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Boicote a produtos dos EUA cresce na Europa e no Canadá em resposta a políticas tarifárias de Trump

Os produtos norte-americanos têm sido alvo de boicote em vários países europeus e até mesmo no Canadá. As políticas tarifárias e a questão da Gronelândia explicam esta postura dos consumidores. As viagens para os Estados Unidos têm também registado quebras.
Gronelândia
11 Abril 2025, 19h16

Os produtos norte-americanos têm sido alvo de boicote em vários países europeus e até mesmo no Canadá. A política tarifária seguida pelos Estados Unidos tem sido um dos fatores que explicam o afastamento dos consumidores. No caso da Dinamarca, a posição norte-americana sobre a Gronelândia tem levado a protestos dos consumidores, que procuram alternativas nos produtos europeus.

O presidente norte-americano, Donald Trump, já expressou várias vezes a sua intenção de “tomar conta” da Gronelândia, um território autónomo da Dinamarca, alegando que tal se deve a motivos de segurança nacional. No entanto, essas intenções não têm sido bem recebidas na Gronelândia ou na Dinamarca, refletindo-se nos consumidores que já manifestaram intenção de evitar produtos norte-americanos em favor dos produtos europeus.

Politicamente, a questão da Gronelândia tem escalado recentemente, com visitas de delegações norte-americanas ao território. Uma das mais recentes ocorreu em março, quando a Gronelândia recebeu uma delegação da administração Trump, composta, entre outros, pelo conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Mike Waltz, e pela mulher do vice-presidente, JD Vance, Usha Vance. O chefe do governo autónomo, Mute Egede, reagiu à visita, sublinhando que a integridade e a democracia da Gronelândia “devem ser respeitadas sem qualquer interferência externa”. A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, considerou a visita norte-americana como uma “pressão inaceitável”.

O novo primeiro-ministro da Gronelândia, Jens-Frederik Nielsen, que tomou posse em março, também deixou claro que rejeita qualquer tipo de anexação da Gronelândia pelos Estados Unidos, afirmando que o território “não pertence a ninguém” e que são os habitantes que “decidem” o seu próprio futuro.

Os consumidores dinamarqueses têm evitado produtos norte-americanos como forma de protesto contra Trump. Um trabalhador dinamarquês da Føtex, uma rede de supermercados, comentou que “é a única forma dos consumidores fazerem um pequeno protesto”. O Salling Group, que detém a Føtex e outros supermercados, colocou um asterisco em todos os preços de produtos feitos na Europa, permitindo que os consumidores distinguissem os produtos europeus dos norte-americanos. O grupo possui 1.700 lojas na Dinamarca, Alemanha e Polónia.

Um porta-voz do Salling Group afirmou que esta medida não se relaciona com um “boicote”, mas sim com pedidos dos consumidores para uma “clara informação sobre produtos de propriedade europeia”. Vários consumidores expressaram preferência pelos produtos europeus, citando tanto o “conflito” relacionado à Gronelândia quanto a perceção de que os critérios de qualidade europeus são superiores. Um consumidor, Sanja, afirmou que prefere produtos feitos na Europa, enquanto Eva disse que “evitaria” produtos norte-americanos e sugeriu que os Estados Unidos “precisam de um novo presidente”.

O boicote a produtos dos Estados Unidos está a estender-se por vários países europeus e já chegou ao Canadá, com movimentos a usarem a hashtag #BoycottUSA nas redes sociais. Marcas norte-americanas, como Starbucks, McDonald’s, Coca-Cola e Tesla, já estão a sentir os efeitos desses movimentos. No caso da Tesla, a marca de automóveis elétricos fundada por Elon Musk, as vendas em Portugal registaram uma queda de 25%.

Entretanto, alguns acreditam que esses boicotes podem ser de curta duração. Jens Lund, CEO da DSV, uma empresa de logística dinamarquesa, afirmou que os consumidores também fazem escolhas “pelo preço mais barato” e pelo “melhor valor”. Lourdes, outra consumidora, disse que, mesmo que o produto seja europeu, se tiver um preço “mais elevado”, optará pela “opção mais barata”.

Além disso, a Air Canada viu as reservas para cidades norte-americanas caírem 10% entre abril e setembro, em comparação com o ano passado. O operador de viagens OAG reportou que as reservas de voos entre Canadá e Estados Unidos estão a registar quebras de 70%. A Europa também está a ser afetada, com Sebastien Bazin, CEO da Accor, a referir que as reservas da Europa para os Estados Unidos para o verão estão a cair 25%.

A 2 de abril, o presidente norte-americano anunciou a aplicação de tarifas a vários parceiros comerciais. Para a União Europeia, foi proposta uma tarifa de 25%, e para a China, de 35%. No entanto, Trump decidiu adiar as tarifas por um período de 90 dias, com exceção da China, colocando as tarifas norte-americanas em 10%.

A guerra de tarifas entre os Estados Unidos e a China tem estado intensa, com tarifas, em ambos os países, já ultrapassando os 100%. Atualmente, as tarifas entre China e Estados Unidos estão em 125%, enquanto as tarifas dos Estados Unidos para a China atingem 145%.

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