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Perfil. Berlusconi, o prelúdio do reaparecimento da direita à direita dos conservadores

O antigo primeiro-ministro italiano foi, neste quadro político, um dos mais bem sucedidos políticos da Europa – tendo servido também como ‘rampa de lançamento’ para dirigentes como Donald Trump – cuja biografia tem muitos pontos em comum.
12 Junho 2023, 12h16

Personalidade incontornável da política italiana, Silvio Berlusconi foi o prelúdio do reaparecimento da direita à direita dos conservadores que tinham tomado o poder em vários países europeus a seguir à II Grande Guerra. O magnata dos media e do futebol, entre outros sectores, foi o primeiro de uma entretanto já longa série de personalidades de direita e de extrema-direita que fizeram a rutura ideológica com os conservadores e em várias circunstâncias lhes tomaram o lugar. Uma nova direita que fez a ponte entre conservadores e extremistas – que, no caso de Itália, está bem exposta no atual elenco executivo.

Silvio Berlusconi foi, neste quadro político, um dos mais bem sucedidos políticos da Europa – tendo servido também como ‘rampa de lançamento’ para dirigentes como Donald Trump – cuja biografia tem muitos pontos em comum.

Berlusconi trilhou sempre a difícil linha entre o extremismo e um certo tipo de niilismo – só assim se compreendendo que, ao mesmo tempo que tinha uma vida política e empresarial, não se importasse em ter uma ‘terceira via’, a predileta dos jornais – onde as notícias eram as festas que patrocinava e os enredos que a partir de la se criavam. Jovens personalidades femininas, algumas delas estrangeiras – vindas por exemplo de Marrocos – surgiram no dia-a-dia dos italianos e passaram a fazer parte do léxico mas também do anedotário do país. Na sequência desses escândalos mais ou menos cor-de-rosa, a morte política de Silvio Berlusconi foi repetidamente anunciada e repetidamente desmentida pela realidade. Claro que Berlusconi ‘desceu de divisão’: há muito que sabia que não voltaria a ser primeiro-ministro e alguém mais atento conseguiu convencê-lo de que uma corrida à presidência nunca poderia ser-lhe favorável, mas o certo é que o seu partido, o Força Itália, conseguiu manter-se à tona das correntes muito movediças da política interna italiana – e no meio das marés de que resultaram tantos desaparecidos por afogamento, o velho senhor conseguiu manter-se a boiar.

Incapaz de se furtar a um bom escândalo, Berlusconi há muito quer deixou para trás o ´politicamente correto’, o que de algum modo marcou um outro tipo de política na Europa. A mesma Europa que, depois de 2011, começou a ficar nervosa sempre que Berlusconi (ou os italianos) ameaçava regressar ao topo da hierarquia do Estado. Quando em 2022 anunciou que se candidataria à presidência (lugar que de qualquer maneira tem menos impacto que o de chefe do governo), a União Europeia ficou estarrecida. E descansou quando o velho senhor desistiu.

Na sequência dessa desistência, e quando todos esperavam que a sua figura iria finalmente apagar-se, as eleições parlamentares do ano passado mostraram que mais de 2,7 milhões de italianos ainda tinham confiança em Berlusconi. Os Irmãos de Itália, que ganharam as eleições com mais de 7,3 milhões de votos perceberam que ainda não tinha chegado a hora de abrir mão da influência de Berlusconi.

Há muito que os analistas dizem que o Força Itália não sobreviverá ao desaparecimento da sua ‘alma mater’. No quadro político atual, isso é claramente verdade: com a extrema-direita a ‘cavalgar’ uma posição que até há poucos anos parecia impossível, as propostas da Força Itália (uma espécie de partido moderado entre os radicais extremistas) tornar-se-ão com certeza redundantes.

Mas, para todos os efeitos, Silvio Berlusconi é o mais importante político italiano do final do século passado e do início do novo milénio.

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