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Bancos terão de continuar a crescer para sobreviver. Fusões são o caminho mais curto

A apoiar os cenários de fusão na banca estão ainda as conclusões do Relatório Draghi sobre a competitividade da União Europeia em que alerta para a baixa dimensão das empresas (incluindo bancos) quando comparadas com as dos EUA e China.
10 Março 2025, 07h00

O modelo de negócio da banca vai ter de se alterar, devido à introdução da Inteligência Artificial e à necessidade de acompanhar a evolução do comportamento dos consumidores, nomeadamente com a entrada de outros players, como é o caso da Revolut.

“Temos desafios incríveis pela frente, temos a legislação exigente do DORA [regulamentação das regras mínimas relativas à segurança das redes e sistemas de informação atualmente em vigor ao nível da UE]”, disse o CEO do BPI este sábado numa entrevista ao Observador lembrando o desafio da cibersegurança.

Para além do DORA e da cibersegurança, o CEO citou como desafios os investimentos na Inteligência Artificial e para isso “é preciso dimensão”. É também preciso dimensão “para atrair talento e continuar a crescer, para apoiar a economia”.

Segundo a revista “The Banker”, o ano de 2025 vai trazer mais fusões e aquisições ao setor, impulsionadas pelo excesso de capital acumulado num cenário de taxas elevadas e por pressões para continuar a cortar custos, num contexto de redução das receitas dos juros.

O Novobanco é a oportunidade única para movimentos de consolidação em Portugal. Mas será que é melhor para o sistema bancário a manutenção do Novobanco autónomo com capital disperso na bolsa? Ou uma integração num banco que já esteja em Portugal, como o BCP? A CGD? O BPI? Ou o Santander? Estas são algumas perguntas que estarão em cima da mesa no Fórum Banca 2025, organizado pelo O Jornal Económico e que vai decorrer na próxima quarta-feira, 12 de março, no Hotel da Lapa, em Lisboa.

Eis o que dizem alguns especialistas no mercado: 

Ao Jornal Económico Bernardo Marques dos Santos, Principal na Qualitas Funds, empresa de fundos de private equity espanhola, e um dos poucos portugueses a trabalhar no mercado de Private Equity internacional – questionado sobre o racional da solução anunciada de IPO (Oferta Pública Inicial) como forma de rentabilizar o investimento do fundo de Private Equity, Lone Star –  explicou que “os fundos de private equity fazem saídas de três tipos, ou vendem a outro fundo de private equity, ou vendem a um player do setor, ou põem na bolsa”. Mas “neste caso, acho difícil que a Lone Star consiga vender o Novobanco a outro fundo de private equity, porque já não há fundos muito maiores que a Lone Star.

“O cenário de ser vendido a outro banco pode não ser fácil, já que não há muitos bancos com capacidade de comprar o Novobanco e depois pode haver questões de Concorrência. A terceira opção, entrada em bolsa é a saída que sobra para vender o banco, especialmente numa altura em que os bancos estão com bons resultados. Tipicamente os fundos de private equity, nestes casos, vendem uma parte na bolsa e distribuem imediatamente o dinheiro pelos investidores do fundo, com um bom retorno face ao investimento inicial [a venda em bolsa de 30% deverá superar o valor investido pelos 75% que foi de mil milhões de euros]. Depois a Lone Star tem de vender o resto do banco, mas tem de respeitar o lock up period após a venda em bolsa. Não pode vender logo o resto das ações. Nessa altura pode vender a outro fundo de private equity ou a instituicionais”, defendeu.

Por sua vez João Pedro Oliveira e Costa, CEO do BPI, questionado sobre uma eventual aquisição do Novobanco pelo acionista do banco que dirige, o CaixaBank, referiu que “no futuro o combate no mercado vai fazer-se com uma dimensão maior e a dimensão que nós temos não é suficiente”.

