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BCE a comprar ações? “Não descartamos que isso possa acontecer”, diz a BlackRock

“Poucos bancos centrais se aventuraram nessa via, o Banco do Japão aventurou-se nesse mundo, mas não descartamos que isso possa acontecer em economias como a da União Europeia”, disse André Themudo, responsável pelo desenvolvimento de negócio da maior gestora global de ativos em Portugal e do negócio de wealth para a Ibéria.
23 Julho 2019, 07h49

O Banco Central Europeu (BCE) tem mais cartas na manga do que os mercados estão a descontar neste altura e poderá surpreeender pela positiva quando anunciar medidas para “amortecer” o impacto das tensões comerciais e geopolíticas,  segundo a BlackRock. Nesse naipe de cartas poderá surgir um ‘joker’ – um programa de compra de ações da zona euro – que a acontecer poderá levar a um rally ainda maior, referiu André Themudo, responsável pelo desenvolvimento de negócio da maior gestora global de ativos em Portugal e do negócio de wealth para a Ibéria.

“A principal mudança nas nossas perspectivas de mercado é que estamos a considerar duas coisas importantes que vão afetar o mercado: as tensões comerciais, nomeadamente os conflitos entre os Estados Unidos e a China, e também fatores geopolíticos”, afirmou Themudo, na apresentação do Global Investment Outlook da BlackRock para o segundo semestre.

Estes dois fatores levaram a gestora de ativos a reduzir as expectativas de crescimento para a economia global e recomendar aos clientes que tenham um posicionamento ligeiramente mais defensivo nas carteiras de investimento.

“Esperamos mudanças significativas nas políticas monetárias dos principais bancos centrais. Vemos que tanto a Fed como o Banco Central Europeu, e mesmo o Banco do Japão, estão a tentar ‘amortecer’ o abrandamento do crescimento económico”, referiu Themudo. “Estão a tentar ganhar tempo e a prolongar este ciclo económico”.

O gestor recordou que Mario Draghi, presidente do BCE, admitiu em junho que poderão ser necessárias novas medidas de estímulo para a zona euro e não descartou, em caso de necessidade, um novo corte na taxa de juros. Para Themudo, a sucessora do italiano na chefia do banco central, Christine Lagarde, deverá manter a mesma posição.

“Estamos a entrar num terreno, não diria novo, mas é uma segunda fase do terreno que vimos a começar há uns anos com o Quantitative Easing (QE), e achamos que o BCE vai oferecer, e o discurso de Draghi em Sintra em junho foi nesse sentido, mais estímulos e podemos ver vários tipos de estímulos”, explicou.

“Não só outra vez um QE, portanto a compra de obrigações, mas quem sabe também, e não descartamos, entrar numa programa diferente, de compra de ações”, sublinhou. “Poucos bancos centrais se aventuraram nessa via, o Banco do Japão aventurou-se nesse mundo, mas não descartamos que isso possa acontecer em economias como a da União Europeia”.

Themudo frisou que “isto pode resultar num rally ainda mais forte de ativos de risco como as ações europeias”.

Adiantou que foi com base nessa previsão que a BlackRock decidiu a principal mudança no asset allocation face há seis meses: um upgrade na ponderação das ações europeias. “Há seis meses estavamos underweight e agora subimos de rating para neutral com base nestes estímulos, que deverão acontecer mais cedo do que mais tarde”.

O gestor admite que é impossível ter uma ‘bola de cristal’ para prever exatamente a escolha e o timing das medidas que cada um dos principais bancos centrais irá implementar.

“Esperamos uma ação do BCE este ano ainda, mas não sabemos exatamente qual vai ser, se vai ser uma descida da taxa de juro, se em formato QE em obrigações, se em formato de compra de ações. Achamos que o mercado não está a descontar o potencial que o banco tem nestas medidas, e que o BCE pode surpreender pela positiva”, vincou.

 

 

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