O filósofo Bernard-Henri Lévy, que vem a Lisboa a 6 de maio para apresentar o seu monólogo “Looking for Europe”, com a qual pretende travar o avanço das forças populistas nas eleições para o Parlamento Europeu, falou com o Jornal Económico acerca do que se passa num continente em que Portugal é um dos poucos oásis que vislumbra. Mas também de outras tendências que o preocupam.
Está presente nas redes sociais. O que pensa delas?
Estou nas redes sociais porque não posso fazer outra coisa. Existem e fazem parte do arsenal de que uma pessoa com convicções pode tirar partido.
Muitas pessoas acreditam que as redes embrutecem o discurso público.
Não necessariamente. Podemos dizer coisas inteligentes em 140 caracteres. Os japoneses praticam a arte do haiku. O problema das redes sociais é que todas as palavras têm o mesmo valor. Confundimos o direito de todos a exprimirem-se com revisionismo. Existe a ideia de que a palavra de um criminoso tem o mesmo valor da palavra de uma vítima, que a palavra de um nazi tem o mesmo valor que a palavra de um antinazi, que a palavra de alguém que passou toda a vida a refletir sobre um assunto tem o mesmo valor do que a palavra de alguém que nunca o fez. Isso é que me perturba nas redes sociais: a equivalência entre todas as palavras.
Imagina-se com 18 anos se já existissem redes sociais?
Teria menos memórias do que aquelas que tenho. Outro dos problemas das redes sociais – e explico-o em “Looking for Europe” – é que metem as nossas memórias num “offshore”. A memória é retirada da cabeça, é colocada aqui dentro e fica no bolso [enquanto o diz, retira do bolso o telemóvel], e chegará o dia em que ficaremos como aquele religioso francês São Dionísio, do século III, que foi decapitado mas continuava a subir a colina com a cabeça nos braços. Em vez de carregarmos a cabeça nos braços teremos a memórias nos bolsos. Se tivesse redes sociais aos 18 anos teria menos memórias, mas talvez soubesse mais coisas. A vantagem das redes sociais é o acesso ao conhecimento.
Muitos jovens preferem os emojis às palavras. É possível filosofar com emojis?
Não.
Trata-se de um regresso aos hieróglifos?
Os hieróglifos eram uma escrita de sábios. É, em vez disso, o regresso a uma linguagem desarticulada, simplificada ao extremo. Talvez me engane, talvez chegue o momento em que faremos frases tão complexas, tão poéticas e tão enigmáticas com emojis do que com as palavras. Mas duvido.
É preciso educar quem os utiliza?
É sobretudo preciso tentar convencê-los da maravilha que é escrever, a que ponto alguém que escreve vê o mundo de forma diferente.
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