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BdP alerta que manutenção das taxas de juro muito baixas podem prejudicar a concessão de crédito

Segundo o Banco de Portugal, “a redução das taxas de juro de médio e longo prazo sinaliza que a Euribor só deverá retomar valores positivos num horizonte consideravelmente mais longo do que o antecipado” anteriormente.
  • Cristina Bernardo
4 Dezembro 2019, 13h00

O Relatório de Estabilidade Financeira (REF), divulgado esta quarta-feira pelo Banco de Portugal (BdP), alerta para a deterioração da concessão de crédito pelas instituições de crédito devido à manutenção das taxas de juro baixas por um largo período de tempo que, segundo o mercado atual, poderão manter-se nestes níveis baixos até 2025.

No comunicado que acompanhou a apresentação do REF, o regulador explicou que “a redução das taxas de juro de médio e longo prazo sinaliza que a Euribor só deverá retomar valores positivos num horizonte consideravelmente mais longo do que o antecipado aquando da elaboração do último Relatório de Estabilidade Financeira” de junho deste ano.

Apesar dos níveis baixos das taxas de juro beneficiarem “a capacidade de serviço de dívida dos agentes económicos”, o supervisor salienta que propiciam o search for yield dos investidores, um comportamento de busca por rentabilidade de investimento.

Esta procura de rentabilidade “poderá resultar em assunções excessivas de risco e sobrevalorizações dos ativos, as quais tenderão a ser corrigidas a prazo”, frisou o BdP. E poderá também “promover a deterioração dos critérios de concessão de crédito e o aumento do endividamento para níveis sustentáveis”.

As baixas taxas de juro têm pressionado a margem financeira dos bancos e, consequentemente, a sua rendibilidade. E, apesar de o BdP salientar que a rendibilidade do sistema bancário português ter aumentado nos primeiros seis meses de 2019, têm vindo a conceder mais crédito ao consumo a partir do terceiro trimestre deste ano, de forma a compensar a pressão na margem financeira.

No terceiro trimestre de 2019, houve um aumento do crédito ao consumo, registando-se assim “uma interrupção do abrandamento observado desde meados de 2018”, explicou o supervisor. “O aumento do crédito ao consumo expõe o sistema bancário a mutuários que tendem a apresentar uma maior vulnerabilidade a uma deterioração das condições do mercado de trabalho” e é mais arriscado que o crédito à habitação, que tem, usualmente, o imóvel como colateral, salientou o BdP.

Até setembro deste ano, o montante médio do crédito automóvel foi ligeiramente superior a 14 mil euros, com uma maturidade média pouco acima a sete anos, enquanto o crédito pessoal registou um montante médio de sete mil euros, com uma maturidade média de cerca de 4,5 anos.

“O aumento das maturidades no crédito automóvel e crédito pessoal pode constituir uma vulnerabilidade acrescida dos particulares, por implicar que exposições de crédito, potencialmente sem qualquer colateral associado ou associadas a ativos com menor liquidez e/ou com períodos de depreciação inferiores à maturidade do empréstimo, ficarão expostas a flutuações do ciclo económico por períodos mais longos”, frisou o BdP.

“Este efeito é relevante para o sistema bancário, dado o peso significativo das novas operações de crédito ao consumo em mutuários mais expostos a uma potencial deterioração das condições no mercado”, concluiu o supervisor.

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