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Joe Berardo sobre CPI da Caixa: “Para mim tanto faz ir ao Parlamento”

Empresário madeirense é apontado como um dos maiores devedores do banco público com créditos de 350 milhões de euros que acabaram por se revelar ruinosos. Vai hoje à nova comissão de inquérito à Caixa dar as suas explicações numa audição que, diz, “tanto me faz” ainda que considere que possa ser “uma maneira de esclarecer a verdade”.
10 Maio 2019, 10h21

Os deputados da  II Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à Recapitalização da Caixa Geral de Depósitos (CGD) e à Gestão do Banco vão ouvir nesta sexta-feira, 10 de maio, o empresário Joe Berardo que é apontado como um dos maiores devedores do banco público com créditos ruinosos de 350 milhões de euros no relatório de auditoria da EY à gestão da Caixa entre 2000 e 2015, que concluiu por perdas de 1.647 milhões de euros em 186 operações de crédito.

“Para mim tanto faz ir ao Parlamento. Eles [deputados] têm interesse e eu vou lá. Pode ser uma maneira de esclarecer a verdade do meu relacionamento com bancos e não só a CGD”, afirmou ao Jornal Económico Joe Berardo quando questionado sobre a expectativa  do empresário quanto à audição desta sexta-feira na nova CPI à Caixa.

Segundo auditoria da EY, foi sob a liderança de Carlos Santos Ferreira – e de Fernando Faria de Oliveira, tendo sido ambos  já ouvidos no Parlamento –  que a Caixa cedeu mais empréstimos perante pareceres desfavoráveis da análise de risco ou mesmo sem ter em mãos a posição da Direção de Risco do banco estatal.

No caso dos créditos a Berardo, a EY avança no relatório que as acções do BCP foram vendidas com uma desvalorização acentuada e não foi encontrada prova da existência do aval pessoal de 37,8 milhões de euros para garantir dívidas da Fundação, contraídas durante a gestão de Carlos Santos Ferreira. Na semana passada, o ex-presidente da CGD, Faria de Oliveira, garantiu, no entanto, que a obtenção de aval pessoal de Berardo, após crédito entrar em incumprimento, representava a “honra e a imagem” de quem o dá, mas o banco acabou por não executar logo quando voltou a falhar.

Foi durante a liderança de Santos Ferreira, entre 2005 e 2008,  foram aprovadas as operações que mais prejuízos deram ao banco, desde o financiamento a Vale do Lobo (onde a Caixa emprestou e era também accionista), ao investimento na Artland dos espanhóis da La Seda e até o financiamento para compra de ações do BCP por parte de Joe Berardo  que pediu à Caixa 350 milhões de euros, num crédito que anos mais tarde revelou-se ruinoso para o banco público com o empresário madeirense a constar na auditoria da EY como um dos maiores devedores através de operações da Fundação Berardo e da sua holding Metalgest.

Segundo a auditoria da EY, os créditos à Fundação Berardo que ainda totalizavam 267,6 milhões de euros em dezembro de 2015 geraram imparidades de 124,4 milhões de euros. Para além da Fundação Berardo a CGD também emprestou a uma sociedade de Berardo, chamada Metalgest, e também aqui foram constituídas imparidades. A Metalgest devia ao banco a 31 de dezembro de 2015 um total de 52,5 milhões e tinha 53% de imparidades (27,56 milhões).

Na audição da CPI à Caixa, na semana passada, o antigo presidente da CGD rejeitou que esses empréstimos tenham sido concedidos para financiar o “assalto ao BCP”, assegurando também que Berardo nunca teve um tratamento especial ainda que tenha reconhecido que foram ruinosas as operações como o projeto Vale de Lobo e os créditos para compra de ações do BCP. Aos deputados, Carlos Santos Ferreira negou ter aprovado empréstimos por favor e garantiu que nunca tomou decisões ao arrepio das regras então em vigo e afirmou que holding de Berardo tinha ativos para pagar a dívida à CGD, justificando não ter havido discordância entre a aprovação e a apreciação do departamento de risco.

Na analise à concessão inicial dos financiamentos, a EY analisou ainda um total de 170 operações que exigiam a existência de um parecer técnico para que pudesse ser aprovada e concluiu pela existência de várias que não cumprem com as normas. Segundo a auditoria, 15 operações não obtiveram qualquer parecer de análise de risco, mas acabaram por ter seguimento, sem que a administração apresentasse qualquer justificação para dar um aval sem parecer de risco. Resultado: originaram perdas de 86 milhões de euros para CGD, tendo  cinco sido aprovadas por Carlos Santos Ferreira, presidente da Caixa entre 2005 e 2008, e outras cinco por António de Sousa, que presidiu ao banco público entre 2000 e 2004.

 

Top 25 dos créditos mais ruinosos resultaram em perdas de 1.263 milhões

Segundo a auditoria da EY no ‘Top 25’ dos créditos mais ruinosos, num total de 1.263 milhões de euros, foi entre 2000 e 2007 que se concentraram 78% destas operações: 871 milhões de euros de perdas registadas em 2015, referentes ao período em que a administração de  Carlos Santos Ferreira (entre 2005 e 2008) é apontada com maior concentração de créditos ruinosos, como à Artlant, a Joe Berardo e ao empreendimento Vale do Lobo.

Da nova lista das personalidades a ser ouvidas no Parlamento foram agendadas as audições de cinco clientes do banco público: os empresários Joe Berardo e Manuel Fino. E também os devedores da CGD Manuel Matos Gil (Artlant/La Seda), Diogo Gaspar Ferreira (Vale do Lobo) e Joaquim Barroca (grupo Lena).

O antigo primeiro-ministro, José Sócrates, será o último a ser ouvido, em meados de Junho, numa lista a que se juntam outros políticos como o antigo ministro das Finanças Teixeira dos Santos, três antigos directores de supervisão do Banco de Portugal e ainda nove antigos administradores do banco público, entre o quais, Armando Vara, Almerindo Marques, Francisco Bandeira, Norberto Rosa e Celeste Cardona.

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