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Bolsonaro nos Estados Unidos para fortalecer diálogo norte-sul

As relações entre os dois países estão numa fase de profundo entendimento – nomeadamente no que tem a ver com a Venezuela. E com Cuba. Entretanto, Bolsonaro jantou com Steve Bannon, o homem que quer fazer renascer a extrema-direita.
19 Março 2019, 07h47

O presidente brasileiro Jair Bolsonaro encontra-se esta terça-feira com o seu homólogo norte-americano – apesar de se encontrar nos Estados Unidos desde domingo passado – para aprofundar o diálogo norte-sul num quadro, bem pouco usual, de entendimento entre os dois governos.

Fortalecer os laços económicos e militares entre os dois países e investir numa resposta conjunta aos avatares internacionais são temas que fazem parte da agenda comum – onde ganha realce, como não podia deixar de ser, a questão da Venezuela.

Tradicional apoiante do regime chavista, o Brasil de Bolsonaro passou de armas e bagagens para o lado oposto da barricada e, tanto pelo que disse como pelo que fez no auge da crise fronteiriça, o governo de Bolsonaro está totalmente alinhado com os Estados Unidos na questão da resposta à evolução dos acontecimentos na Venezuela.

Cuba é outro dossiê que junta as vontades de Bolsonaro e de Trump – que entendem chegada a hora de fechar o capítulo do bom-entendimento com o regime castrista, que o anterior presidente norte-americano, Barack Obama, patrocinou.

Esta é a primeira viagem oficial de Bolsonaro ao exterior desde que assumiu o poder em 1 de janeiro passado, embora a sua estreia internacional tenha sido o Fórum de Davos, realizado na Suíça naquele mesmo mês.

”Pela primeira vez em muito tempo, um presidente brasileiro que não é antiamericano chega a Washington. É o começo de uma aliança pela liberdade e prosperidade, como os brasileiros sempre quiseram”, disse Bolsonaro no Twitter – o campo das relações diplomáticas que Trump mais gosta de usar.

Bolsonaro viajou acompanhado de seis ministros, entre eles o ministro dos Negócios Estrangeiros, Ernesto Araújo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o ministro da Justiça e Segurança, Sérgio Moro. A numerosa comitiva permite atestar a importância que Bolsonaro concede a esta viagem – para se encontrar com Trump, que não demorou mais que um instante a felicitá-lo quando ganhou a segunda volta das presidenciais brasileiras.

Para além dos ministros, o filho do presidente e deputado federal Eduardo Bolsonaro – normalmente ativo na articulação com representantes da ‘movida’ mundial neoconservadora – já estava nos Estados Unidos.

Além de uma reunião com Trump esta terça-feira no Salão Oval, Bolsonaro vai aproveitar a sua estadia na capital dos Estados Unidos para se reunir com o Secretário-Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro – mais um alinhado contra a Venzuela – e participar em vários fóruns sobre as oportunidades que se abrem na economia brasileira, na tentativa de chamar capital de investimento ao país da América do Sul.

Segundo a imprensa brasileira, no passado domingo Bolsonaro participou num jantar na residência do embaixador brasileiro em Washington, para o qual foram convidados Steve Bannon, o controverso ex-assessor do presidente dos Estados Unidos e uma espécie de líder mundial da extrema-direita, e o ensaísta brasileiro residente nos Estados Unidos Olavo de Carvalho, considerado o guru de Bolsonaro.

Walter Russell Mead, colunista do The Wall Street Journal, Matt Schlapp, presidente da União Conservadora Americana, Chris Buskirk, editor do portal Grandeza Americana, entre outros, também terão estado no jantar.

No domingo à tarde cerca de 50 pessoas reuniram-se em frente à Casa Branca para protestarem contra o presidente brasileiro, exibindo faixas onde se liam as frase ‘Bolsonaro assassino’ e ‘Liberdade para Lula’, referindo-se ao presidente esquerdista (2003-2010) condenado a 12 anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Na passada quinta-feira, Bolsonaro anunciou que, durante a sua visita, será assinado um acordo de salvaguarda tecnológica que permitirá o uso da base de Alcántara (norte do Brasil) para o lançamento de foguetes norte-americanos. Será um acordo “muito importante; estamos perdendo muito dinheiro nessa região. Poderíamos estar lançando satélites de todo o mundo”, disse Bolsonaroi.

Após os Estados Unidos, Bolsonaro visitará o Chile e, no final do mês, Israel, naquilo que os comentadores consideram um sinal claro da sua tentativa de abordar governos considerados comprometidos com as suas opções ideológicas conservadoras e economicamente liberais. A presença de Bannon já está, por isso, a fazer efeito.

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