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BE: da manha aos tachos na CMF

No Funchal, por exemplo, há uma coligação que leva ao colo este tipo de gente, mesmo depois do líder regional ter avisado que apenas faria parte dessa frente de esquerda e extrema esquerda apenas e só se lhe fossem garantidos lugares elegíveis na vereação, assembleia Municipal e empresas municipais!!.
12 Abril 2021, 07h15

Preparem-se meus amigos, e aqui dirijo-me à meia dúzia de almas pacientes que se dão ao trabalho de ler os meus artigos: vou elogiar o ex-primeiro-ministro José Sócrates!

E só consigo me lembrar de uma razão que me leve a cometer tal ato que normalmente se confundiria com um acesso loucura: o Bloco de Esquerda.

Um partido que considero o verdadeiro cancro do sistema político nacional. Ainda que aparentemente anestesiado por Costa, tenho para mim como potencialmente mais perigoso, nos dias que correm, por se ter tornado mainstream.

Como lembrava e bem Margarida Bentes Penedo, em artigo publicado a 30 de março, Francisco Louçã confunde-se com o próprio regime tal a multiplicidade de órgãos referência do Estado, público e privado, onde está inserido e manifesta a sua radical e manhosa opinião.

E é esse perfil “manhoso” que se afigurou extremamente relevante no crescimento e consolidação do Bloco de Esquerda, bebendo directamente da doutrina de Lenine, quando postulou que “um revolucionário deve, se for preciso, negar ou defender o contrário dos objetivos da revolução, desde que isso seja benéfico para a própria revolução”.

É sobre esta doutrina, mais do que qualquer outra, que tem navegado este partido nos seus infames 22 anos de história, ou lá o que é (esta parte, um portuguesíssimo “ou lá o que é “, serve para demonstrar o meu profundo desprezo por aquele projecto antidemocrático de arresto social).

Aqui entra José Sócrates, e o debate moderado por Judite de Sousa a 8 de setembro de 2009, prévio às legislativas desse ano.

Um debate que deveria constar dos anais dos confrontos políticos lusos, ao lado dos lendários Soares-Cunhal de Novembro de 1975, ou Soares-Freitas de 4 de Fevereiro (data curiosa,  se analisarmos algum do conteúdo debatido) de 1986.

Os protagonistas de 2009 são incomensuravelmente menores que os dos primórdios da III República, mas aquilo que foi debatido e, principalmente, o resultado do confronto, merecem maior dignificação daquele acto político-eleitoral, que pode ser (re)visto aqui https://videos.sapo.pt/9H8sCcObmHyT9zhtyPCD .

Ainda que tenha sido divertido, até mesmo profético, ouvir Sócrates alegar que “o meu governo é honesto”, a pleiteia vale, sobretudo, por aquele que talvez tenha sido o maior serviço prestado pelo então primeiro-ministro ao país, quando o alegado engenheiro infligiu um nocaute glorioso a Francisco Louçã, atirando o Bloco de Esquerda para uma longa travessia no deserto que só terminou em 2015. Altura em que observámos, estupefactos, a muito ingênuos e esquecidos eleitores do Centro e do Centro direita a votarem em fanáticos(as) trotskistas.

As armas de Sócrates, nesse dia, foram única e exclusivamente a leitura de parcelas (não truncadas) do programa eleitoral do BE. Aí podia-se perceber que o partido que 10 anos antes defendia nas ruas da baixa pombalina figuras cimeiras do terrorismo basco, era favorável à total nacionalização da banca, dos seguros e do sector energético. Imaginem se na década que se seguiu, até aos dias de hoje, tivéssemos de cobrir, não apenas os prejuízos da pública Caixa Geral, e dos nacionalizados BES/NB e BANIF (para só nos centramos na banca comercial) mas também os défices de exploração do BCP, BPI e tantos outros.