Na apresentação de contas Pedro Castro e Almeida, CEO do Santander Totta, disse que um IPO (Oferta Pública Inicial) é sempre feito “a desconto” e sinergias de escala só se conseguem com fusões e aquisições. Isto a propósito dos cenários em cima da mesa para o futuro do Novobanco.

Paulo Macedo, CEO da CGD, que já admitiu estar a estudar a compra do Novobanco, disse na apresentação de resultados que para quem estudar a operação, a Oferta Pública Inicial do Novobanco “não é impeditivo de nada”. Isto é, a CGD poderá avançar para a compra do Novobanco apesar do IPO de 30% anunciado pelo CEO Mark Bourke.

“Não me parece que a Lone Star avance com o Novobanco para a bolsa se não tiver um destino final para um último comprador”, disse o CEO da Caixa.

O aumento da quota de mercado de forma orgânica é um desafio. Sobretudo quando a concorrência dos serviços financeiros está a aumentar inclusivamente de players fora do sistema bancário tradicional.

Por outro lado, se repararmos, os bancos portugueses que apresentaram contas de 2024 revelam em comum uma subida dos custos, justificado em parte pela inflação e aumento de salários. O rácio de eficiência está a estagnar que ajuda a legitimar cenários de fusão.

A apoiar os cenários de fusão na banca estão ainda as conclusões do Relatório Draghi sobre a competitividade da União Europeia em que alerta para a baixa dimensão das empresas (incluindo bancos) quando comparadas com as dos EUA e China.

Lucros recorde que não se vão repetir este ano nem no próximo

Se os sete maiores bancos atingiram lucros recorde em 2024, ao superarem os 5,5 mil milhões de euros, e rentabilidades de dois dígitos, esse eldorado não se vai repetir. Até porque foram lucros ajudados pela libertação de imparidades. “Os resultados dos bancos, sobretudo dos nossos concorrentes, têm uma grande componente de recuperação de créditos, ou seja libertação de provisões constituídas no passado”, disse o CEO do BPI na entrevista ao Observador.

Por causa da descida dos juros este será o ano em que os lucros recorrentes da banca serão menores e por isso o aumento do volume de negócios terá de compensar a redução da margem financeira. Como compensar a queda da margem financeira é o que os bancos terão de responder.

Os bancos apresentam posições de capital e de liquidez fortes. A qualidade dos seus ativos mantém-se globalmente resiliente, tendo a sua rentabilidade atingido os níveis mais elevados desde o início da supervisão bancária europeia pelo BCE, sobretudo devido a taxas de juro mais altas.

Apesar da robustez dos balanços e dos perfis de risco das instituições de crédito, é necessária prudência devido às tensões geopolíticas persistentemente elevadas e à associada incerteza quanto às perspetivas macroeconómicas.

Até à data os bancos europeus conseguiram resistir aos recentes choques geopolíticos e à consequente subida da inflação, apoiadas, entre outros aspetos, pela ampla resiliência da economia real, mas é decisivo que os bancos permaneçam vigilantes e avaliem regularmente as implicações que tais eventos podem ter para o seu negócio, as suas operações e o seu perfil de risco.

Os avanços tecnológicos são também vistos como uma prioridade para o futuro do setor bancário, considerando que é essencial que os bancos intensifiquem os esforços de digitalização e assegurem uma gestão prudente dos riscos decorrentes da adoção de novas tecnologias.
O futuro modelo de negócio da banca começa já a desenhar-se. A banca avança com a Inteligência Artificial e caminha no sentido de se tornar numa “banca por subscrição”, serviços personalizados (uma espécie de Netflix dos serviços financeiros).
Por fim será também o ano da distribuição de dividendos aos acionistas.

A regulação financeira da UE versus a dos Estados Unidos é outro dos temas que ganha palco em 2025. Discute-se se a Europa deve manter regras mais rigorosas do que as norte-americanas, em nome da competitividade.

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