A pandemia vai deixar marcas na capitalização das empresas, colocando desafios a empresas que já se encontravam em situações de vulnerabilidade antes. No final deste ano, algumas empresas na área do alojamento e restauração poderão encontrar-se descapitalizadas, com os sectores transportes e de atividades administrativas, de consultoria e serviços de apoio a também não escaparem incólumes ao impacto da crise provocada pela Covid.
A análise é do Banco de Portuga (BdP), que calcula que sem injeções de capital e distribuição de dividendos, cerca de 6% das empresas deverão chegar ao final deste ano com capitais próprios negativos.
“É inevitável que um choque com a magnitude do observado desde o início da pandemia afete negativamente uma parte significativa das empresas, não obstante o vasto conjunto de medidas de apoio implementadas. Algumas empresas encontravam-se já em situação de vulnerabilidade no final de 2019 e estas poderão ter sido particularmente afetadas”, assinala o “Boletim Económico de maio” do regulador bancário, publicado esta quarta-feira.
De acordo com a análise do BdP, a incidência de empresas com capitais próprios negativos com atividades de alojamento e restauração antes da pandemia, aliada à “gravidade” do choque que este sector viveu com a pandemia, levará a que empresas neste sector se devam encontrar descapitalizadas no final de 2021. O regulador assinala ainda que os sectores dos transportes e de atividades administrativas, de consultoria e serviços de apoio também sofreram choques significativos, sendo que a maior parte das empresas com situações financeiras frágeis antes da pandemia eram microempresas.
“Num cenário de ausência de distribuição de dividendos e de injeções de capital, estima-se que no final de 2021 cerca de 6% das empresas portuguesas possam registar capitais próprios negativos, o que representa um aumento de 2 pp face aos valores registados antes da pandemia”, pode ler-se no relatório.
O BdP estima que as empresas da indústria transformadora, construção e comércio, não devem verificar uma “deterioração material da situação líquida” no final deste ano face ao registado no final de 2019. No entanto, para as empresas de alojamento e restauração, estima um aumento de 10 pp face ao observado no final de 2020. Já no sector dos transportes o aumento poderá ser de 5 p.p. e para empresas de atividades administrativas, de consultoria e serviços de apoio estima-se um aumento de 2 p.p.
Segundo o modelo de cálculo do BdP para extrapolação, “apesar da magnitude dos choques que afetaram as empresas em 2020, verificou-se apenas um aumento de 1 p.p. na percentagem de empresas com capitais próprios negativos (de 4% para 5%)”. Esta fotografia leva o regulador a considerar que “apesar da diminuição da margem bruta, particularmente expressiva para empresas nos sectores mais afetados pela pandemia, alterações na estrutura de custos das empresas e o recurso a medidas de apoio terão contribuído para evitar um agravamento significativo do número de empresas com menores níveis de capitalização”.
A instituição liderada por Mário Centeno salienta que se efetuou também um ajustamento em termos de injeções de capital e de contenção na distribuição de resultados, calculando que sem estas injeções de capital – deduzidas da distribuição de dividendos-, a percentagem de empresas com capitais próprios negativos em 2020 seria 6%. No ano passado, o aumento das empresas com situação líquida negativa fez-se sentir mais no alojamento e restauração, com empresas nesta situação a aumentar de 4% em 2019 para 16% em 2020, enquanto as empresas de transportes e de atividades administrativas, de consultoria e serviços de apoio também registaram uma deterioração na capitalização de 2 p.p. em ambos os casos.
Ainda assim, o BdP chama a atenção de que o facto de uma empresa passar a registar capitais próprios negativos “não implica que a empresa entre em insolvência ou liquidação”, já que, “tal ocorrerá apenas num contexto em que a empresa não seja viável e não consiga reforçar os capitais próprios”. Ainda assim, alerta que “existe uma correlação positiva forte entre o rácio entre capital próprio e ativo e a sua probabilidade de incumprimento”, uma vez que quase metade das empresas que encerram atividade num determinado ano tinham capitais próprios negativos no ano anterior.
“Para as empresas viáveis será inevitável efetuar um esforço de capitalização. A acumulação de dívida não permite resolver os desequilíbrios financeiros, pelo contrário, tenderá a agravá-los, a menos que ocorra um aumento significativo da capacidade de geração de fluxos de caixa”, explica, salientando que “a poupança acumulada pelo sector privado durante a pandemia poderá contribuir para este reequilíbrio, bem como os apoios públicos direcionados a esta finalidade”.
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