O filete estava guardado, porém, para o momento em que Sócrates lê, no programa do BE, que este partido defende a extinção de todo e qualquer benefício fiscal associado aos PPR, saúde e educação, o que atingiria que nem um raio, mais fulminante do que os que assolaram a Madeira a 27 de fevereiro, a já então depauperada classe média, inocente e desconhecedora do que as duas décadas seguintes lhes reservariam.

Louçã contra-argumentou que essas despesas, a serem retiradas do reembolso do IRS, iriam ter impacto essencialmente naqueles que recorrem exclusivamente aos serviços privados.

Já de si uma narrativa falaciosa, uma vez que boa parte da classe média, e mesmo da classe média-baixa, recorre ao privado, também por falta de resposta do serviço público, sendo compensada pelo sistema de reembolsos sociais e fiscais (que Louçã também criticou). Mas que direi eu, cujos meus filhos sempre andaram em escolas públicas, e que recorro em exclusivo ao serviço público de saúde, e que ainda assim tenho nas despesa de educação e saúde a fatia de leão do dinheiro que recebo de reembolso do IRS (e que já anseio por estes dias, deixem-me dizer)?

E os PPR, que nesse ano de 2009 tinham 415 mil famílias beneficiárias, impelidas que foram a subscrevê-los para gozarem de spreads mais baixos nos seus créditos à habitação? Que dizer ao intuito de extinguir os benefícios fiscais a estes associados? Não é uma loucura?

Até este vosso amigo, enquanto escreve estas linhas, foi conferir os PPR’s que teve de contratualizar, e percebeu que goza de uma já esquecida poupança que muito jeito lhe dará, um dia, com um juro associado de uns inimagináveis 3%(!!!). A classe média que o doutor Louçã e o seu partido dizem defender, alegando que só os mais ricos podem fazer planeamento fiscal associado à saúde, educação e PPR’s(!!!). Que outro produto financeiro tem essa mesma classe média ao seu dispor, que lhe garanta um rendimento de 3%, se não forem os tais PPR’s?

O pior de tudo isto é que a verdadeira matriz programática do BE é cuidadosamente escondida, como bem denunciou Sócrates nessa ocasião. Ao mesmo tempo que hipocritamente se coloca no papel de defensor das massas, anseia por implementar uma agenda político-económica que desgraçaria  o conforto do cidadão médio.

Enquanto mediaticamente tenta assumir a vanguarda no combate à corrupção e especulação, reserva para si própria o pior dos defeitos que sinaliza, como se viu no infame caso Robles, oportunamente denunciado por este Jornal em Julho de 2018.

É nesse jogo de sombras, nessa abordagem “manhosa” da vida pública, que chafurdam e prosperam o Dr. Louçã e o Bloco de Esquerda.

O episódio da semana passada, em que no seu comentário na SIC Notícias, o Dr. Louçã com a cumplicidade da direcção editorial daquela estação, transmitem um vídeo truncado, manipulado de uma intervenção da deputada municipal Aline Beauvink, em que esta recorre a um drama familiar para denunciar as atrocidades do comunismo Estalinista, não são mais do que a tentativa de, ridicularizando, branquear os crimes do regime soviético, utilizando os mesmíssimos meios que o sanguinário ditador aplicava, nomeadamente quando apagava fotografias.

Tachos na Câmara do Funchal 

No Funchal, por exemplo, há uma coligação que leva ao colo este tipo de gente, mesmo depois do líder regional ter avisado que apenas faria parte dessa frente de esquerda e extrema esquerda apenas e só se lhe fossem garantidos lugares elegíveis na vereação, assembleia Municipal e empresas municipais!!. Como já foi anunciado que fará parte da candidatura, e uma vez que as suas palavras não foram contestadas, pressupõe-se que as suas exigências foram atendidas, o que constitui um escândalo difícil de aceitar. Não há sequer decência, decoro. Temos neste caso a demonstração inequívoca que a primeira prioridade da elaboração desta coligação a obtenção de tachos para amigos. Voltarei ao tema.

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