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Barraca no presépio

Quanto à Cultura, a confusão do costume. A paródia ou a magia dos números, com falhas claras na matemática.
27 Janeiro 2020, 07h15

Afinal a coligação da direita política insular, que agora frui dos ares da bafienta Quinta das Angústias, com uma agenda tornada pública, de conservadores de direita, deixou revelar no boletim estatístico do governo insular que afinal não estava tudo no rumo certo! Porque, afinal, não basta saber tocar piano e dançar o “bailinho” em vésperas de eleições para saber falar de Cultura. E não basta mudar de príncipe para colher melhores resultados no Turismo.

O resumo de 100 dias de governação do regime, que viu a sua renovação coligada, em vésperas da sua primavera anunciada, consubstanciou-se em: 81 mil pessoas “sinalizadas” em risco de pobreza; cerca de uma centena sem abrigo “sinalizados”; mais de duas centenas e meia de nomeações de “boys” e “girls”, conforme o veiculado na imprensa regional e de acordo com os dados publicados no JORAM – parece que as nomeações ainda irão continuar – representam uma estimativa de cerca de 11 milhões ao erário público; uma reiterada “bronca” na Saúde com demissões antecipadas; e expropriou-se – no estrito uso “gonçalvista” do termo – o presépio, digo, uma avenida inteira, com sanitários incluídos. Faltou a chave.

Sobre esses mesmos “boys” e “girls” que se revestem no ato vassálico aos senhores “magos”, feitos “reis”, importa relembrar sobre o quão perigoso (e falacioso) é o discurso meritocrático por eles utilizado enquanto estratégia de auto-legitimação um equívoco intencional e demagógico usado por determinadas elites políticas e económicas, neoliberais, para perpetuarem e justificarem os ciclos viciosos de empobrecimento e exploração social, desde há séculos! Provavelmente, foi razão de queda do Antigo Regime, absolutista (em 1820)! Não fosse a propaganda do regime garantir que tudo estava controlado, as disputas internas pela liderança partidária, acentuaram o azedume com a autonomia. Quando as comadres brigam, e os “boys” e “girls” se “chateiam”, fotocopia-se.

Quanto à Cultura, a confusão do costume. A paródia ou a magia dos números, com falhas claras na matemática. Se na globalidade dos Museus na R.A.M. registou-se em 2018, um decréscimo de -19,6% em relação a 2017 (263 mil), os números reportados pela tutela, relativos ao ano transato (2019), reportando-se  por hipótese, apenas aos Museus Públicos regionais, que alegadamente veiculam um crescimento no número de visitantes – só cerca de 131 mil, quando comparado com outros referentes – estes resultados pretendem confundir ou defraudar a avaliação ou juízo realizado pelo cidadão, na medida em que o universo da amostra da primeira estatística vinda a público, não é coincidente com o da segunda. Mas é isto que exactamente, interessa ao discurso político propagandístico do regime: quando os números não interessam, mudam-se os critérios de elegibilidade de apuramento, altera-se a amostra e misturam-se os Museus, com os resultados obtidos em outros espaços ou sítios de interesse cultural, que não são Museus! Confundem-se Museus com núcleos museológicos, com centros interpretativos ou com locais de interesse patrimonial.

Será de supor, por hipótese, que divulgação da primeira estatística da Direção Regional de Estatística se contabilizou dados de tutelas municipais e privados para empolar os números para propaganda do regime? Porque não se organizam os dados por subsecções tutelares (públicas regionais, municipais e privados) e diferenciando Museus, de espaços culturais, monumentos e sítios, a fim de melhor esclarecer os cidadãos?

Mas, já são sete os novos “Museus” prometidos, desde 2015?… E, ainda aqui vamos…

Porventura importará por isso, questionar a tutela ou os agentes no sector, se com os mesmos Museus, o número de público visitante tem vindo a diminuir, se com mais Museus irá ou não crescer? O facto está provavelmente relacionado com a diminuição progressiva dos fluxos turísticos para a Região e por 63,2% do total de visitantes registados em Museus na RAM, em 2018 serem estrangeiros e apenas 13,6% serem visitantes inseridos em grupos escolares. Urge por isso aprofundar as relações com as populações locais, que habitam o território onde estão inseridos os Museus e abri-los à comunidade e verdadeiramente democratizar o acesso à Cultura, para que não seja apenas um dogma propagandístico de uma promessa de fé e intenções.

Num contexto em que o Turismo mundial cresce acima dos 3% e vários indicadores no território continental português, registam sucessivos aumentos da procura turística, 7,7%, face a 2017 e um valor acrescentado bruto (VAB) gerado pelo setor, que cresceu 8% em 2018. O turismo cresceu em Portugal mais 4,1% do que o resto da economia em 2018. Na Região Autónoma da Madeira tem se vindo a verificar sucessivos e acentuados decréscimos contrariando a tendência nacional em períodos homólogos, excepto em 2017. Em 2019, foram mais de 214 mil as dormidas perdidas em 11 meses, segundo os dados disponibilizados, que quando comparadas com o período homólogo de 2018, demonstram uma acentuada diminuição dos proveitos totais, rondando 5% de perdas.

Não fosse estar quase tudo mal, na Cultura e no Turismo – para não falar da Saúde – para os devotos do Regime, ainda justificaram acontecer “barraca” no presépio. Defraudados pelos reis magos, que não eram reis, nem magos e que ainda por cima “chateados” com o menino Jesus, receberam como entretenimento natalício a disputa pela soberania dos copos de poncha, no espaço público urbano. Este foi o “auge” do “happening” no presépio.

Adaptando as palavras do saudoso José Saramago, nos Cadernos de Lanzarote: “A mim parece-me bem.” Exproprie-se Machu Picchu, exproprie-se Chan Chan, exproprie-se a Capela Sistina, exproprie-se o Pártenon, exproprie-se o Nuno Gonçalves, exproprie-se a Catedral de Chartres, exproprie-se o Descimento da Cruz, exproprie-se o Pórtico da Glória, exproprie-se a Cordilheira dos Andes, exproprie-se tudo, exproprie-se o mar e o céu, a água e o ar, a justiça e a lei, a nuvem que passa, o sonho “sobretudo se for diurno e de olhos abertos”.

Exproprie-se, fotocopie-se, mas o Natal foi mesmo do Menino Jesus!

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