adjunto, e é o único expatriado no banco, uma vez que a política do grupo é contratar locais.

“Acreditamos que a bancarização em África se vai fazer através do mobile banking”, diz ao Jornal Económico, Vasco Duarte-Silva para explicar a criação da sociedade Kash Kash, de mobile banking, que já tem 370 mil clientes. “O objetivo é chegar a um milhão de clientes no fim de 2020”, diz. O grupo está a tentar converter alguns dos clientes da Kash Kash em clientes do BDA. “Queremos converter até 15% dos clientes da moeda electrónica em clientes do banco”.

Em África menos de 20% da população tem contas bancárias, pelo que o Kash Kash é uma forma de promover a inclusão financeira. Trata-se de uma plataforma de moeda eletrónica que além de permitir fazer transferências bancárias, permite o pagamento de faturas (água, eletricidade e outros); é um meio de pagamento; permite também dar nano-créditos (até 75 euros o que é 50% do ordenado mínimo) e constituir depósitos.

Em Abidjan a banca concede crédito a juros que rondam os 8% a 10% e financia-se a cerca de 4%, o que parece ser um paraíso para a margem financeira. Mas nem tudo são rosas, pois as regras de risco têm de ser muito apertadas para evitar o malparado.Os bancos na região da UEMOA são supervisionados por uma comissão bancária, que por sua vez é regulada pelos supervisores franceses.

O grupo BDK está numa fase de investimento nestes países e chegará, no conjunto dos quatro países, a um resultado positivo no final do ano, e espera chegar a 2024 com um resultado consolidado, nos vários mercados, acima dos 65 milhões de euros, diz Vasco Duarte-Silva.

Neste momento têm em curso três projetos. O aumento da rede de balcões do BDA; a conversão de cashpoints em agentes comerciais do BDA (e também do BDK no Senegal); e a criação de kioskes nas feiras e mercados que irão captar depósitos e dar pequenos créditos (trata-se de um autêntico projeto social).

O país não tem ATM, e à exceção de algumas caixas automáticas exclusivas dos bancos onde estão instaladas, os costa-marfinenses levantam dinheiro e fazem transferências nuns pontos de venda a que se chamam cashpoints onde há um agente que faz o que as nossas ATM fazem. Ora o BDA prepara-se para estabelecer acordos com alguns dos cashpoints de forma a torná-los agentes comerciais do banco. A ideia é que nesses cashpoints os produtos bancários comercializados sejam exclusivamente do BDA. Em troca dão formação aos recursos humanos, dão equipamento e fazem um rebranding do ponto de venda que, apesar do acordo com o BDA, mantém-se com o prestador de serviços de outras empresas financeiras.

O objetivo é transformar 450 dos 3.500 cashpoints com que o banco liderado por Malaye Faye (CEO) trabalha atualmente em correspondentes (agentes) até 2021. Mas até ao fim do ano querem lançar o projeto-piloto com 10. O terceiro projeto é adequado à realidade do mercado africano. Chama-se projeto Teré-Teré e serve para recolher pequenas poupanças e dar pequenos montantes de crédito. O limite de poupanças é 3.000 euros e o máximo de volume de transferências mensais 15.000 euros. Esta empresa que opera com licença de moeda eletronica (e-money) lançou o seu primeiro kiosk no mercado de Abobo esta semana.  *A jornalista viajou a convite do BDA

 

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.