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BMW cria em Lisboa a inteligência dos seus futuros carros

Massimo Senatore, o novo diretor-geral da BMW Portugal, em entrevista ao Jornal Económico, diz que o seu grupo acredita no mercado português e provou-o investindo numa unidade de alta tecnologia estratégica para o futuro dos seus carros.
20 Março 2019, 07h43

A BMW “escolheu Portugal para criar a inteligência dos seus carros futuros em Lisboa”, na recém inaugurada Critical TechWorks – a parceria entre a BMW e a Critical Software –, onde dispõe de um dos melhores grupos de engenharia de topo para desenvolver novas soluções tecnológicas para todo o mundo. Massimo Senatore, o novo diretor-geral da BMW Portugal, diz que “este novo investimento concretiza uma decisão estratégica muito importante para o grupo automóvel alemão, e mostra de forma inequívoca que a BMW acredita no mercado português”.

Recentemente nomeado para liderar a BMW em Portugal, Massimo Senatore foi viver para Cascais com a sua família – a mulher e quatro filhos. O clima, a luminosidade de Lisboa, a gastronomia, a diversidade geográfica e as praias perto da capital portuguesa são “argumentos que facilitam a fixação dos gestores estrangeiros no mercado português”, segundo refere o gestor oriundo do norte da Itália.

Cristina Bernardo

“Quero ficar aqui para o resto da minha vida. Portugal é um dos melhores países do mundo”, diz Massimo Senatore explicando que o seu comentário não é um cliché de marketing para satisfazer os portugueses. “Quase todos os quadros estrangeiros que vieram recentemente trabalhar para Portugal, sobretudo os alemães que estão no sector automóvel, confirmam o que estou a dizer”, comenta. “Para que tudo seja perfeito, só me falta decidir em que escola ou colégio vou matricular os meus filhos, porque isso não é uma tarefa fácil, atendendo a que nos últimos meses muitas famílias estrangeiras vieram trabalhar para Lisboa e os colégios internacionais ficaram com muito poucas vagas disponíveis”.

Massimo Senatore ficará a dirigir a BMW Portugal durante cinco anos – um período de três anos, prolongado por mais dois –, durante o qual pretende “prosseguir a história de sucesso da BMW no mercado português”, onde a quota de mercado da marca alemã, em 2018, “foi de 34,1% no segmento Premium, o que significa que em Portugal, no segmento Premium, mais do que um carro em cada três é um BMW”.

O mais importante é “implementar o plano estratégico do grupo BMW, que pretende prosseguir depressa na eletrificação”, diz. Em 2018 a BMW “vendeu 1800 modelos eletrificados, onde se destacam os plug in híbridos, além dos Veículos Elétricos, o que traduz um aumento de 60% face a 2017”, refere o gestor.

Cristina Bernardo

“Em Portugal as pessoas gostam dos modelos da BMW, o que significa que temos a estratégia certa para o mercado português”, considera. “O conjunto dos modelos da BMW é adequado ao perfil do consumidor português”, refere, adiantando que “em 2019 lançaremos o série 3 plug in híbrido, mais a quarta geração do série 5, os novos série 2 e série 7, e o novo X5, passando a ter versões plug in na quase totalidade de todas as séries, mas também lançaremos o Mini elétrico e, no final de 2020, o X3 elétrico”, detalha o gestor. “Daqui a dois anos, no final de 2020, teremos em quase todas as gamas veículos com motores a combustão – gasolina e gasóleo -, plug in e elétricos com autonomias de 400 quilómetros”, refere Massimo Senatore, explicando ainda que “o X3 será um modelo em que teremos todas as motorizações”.

O diretor-geral da BMW Portugal refere que a sua marca continuará muito “focada no cliente – seguindo a designada “costumer centric approach” -, para manter a posição conquistada internacionalmente pela marca no segmento Premium. “As gamas da BMW têm as posições mais fortes a nível mundial”, refere, considerando que este posicionamento será mantido com os acordos que sejam necessários. Por exemplo, para a condução autónoma, a BMW tem uma parceria com a Daimler. O mesmo será feito para outras áreas, como op car sharing, onde a BMW pretende ser muito forte. A própria estratégia para o desenvolvimento tecnológico e para a produção de carros vai nesta direção, comenta o gestor, considerando que a joint-venture que a BMW concretizou com a Critical no mercado português é um exemplo desse rumo.

Sobre Portugal – que é um país onde a população aufere salários médios reduzidos –, o gestor admite que não é fácil explicar o sucesso do segmento premium. “Também é estranho para mim, atendendo ao que se passa em Itália. Venho de um mercado em que o segmento premium tem um peso de 11% no mercado total e em Porrtugal o mesmo segmento premium pesa cerca de 20%”, refere.

Este fenómeno português – um país de salários baixos onde os automóveis de topo têm grande sucesso nas vendas – tem a ver com as frotas das empresas, o que permitem que muitos clientes entrem no segmento premium, mas também se relaciona com a procura elevada dos contratos de renting, que optam pelas marcas premium porque o valor residual deste veículos é maior e permitem recuperar mais dinheiro na revenda, explicam os especialistas da BMW em Portugal.

Assim, a BMW mantém uma forte competição com a Mercedes, que lidera o segmento Premium. Em 2018, a Mercedes ocupou o terceiro lugar nas vendas de veículos ligeiros de passageiros (com 16.464 unidades vendidas, segundo dados da ACAP – Associação Automóvel de Portugal) e a BMW ficou em sexto lugal (com 13.813 unidades vendidas).

Nas vendas do sector automóvel, o sistema fiscal é crucial, deste a tributação da venda de veículos novos, aos impostos anuais pela circulação, que determinam as decisões dos compradores. A dimensão do mercado de frotas também é muito importante. A conjugação destes dois vectores orienta muitas compras para os segmentos com maior valor residual, onde se perde menos dinheiro nas retomas, o que faz aumentar a importância das marcas Premium. Para este perfil de comprador e com estas caraterísticas de mercado, a BMW considera que os modelos que vai lançar nos próximos meses respondem à procura do mercado automóvel português, designadamente o novo série 3 plug in, o novo Z4, o X7, o novo 7, e o X5. “O nosso plano é aumentar a performance local”, diz Massimo Senatore considerando que “a BMW vai dar um grande passo em frente em Portugal”.

A nível internacional, “a BMW quer ser um fornecedor de serviços de mobilidade no futuro”, diz o gestor. Essa é uma estratégia de longo prazo. “Em 2018 tivemos o oitavo ano consecutivo de crescimento mundial de vendas e essa é a razão pela qual temos 103 anos de vida com uma história de sucesso”, diz Massimo Senatore. Por grandes mercados, “a China é um dos principais mercados para o série 7 e os EUA são o melhor mercado para os SUV. Temos os carros adequados a cada mercado”, refere.

Cristina Bernardo

Relativamente a Portugal, Massimo Senatore destaca a importância do novo investimento com a Critical Software. “É uma mensagem que a BMW está a investir na tecnologia. No futuro o carro tem de ter maior interação com o condutor, na condução autónoma, o que exige mais software, mais tecnologia, para termos o que o consumidor está à espera. Teremos um o escritório dentro do carro. Para alcançar tudo isso a BMW acredita em Portugal. Temos trazido muitos lançamentos comerciais de novos modelos para Portugal, mas agora vamos empregar 600 pessoas especialistas em tecnologia para fabricarmos em Lisboa a inteligência que queremos ter no futuro próximo dentro dos nossos carros”, comenta Massimo Senatore.

Entre os principais projetos que a BMW está a desenvolver em Lisboa em associação com a Critical Software encontra-se o “MAESTRO”, que é uma plataforma integrada de planeamento, gestão e previsão de custos, relacionados com a aquisição e com a modificação de equipamentos necessários ao fabrico de um novo modelo de um veículo, nas linhas de montagem da BMW.

Este projeto “MAESTRO” servirá vários grupos de utilizadores de diversas áreas de desenvolvimento para poderem estimar os custos relacionados com a sua área. Mas também será uma potente ferramenta de suporte à decisão, pois será através dela que utilizadores com poder de decisão terão uma perceção clara do impacto financeiro que o fabrico de um novo modelo acarreta.

Desta forma, o projeto “MAESTRO” desempenhará um papel fundamental numa fase embrionária do ciclo de vida do desenvolvimento de um veículo, pois é nesta plataforma que assentará a decisão de avançar, ou não, com o fabrico de um novo modelo.

Outro projeto, o “ATS –  Autonomous Transportation Services”, destina-se ao desenvolvimento de software para fazer a monitorização e gestão de toda a frota de robôs autónomos que fazem a entrega das peças e materiais nas linhas de montagem dos carros. Com este projeto a BMW pretende mudar a forma como a logística funciona, pois o resultado pretendido é conseguir entregar os materiais de forma mais segura, mais eficaz, com mais qualidade e no tempo exato.

Outro projeto: o “SPRINT”. Trata-se do novo sistema de gestão do portofólio da BMW, onde é feita toda a manutenção de produtos e preços. Este sistema suporta os sistemas de configuração de veículos online, de faturação, de vendas, entre outros. Cabe à equipa de “System Integration & Testing” assegurar a qualidade das entregas diárias de software. Assim, reporta problemas e dá um rápido feedback às equipas de desenvolvimento, sendo também responsável por assegurar o correto funcionamento do sistema, bem como automatizar processos de teste.

O “Infotainment” – que desenvolve produtos de entretenimento para o veículo automóvel – dispõe de duas equipas que trabalham esta área e que desenvolvem produtos capazes de fornecer informação diversificada, como o estado do tempo ou notícias personalizadas, integrando igualmente serviços externos de música no carro.

A BMW também quer trabalhar no desenvolvimento de uma plataforma de vendas ao nível do retalho, que permite configurar, gerar ofertas e contratos incluindo a respetiva impressão, para todos os mercados, produtos e serviços da marca alemã.

Finalmente, o “BMW Intelligent Personal Assistant” é criado para ser a alma de cada BMW. Trata-se de um assistente digital com caráter inteligente e que o condutor a usufruir ao máximo da sua experiência de condução de um BMW. Com recurso a metodologias ágeis de desenvolvimento de software, a missão da nova unidade de Lisboa da Critical TechWorks é tornar este assistente ainda mais proativo e totalmente adaptado à experiência individual de cada condutor.

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